Bulário Coronariopatia

Como eu uso trimetazidina

Escrito por Fernando Figuinha

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A trimetazidina é uma droga antianginosa que atua em mudanças metabólicas intracelulares para controlar isquemia miocárdica.

Ela transfere o metabolismo do ácido graxo para o metabolismo da glicose. Assim, diminui o acúmulo de lactato intra-celular, minimizando a  acidose intracelular e preservando a integridade das membranas.

Preserva o metabolismo das células expostas à hipóxia ou isquemia; previne a diminuição dos níveis intracelulares de ATP, assegurando o bom funcionamento das bombas iônicas e do fluxo transmembrana de Na-K, mantendo a homeostase celular.

Então, é um agente anti-isquêmico de ação exclusivamente metabólica, sem alterações hemodinâmicas.

DOSE

No Brasil, temos a apresentação MR 35mg o  comprimido. Vem com o nome de Vastarel MR (Servier) e, mais recentemente, tivemos a apresentação de outro laboratório com o nome de Neovangy MR (EMS).

A dose é de 1 comprimido, 2 x por dia,  durante a refeição. A eliminação é principalmente por via urinária, com tempo de meia vida de 7 horas (em idoso, até 12 horas). Não pode partir ou  mastigar o comprimido.

INDICAÇÃO

Trimetazidina estaria indicado para Doença Arterical Coronariana (DAC) crônica, como 2ª linha. Medicações de 1ª linha seriam: betabloqueador, bloqueador de canal de cálcio diidropiridínico e nitrato de longa duração.

Nas diretrizes européias de 2019, entra como recomendação IIa como tratamento de 2ª linha para diminuir angina e melhorar tolerância ao exercício, se sem controle com betabloqueador, bloqueador de canal de cálcio ou nitrato de longa duraçãao; e recomendação IIb em combinação com betabloqueador ou bloqueador de canal de cálcio, como 1ª linha de tratamento, dependendo da FC, PA ou tolerância.

Temos evidências de redução de isquemia induzida por esforço, sendo utilizado associado ao atenolol – estudo VASCO Angina; e associado ao metoprolol, no estudo TRIMPOL – reduziu crise de angina e aumentou tempo de exercício até surgimento de alteração do segmento ST.

Tivemos uma metanálise no Heart em 2011, juntando 17 trials com 955 pacientes, mostrando que poderia aumentar a fração de ejeção em pacientes isquêmicos e não isquemicos, e poderia reduzir mortalidade e eventos cardiovasculares/hospitalizações…mas ainda precisa de um estudo clínico randomizado para termos uma evidência mais robusta.

No congresso europeu de 2020 foi apresentado o estudo ATPCI, estudo randomizado duplo-cego, com 6007 pacientes, avaliando o efeito da trimetazidina em pacientes após uma angioplastia realizada com sucesso. 60% eram pacientes crônicos. O resultado foi negativo, não reduziu recorrência de angina ou outros desfechos. Mas temos levar alguns fatores em consideração. Os pacientes já tinham recebido angioplastia, então teriam já menos isquemia. As demais drogas para angina estável em geral também não reduzem desfechos duros. Então, nesse cenário, não valeria a pena usar, mas podemos considerar ainda em outro perfil de pacientes, como por exemplo com angina refratária.

CONTRAINDICAÇÃO

São contraindicações: doença renal grave, alergia a algum dos seus componentes, doença de Parkinson, distúrbios de movimentos.

EFEITOS COLATERAIS

Os efeitos colaterais mais comuns são: tontura, cefaleia, dor abdominal, diarreia, vômitos (1-10%).

Efeitos mais raros seriam: sintomas extrapiramidais (tremor, agitação nas mãos, andar arrastado, rigidez em braços e pernas), além de alteração de sono (insonia) e leucopenia.

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Sobre o autor

Fernando Figuinha

Especialista em Cardiologia pelo InCor/ FMUSP
Médico cardiologista do Hospital Miguel Soeiro - Unimed Sorocaba.
Presidente - SOCESP Regional Sorocaba.

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