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A dissecção coronariana espontânea é uma causa rara e potencialmente fatal de síndrome coronariana aguda.
Sua prevalência é de 0,1 a 1,1% dos pacientes submetidos à cineangiocoronariografia.
Mulheres são acometidas em 70% dos casos, principalmente entre a quarta e quinta década de vida. A mortalidade é de aproximadamente 50%.
Pode ocorrer em mulheres em final de gestação e início de puerpério (25-31% dos casos), em pacientes com aterosclerose subjacente ou em indivíduos sem causa conhecida. Pode estar associada também à síndrome anti-fosfolípide, displasia fibromuscular e ao uso de anticoncepcionais orais. Outras possíveis associações são: doenças do tecido conjuntivo (como síndrome de Marfan ou síndrome de Ehlers-Danlos), trauma torácico, uso de cocaína, hipertensão arterial grave e algumas doenças reumatológicas.
Geralmente, na dissecção espontânea relacionada à aterosclerose, o hematoma parietal localiza-se entre as camadas íntima e média, enquanto nos casos relacionados à gestação ou puerpério localiza-se na camada média ou entre a média e adventícia.
Durante a gravidez podem ocorrer alterações patológicas na parede arterial decorrente da fragmentação de fibras reticulares, hipertrofia de células musculares lisas e alterações no conteúdo de mucopolissacárides e composição de proteínas, levando a um enfraquecimento da parede do vaso. Além disso, estudos post-mortem têm evidenciado presença de infiltrado inflamatório (principalmente eosinofílico) na túnica adventícias dos vasos em 25-40% dos pacientes.
O quadro clínico é variável, dependendo da extensão e localização da dissecção. A morte súbita é a apresentação mais comum.
A descendente anterior é acometida em 75% dos casos. Nos homens, diferentemente das mulheres, o comprometimento da coronária direita é mais comum (67% dos casos).
À cineangiocoronariografia, observa-se uma linha de dissecção separando as luzes verdadeira e falsa da artéria.
O ultrassom intra-coronário permite um melhor detalhamento da lesão, ajudando na escolha da estratégia terapêutica e na avaliação do resultado final.
A intervenção coronária percutânea é o tratamento de escolha nos casos de dissecção coronária espontânea uniarterial, com isquemia aguda e sintomática. O implante do stent pode selar o flap da íntima, reexpandindo a luz verdadeira. A cirurgia de revascularização miocárdica pode ser considerada em casos com acometimento multi-arterial, na dissecção do tronco da coronária esquerda ou se insucesso no tratamento percutâneo. Casos de pacientes estáveis, assintomáticos e com dissecções limitadas podem ser manejados clinicamente, podendo haver completa resolução angiográfica desses casos.
Como pode haver recorrência da dissecção em leito coronariano ou outros leitos precocemente, sugere-se manter o paciente internado por pelo menos 1 semana após o evento.