ECG Questões

Desafio de ECG – que arritmia é esta?

Escrito por Gabriela Rassi

Esta publicação também está disponível em: Português

Você está de plantão na sala vermelha e recebe paciente do sexo masculino, 60 anos, com relato de mal estar seguido de síncope em casa. É realizado o seguinte ECG na entrada:

 

 

Qual o diagnóstico?

Resposta:

Ao batermos o olho, vemos um ritmo bradicárdico. Nota-se uma frequência ventricular em torno de 40 bpm com QRS largo e morfologia de BRE e ondas P regulares em frequência em torno de 100 bpm. As ondas P não se correlacionam com os QRS, ou seja, estão dissociados – não há condução dos átrios para os ventrículos. Temos então o diagnóstico de bloqueio atrioventricular total!

Diagnóstico eletrocardiográfico feito… E agora? O que fazer?

O BAVT possui diversas causas possíveis, que incluem fibrose idiopática, doenças cardíacas crônicas subjacentes (como doença isquêmica, doença de Chagas) ou trauma relacionado a algum procedimento invasivo. Além disso, algumas medicações podem estar associadas, como antiarrítmicos e digoxina.

Independente da causa, a definição da conduta imediata depende da presença ou não de sinais de instabilidade hemodinâmica.

Consideram-se sintomas de instabilidade hemodinâmica:

  • Hipotensão;
  • Dor torácica anginosa;
  • Alteração do nível de consciência;
  • Sinais de má perfusão;
  • Insuficiência cardíaca aguda;

De acordo com os guidelines da AHA, o fluxograma de atendimento à bradicardia indica que pacientes sintomáticos podem ser tratados inicialmente com atropina e, caso não haja resposta, podem ser tentadas drogas como dopamina e epinefrina. Na maioria das vezes, o suporte medicamentoso não será efetivo nesses pacientes, sendo necessário o uso de marcapasso.

Com certa frequência, os pacientes com BAVT precisarão de suporte com marcapasso. A estimulação transcutânea pode ser mais rápida, embora a captação elétrica e mecânica nem sempre seja efetiva. Se a estimulação transcutânea não for bem sucedida, é necessário um marcapasso transvenoso.

A principal razão para a estimulação cardíaca temporária é tratar sintomas graves e/ou instabilidade hemodinâmica devido a uma bradicardia, ou para prevenir uma potencial deterioração resultando em instabilidade hemodinâmica.

Já em pacientes estáveis, é razoável manter o paciente monitorizado e solicitar uma consulta com especialista para avaliação de implante de marcapasso definitivo.

Também faz parte do atendimento a esse tipo de paciente a realização de outros exames complementares. Solicitar painel metabólico básico para a correção de possíveis anormalidades eletrolíticas, dosar de troponina para avaliar a presença de isquemia, dosar nível de digoxinemia em pacientes que usam digoxina para excluir toxicidade pela droga,  avaliar a presença de doença cardíaca estrutural e, principalmente em nosso meio, solicitar sorologia para doença de Chagas.

Nosso paciente em questão tinha sorologia de Chagas positiva e apresentava sinais de baixo débito na entrada. Foi passado marcapasso transvenoso e, posteriormente, realizado implante de marcapasso definitivo.

 

Fontes:

Part 3: Adult Basic and Advanced Life Support: 2020 American Heart Association Guidelines for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care. 21 Oct 2020

https://doi.org/10.1161/CIR.0000000000000916Circulation. 2020;142:S366–S468

 

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Gabriela Rassi

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