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A revascularização miocárdica era considerada como conduta preferencial quando se tratava de pacientes com coronariopatia grave e insuficiência cardíaca (com disfunção sistólica). Essa conduta foi originada do estudo CASS, estudo do início da década de 80, quando pouco sabíamos sobre os benefícios do tratamento clínico. Os pacientes que tratamos hoje são, portanto, bem diferentes daqueles desse estudo original. Para reavaliar esse assunto, comparando cirurgia de revascularização miocárdica (RM) com tratamento clínico, e não com “placebo”, foi desenvolvido esse estudo (STICH), que foi apresentado essa semana no congresso do American College of Cardiology.
Foram avaliados 1212 pacientes com disfunção ventricular sistólica (FE < ou = 35%) e coronariopatia passível de revascularização cirúrgica entre 2002 e 2007. Foram randomizados em tratamento clínico otimizado apenas ou tratamento clínico associado a RM.
O end-point primário foi mortalidade por qualquer causa, e os secundários, mortalidade cardiovascular e mortalidade por qualquer causa ou hospitalização por causas cardiovasculares.
Os pacientes submetidos a RM evidenciaram um maior mortalidade CV precoce relacionada ao procedimento cirúrgico, porém esta desvantagem desapareceu após 2 anos do procedimento.
Após um seguimento médio de 56 meses, o end-point primário ocorreu em 41% dos pacientes com tratamento clínico isolado e em 36% do grupo revascularização, não apresentando diferença estatisticamente significante (HR 0,86; p = 0,12). Apesar disso, o end-point composto “mortalidade por qualquer causa ou hospitalização por causas CV” foi menor no grupo RM (68% x 58%; HR 0,74; p < 0,001).
Alguns pontos podem ter interferido no resultado final; primeiro, houve um cross-over entre os grupos – 17% do grupo tratamento clínico foram revascularizados, e 9% do grupo RM não foram submetidos à cirurgia. Realizando uma análise dos pacientes efetivamente tratados conforme o grupo (e não por intenção de tratar), a revascularização miocárdica mostrou benefício de mortalidade.
Além disso, o tratamento medicamentoso foi otimizado e teve uma aderência maior do que teria no mundo real (90% estavam usando IECA ou BRA, 85% betabloqueadores, 85% estatinas e 84% aspirina).
Esse estudo mostra que ainda devemos pesquisar coronariopatia nos pacientes com dinsfunção ventricular, porém naqueles em que não haja comprometimento significativo Tronco de coronária esquerda ou angina grave, podemos ficar confortáveis em mante-los inicialmente em tratamento clínico otimizado tendo em vista que o tratamento cirúrgico nos portadores de miocardiopatia isquêmica não se mostrou superior. O estudo vai acompanhar estes pacientes por 10 anos e novos conhecimentos ainda serão divulgados.