Métodos complementares

Como avaliar se há viabilidade miocárdica pela ressonância magnética?

Esta publicação também está disponível em: Português

Texto enviado pela Dr Renata Ávila – especialista em Ressonância Nuclear Magnética Cardíaca pelo Incor-HCFMSUP

A detecção da viabilidade do miocárdio é de fundamental importância em pacientes com miocardiopatia isquêmica devido a capacidade de determinar o potencial de recuperação da função ventricular global ou regional após procedimento de revascularização miocárdica.

A avaliação da viabilidade miocárdica feita pela Ressonância Magnética Cardíaca (RMC) utiliza a técnica do realce tardio (RT), sendo necessário a injeção do gadolínio (Gd), um contraste não nefrotóxico e bastante seguro. O Gd não penetra em membranas celulares i?ntegras, apresentando distribuição extracelular. Nas regiões de infarto, ocorre ruptura das membranas dos miócitos necróticos e, desse modo, o Gd pode se distribuir livremente. Além disso, a necrose dos miócitos também causa alteração da cinética de distribuição do contraste, de modo que a saída do Gd das áreas de infarto ocorre mais lentamente

O potencial de melhora contrátil dependerá de duas condições: primeiro o músculo deve estar vivo (ausência de realce); segundo, o músculo deve estar isquêmico, sendo este o mecanismo da disfunção. Dessa forma, fala-se de viabilidade se um determinado segmento miocárdico hipocinético ou acinético apresenta áreas sem necrose.

Como a RMC quantifica esse potencial de recuperação contrátil?

Através da técnica do RT as regiões de infarto, áreas de maior deposição do Gd, aparecem na coloração branca (sinal intenso) o que determina a presença de fibrose e as regiões de músculo normal na coloração preta (sinal baixo). A relação entre a extensão da área de fibrose e a extensão do segmento miocárdico que ocupa (figura1) é fundamental para se determinar uma possével recuperação funcional, ou não, do miocárdio. A probabilidade de melhora da recuperação da contratilidade segmentar correlaciona-se inversamente com a extensão do RT.

Figura 1

Figura 1

 

Fig.01: a: área de fibrose miocárdica no segmento anterior do ventrículo esquerdo. b: área de miocárdio normal no segmento anterior do ventrículo esquerdo. a + b: espessura miocárdica do segmento anterior do ventrículo esquerdo.

Quando um segmento miocárdico não possui realce algum, a probabilidade de melhora contrátil é alta, em torno de 80%. A presença de qualquer realce com uma relação área de fibrose/segmento miocárdico que ocupa em menos de 25% da espessura do músculo reduz o potencial de melhora para 60% (figura2), a relação entre 25 e 50 % apresenta 40% de probabilidade de melhora, enquanto o potencial de melhora será ínfimo se a área de realce ultrapassar 50% (figura 3) da espessura do miocárdio. Portanto, aproxima-se mais da realidade biológica aplicando um pensamento probabilístico, em vez de um laudo dicotômico que sugira apenas presença ou ausência de viabilidade.

É importante ressaltar que a definição histológica de viabilidade miocárdica corresponde à ausência de necrose, ou seja, músculo vivo. Nesse contexto é evidente que o método do realce tardio é acurado para diferenciar entre o vivo e o morto. Vários trabalhos na literatura têm sugerido essa técnica como padrão-ouro para a avaliação da viabilidade miocárdica.

Figura 2

Fig2

 

Fig.02: Imagem de ressonância magnética cardíaca em corte duas câmaras, onde visualizamos o ventrículo esquerdo (VE) e o átrio esquerdo (AE).

Observa-se área de fibrose miocárdica (área branca, apontada pelas setas verdes) com acometimento endocárdico no segmento anterior das regiões média e apical e do segmento inferior da região apical do ventrículo esquerdo com viabilidade miocárdica preservada (área de realce tardio <50% da espessura miocárdica correspondente).

Figura 3

Figura 3

 

Fig.03: Imagem de ressonância magnética cardíaca em eixo curto. Observa-se área de fibrose transmural no segmento inferior da região medial do ventrículo esquerdo (área branca, apontada pela seta amarela) com ausência de viabilidade miocárdica (área de realce tardio >50% da espessura miocárdica correspondente). Ventrículo esquerdo (VE); ventrículo direito (VD).

 

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Sobre o autor

Renata Ávila

Residência em Cardiologia pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia Título de Especialista em Cardiologia pela SBC
Especialista em Tomografia e Ressonância cardiovascular pelo InCor/FMUSP
Médica do setor de Tomografia e Ressonância Cardíaca da Rede D'Or São Luiz:
- Hospital Esperança
- Hospital Esperança Olinda

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