Arritmia

Cardiodesfibrilador Implantável Subcutâneo é uma Boa Opção?

Escrito por Pedro Veronese

Esta publicação também está disponível em: Português

O cardiodesfibrilador implantável (CDI) reduz a incidência de morte súbita cardíaca (MSC) por arritmias ventriculares, principalmente em pacientes com miocardiopatia isquêmica e recuperados de parada cardiorrespiratória.

O avanço dos dispositivos eletrônicos implantáveis tem reduzido as terapias inapropriadas, porém não é desprezível a incidência de complicações relacionadas aos cabos-eletrodos do CDI transvenoso (CDI-TV), como: endocardite, pneumotórax, rutura do ventrículo, desposicionamento e fratura.

Sendo os cabos-eletrodos o calcanhar de Aquiles dos CDI-TV, desenvolveu-se o CDI subcutâneo (CDI-S) para tentar eliminar essas complicações. São dispositivos implantados no subcutâneo e sem cabos-eletrodos, porém não podem ser utilizados em pacientes dependentes de pacing. Seriam eles uma boa opção?

Para tentar responder essa pergunta um recente estudo acaba de ser publicado, JACC Vol. 68. November 8, 2016: 2047-55. Ele compara as duas estratégias: CDI-TV vs CDI-S implantados em dois grandes hospitais holandeses. Os pacientes foram pareados para 16 características de forma que pudessem ser comparados satisfatoriamente (idade, sexo, diagnóstico da miocardiopatia, peso, altura, duração do QRS, hipertensão arterial sistêmica, infarto prévio, diabetes mélito, revascularização prévia, classe funcional, fração de ejeção, prevençao primária, entre outros).

Foram consideradas complicações todas as disfunções do dispositivo eletrônico implantável que necessitaram de intervenção cirúrgica para sua correção. Complicações relacionadas aos cabos-eletrodos foram as que necessitaram de reposicionamento ou troca dos mesmos.

Após os pareamento das variáveis foram avaliados, de forma retrospectiva, 140 pacientes em cada grupo, com follow-up de 5 anos. As taxas de complicações entre os grupos foram semelhantes: 13,7% no grupo CDI-S vs 18% no grupo CDI-TV (p=0,80), porém com características diferentes, pois os pacientes do grupo CDI-TV apresentaram mais complicações relacionadas aos cabos-eletrodos: 0,8% vs 11,5% (p=0,03), sendo as complicações não relacionadas aos cabos-eletrodos mais frequentes no grupo CDI-S: 9,9% vs 2,2% (p=0,047). Não houve diferença nas taxas de infecções entre os grupos 4,1% vs 3,6% (p=0,36). O grupo CDI-TV foi melhor em relação as terapias apropriadas (ATP + choques – p=0,01), porém a incidência de choques apropriado e inapropriados foi similar entre os grupos.

Concluímos que as complicações foram iguais entre os grupos, mas de naturezas diferentes. Como era de se esperar, o grupo CDI-S teve menos complicações relacionadas aos cabos-eletrodos, mas com mais complicações não relacionadas aos cabos-eletrodos, como por exemplo: sensing inapropriado. As taxas de choques apropriados e inapropriados foram similares entre os grupos. Desta forma, ainda são necessários mais avanços nesta nova tecnologia para que ela se torne superior aos CDI-TV tradicionais.

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Sobre o autor

Pedro Veronese

Médico Especialista em Clínica Médica pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
Cardiologista, Arritmologista e Eletrofisiologista pelo InCor-HCFMUSP.
Médico Especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia - SBC.
Médico Especialista em Arritmia Clínica e Eletrofisiologia pela Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas - SOBRAC.
Médico do Centro de Arritmias Cardíacas do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Doutor em Cardiologia pelo InCor - HCFMUSP.
Preceptor da Residência de Clínica Médica do Hospital Estadual de Sapopemba e Hospital Estadual Vila Alpina.
Médico Chefe de Plantão do Pronto Socorro Central da Santa Casa de São Paulo.
Professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Professor da Faculdade de Medicina UNINOVE.

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