Métodos complementares

Angiotomografia de coronárias serve para analisar paciente que já fez angioplastia prévia?

Escrito por Alexandre Volney

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Marcos, 51 anos, ex-tabagista com antecedente de stent pregresso na artéria descendente anterior proximal implantado na ocasião de um infarto sem supra. Estava há 4 anos bem, controlando os fatores de risco e usando adequadamente as medicações indicadas. Há 1 ano está em uso de apenas um antiagregante planetário (AAS). É bastante ansioso e vem apresentando dificuldades relacionados ao ambiente de trabalho nos últimos meses, com situações de estresse constantes. Concomitantemente, vem apresentando precordialgia atípica, não relacionada a esforço físico. Submetido a teste ergométrico com resultado negativo (em uso de beta-bloqueador). Persiste com queixa clínica e questiona se pode haver algum problema com o stent. O que você faria para esse paciente?

A revascularização percutânea com o uso de próteses endovasculares (stents) é atualmente a metodologia mais utilizada no tratamento das lesões coronarianas, tanto agudas quanto crônicas. Ainda que a evolução tecnológica dos stents tenha reduzido significativamente a incidência de reestenose intra-stent (RIS) causada por excesso de endotelização (proliferação neointimal), a taxa de reestenose pode chegar a 30% nos stents convencionais e 10% nos farmacológicos. Fratura da malha pode ser outro fator importante para a RIS, principalmente em pontos de sobreposição de stents ou vasos com tortuosidade excessiva.

Frequentemente, portanto, o cardiologista clínico se depara com a necessidade de investigar queixas clínicas em pacientes com doença coronária previamente tratada com stent. Nesse cenário, a Angiotomografia coronária (TCCor) é um método não invasivo que pode ser aplicado, uma vez que além de identificar a presença de RIS, também permite identificar a presença de redução luminal significativa em outros segmentos coronariano nativos.

A TCCor apresenta boa acurácia em comparação a angiografia invasiva, permitindo identificar a presença áreas hipoatenuantes (escuras) nas bordas e/ou no interior do stent, caracterizando proliferação neointimal (figura). Especialmente nos segmentos coronários maiores de 3mm, a acurácia do método pode chegar a 91% em condições adequadas. Isso porque as arquitetura da malha dos stents é bastante variável, constituindo, por vezes, uma limitação à análise luminal. Além disso, a limitação à penetração dos feixes de raio-X pode ocasionar artefatos que simulam a presença de proliferação neointimal, dificultando a quantificação da reestenose. Artefatos de movimentação também podem ser determinantes na análise, reforçando a necessidade do controle da frequência cardíaca. Um laudo de qualidade precisa informar ao clínico sobre a existência de algum tipo de limitação à análise luminal intra-stent.

Reconstrução tomográfica de segmento coronariano com stent na porção proximal prévio, porém com sinais de proliferação neointimal (pequena faixa escura na borda superior do stent em destaque), sem restantes significativa

Ainda assim, o valor preditivo negativo do estudo permanece alto, sendo de grande importância para a exclusão de RIS. Portanto, considera-se indicação apropriada o uso de TCCor para avaliação de pacientes mesmo assintomático com stents prévios no TCE ou com diâmetro maior que 3mm.

Referência:  ACCF/SCCT/ACR/AHA/ASE/ASNC/NASCI/SCAI/SCMR 2010 Appropriate Use Criteria for Cardiac Computed Tomography. Taylor, Allen J. et al. Journal of Cardiovascular Computed Tomography , Volume 4 , Issue 6 , 407.e1 – 407.e33

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Sobre o autor

Alexandre Volney

Residência em Clínica Médica pelo Hospital do Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo (HC-FMUSP, 2007)
Residência em Cardiologia pelo Instituto do Coração (InCor-HCFMUSP, 2009),
Especialização em Tomografia e Ressonância Cardiovascular (InCor-FMUSP, 2009-2011)
Especialista em Ecocardiografia (SBC)

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