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Como seguir uma alimentação saudável para o coração?

Escrito por Eduardo Lapa

Esta publicação também está disponível em: Português

Recentemente o American College of Cardiology lançou as novas recomendações sobre alimentação saudável. No documento são revisadas as principais evidências sobre o impacto de determinados tipos de alimentos sobre o sistema cardiovascular.

Os estudos que avaliaram estas questões geralmente apresentam importante limitações: tempo de seguimento relativamente curto, ausência de cegamento dos participantes em relação à intervenção usada, número de participantes limitado, entre outros. Por isso, nem sempre o grau de evidência em relação a um determinado tipo de alimento é do melhor tipo possível.

Mas, finalmente, qual é o resumo da ópera? O que é que faz bem e o que é que faz mal ao coração? Resumindo:

ALIMENTOS QUE SÃO BENÉFICOS PARA O CORAÇÃO

 1- Azeite de oliva extravirgem – é rico em ácidos graxos monossaturados. Reduz LDL e aumenta HDL. É a principal fonte de gordura na dieta mediterrânea. Ao contrário de outros tipos de óleos (ex: óleo de coco), o azeite de oliva já teve seus benefícios cardiovasculares mostrados em vários ensaios clínicos randomizados. Um exemplo de evidência forte é o estudo PREDIMED, publicado no New England Journal of Medicine. Nesse estudo, o braço que avaliou o uso de dieta mediterrânea + zeite de oliva reduziu em 30% o risco do desfecho primário (morte CV + AVC + IAM).

2- Frutas ricas em antioxidantes – o artigo cita bastante as chamadas berries – morango, blueberry, etc. São alimentos muito consumidos nos EUA e na Europa mas nem sempre disponíveis no Brasil. O ideal seria consumir pelo menos 3 porções por semana. O benefício viria de antioxidantes contidos nestes alimentos.

3- Nozes – consumir porções de pelo menos 30 g/dia. Neste caso o termo nozes (nuts em inglês) não se refere apenas às nozes que estamos acostumados mas também a castanhas, amendoim, avelã, pistache. Reduzem o LDL em cerca de 7% e diminuem o risco de diabetes tipo 2. No PREDIMED< o grupo de dieta mediterrânea + consumo de 30g de nozes por dia teve redução de 30% de eventos cardiovasculares e de 49% no risco de AVC. Tem-se que tomar cuidado apenas com o ganho de peso já que estes elementos são bastante calóricos.

4- Vegetais verdes – aspargo, brócolis, espinafre, vagem, couve, entre outros. Há evidência de diminuição de risco cardiovascular.

DICA: pacientes que usam varfarina podem consumir estes vegetais? SIM!!!! Mas não existe a história que estes alimentos são ricos em vitamina K e por isso antagonizariam o efeito do anticoagulante? De fato, estes alimentos são ricos em vitamina K. O macete é dizer ao pcte que consuma uma quantidade razoavelmente fixa diária de vegetais verdes de forma a chegar ao alvo de INR em uso deles. O que não pode consumir uma grande quantidade em um dia, e nada nos dias seguintes, por exemplo.

5- Proteínas de origem vegetal – são bem mais saudáveis que as proteínas de origem animal (ex: carne vermelha, frango, ovos, etc). A grande vantagem de substituir a proteína animal pela vegetal é a redução no consumo de gorduras. Exemplo citado no guideline:

Um xícara de chá de lentilha tem 18g de proteína e zero de gordura. Já 90g de carne apresenta 20g de proteína e 6g de gorduras saturadas.

ALIMENTOS COM EVIDÊNCIAS INCONCLUSIVAS – NÃO SE SABE AO CERTO SE PREJUDICAM OU BENEFICIAM O CORAÇÃO

1- Óleo virgem de coco – outra área de controvérsia. Muitas pessoas indicam o consumo deste tipo de óleo devido a um suposto benefício no sistema cardiovascular. Trecho do guideline americano:

“there is little evidence for ASCVD risk reduction with the incorporation of virgin coconut oil and available evidence is of low methodological rigor. Irrespective of this, VCO is very high in SFAs and should be avoided. Evidence with regard to VCO and its CV benefits is at a very early stage and limited to animal studies and a few human trials (29). No prospective studies have evaluated coconut oil exposure in relation to CVD outcomes”

Ou seja, não há evidências científicas adequadas que mostrem benefício com o consumo deste alimento.

2- Suplementos antioxidantes em altas doses – bem, se as chamadas berries são benéficas devido à presença de antioxidantes, não valeria a pena suplementar antioxidantes em altas doses na dieta? Na verdade, isso não foi demonstrado por ensaios clínicos. Nestes, o uso de vitamina C, vitamina E, selênio e beta-caroteno não compravaram ter benefício na redução de risco cardiovascular.

3- Sucos com polpa

4- Alimentos com glúten (neste caso estamos excluindo os pacientes com doença celíaca)

ALIMENTOS QUE SÃO MALÉFICOS PARA O CORAÇÃO

1- Óleo de coco não-virgem – por ser rico em gordura saturada, o seu consumo traz malefícios.

2- Ovos – a controvérsia envolvendo o consumo de ovos sempre é grande. Em um momento afirmam que prejudicam, em outro que fazem bem à saúde cardiovascular. Há evidências que o consumo de ovos aumenta o nível sérico de colesterol. Assim, recomenda-se que o consumo desse alimento seja limitado.

3- Suco de frutas que não contém polpa

4- Dieta típica do sul dos Estados Unidos – rica em ovos, carne processadas, bebidas com adição de açúcar, etc

Referência: Freeman AM et al. Trending Cardiovascular Nutrition Controversies. J Am Coll Cardiol 2017. 

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Sobre o autor

Eduardo Lapa

Editor-chefe do site Cardiopapers
Especialista em Cardiologia e Ecocardiografia pela SBC

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