Arritmia

Ablação de Fibrilação Atrial em 2019: Mudaram as Indicações?

Escrito por Pedro Veronese

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Recentemente tivemos a apresentação e publicação de relevantes estudos sobre ablação de fibrilação atrial (FA) – o primeiro deles foi o CASTLE-AF, N Engl J Med 2018; 378:417-427, que investigou o procedimento por cateteres em pacientes com insuficiência cardíaca (IC). Para mais informações sobre esse trabalho veja o meu post. O segundo grande estudo foi o CABANA, JAMA. 2019 Mar 15. doi: 10.1001/jama.2019.0693, que investigou a intervenção em pacientes sem IC. Para mais informações sobre este trabalho veja esse outro post meu.

Devido aos estudos comentados acima, entre outros avanços em relação à FA, como por exemplo os novos anticoagulantes orais, em 2019, as principais entidades americanas (AHA / ACC / HRS) acharam por bem atualizar as suas recomendações sobre esta arritmia, pois as últimas eram de 2014.

Falando especificamente de ablação por cateter de FA, o que mudou em relação as indicações?

Segundo a atualização de 2019, Craig T. January, MD, PhD et al. 2019 AHA/ACC/HRS Focused Update of the 2014 AHA/ACC/HRS Guideline for the Management of Patients With Atrial Fibrillation, baseado no estudo CASTLE-AF, a ablação por cateter pode ser razoável em pacientes selecionados, com FA sintomática e IC com fração de ejeção reduzida para, potencialmente, reduzir a taxa mortalidade e hospitalização por IC. Classe de recomendação IIb, nível de evidência B-R.

As demais recomendações de 2014 foram mantidas, January CT, Wann LS, Alpert JS, Calkins H et al. 2014 AHA/ACC/HRS Guideline for the Management of Patients With Atrial Fibrillation. J Am Coll Cardiol 2014;64:e1–76:

  1. Classe I de recomendação: ablação é útil em indivíduos sintomáticos, com FA paroxística refratária ou quando o paciente é intolerante a pelo menos um antiarrítmico da classe I ou III, quando a estratégia de controle de ritmo é desejada.
  2. Classe IIa de recomendação: ablação é razoável para alguns indivíduos sintomáticos, com FA persistente refratária ou quando o paciente é intolerante a pelo menos um antiarrítmico classe I ou III.
  3. Classe IIa de recomendação: em indivíduos sintomáticos, com FA paroxística recorrente, ablação é razoável como estratégia inicial para controle de ritmo antes da terapia farmacológica, após se pesar os prós e contras.
  4. Classe IIb de recomendação: ablação pode ser considerada em indivíduos sintomáticos, com FA persistente de longa permanência (> 12 meses) refratária ou quando o paciente é intolerante a pelo menos um antiarrítmico da classe I ou III, quando a estratégia de controle de ritmo é desejada.
  5. Classe IIb de recomendação: ablação pode ser considerada antes de antiarrítmico para pacientes sintomáticos, com FA persistente, quando uma estratégia de controle de ritmo é            desejada.
  6. Classe III de recomendação: ablação é contraindicada para pacientes que não podem usar anticoagulante oral durante ou após o procedimento.
  7. Classe III de recomendação:

    ablação é contraindicada como estratégia para se retirar anticoagulação.

Como exposto acima, as indicações classe I para ablação de FA ainda são restritas e o procedimento NÃO cura FA, sendo sim, até o momento, uma ferramenta importante para controle de sintomas. Desta forma, não se deve retirar de forma rotineira a anticoagulação de pacientes que têm, previamente ao procedimento, indicação de utilizar tal fármaco, independente do sucesso da ablação.

Segundo Francis Alenghat, MD, cardiologista da universidade de Chicago: “FA é que nem cabelo branco, não tem como eliminar, você pode esconder por algum tempo, mas ele(a) acaba voltando”.

Referências:

  1. https://edhub.ama-assn.org/jn-learning/audio-player/17395493.
  2. January CT, Wann LS, Alpert JS, Calkins H et al. 2014 AHA/ACC/HRS Guideline for the Management of Patients With Atrial Fibrillation. J Am Coll Cardiol 2014;64:e1–76.
  3. Craig T. January, MD, PhD et al. 2019 AHA/ACC/HRS Focused Update of the 2014 AHA/ACC/HRS Guideline for the Management of Patients With Atrial Fibrillation.

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Sobre o autor

Pedro Veronese

Médico Especialista em Clínica Médica pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
Cardiologista, Arritmologista e Eletrofisiologista pelo InCor-HCFMUSP.
Médico Especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia - SBC.
Médico Especialista em Arritmia Clínica e Eletrofisiologia pela Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas - SOBRAC.
Médico do Centro de Arritmias Cardíacas do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Doutor em Cardiologia pelo InCor - HCFMUSP.
Preceptor da Residência de Clínica Médica do Hospital Estadual de Sapopemba e Hospital Estadual Vila Alpina.
Médico Chefe de Plantão do Pronto Socorro Central da Santa Casa de São Paulo.
Professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Professor da Faculdade de Medicina UNINOVE.

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