Arritmia

Como Prevenir Fibrilação Atrial no Pós-Operatório de Cirurgia Cardíaca?

Escrito por Pedro Veronese

Esta publicação também está disponível em: Português

Fibrilação atrial (FA) é uma das complicações mais comuns após cirurgia cardíaca, elevando o tempo de internação e desfechos adversos como morte e acidente vascular cerebral (AVC) nesta população. O mecanismo de aparecimento de fibrilação atrial no pós-operatório de cirurgias cardíacas ainda não é totalmente conhecido, mas acredita-se que o acúmulo de líquido no espaço pericárdico possa contribuir para este desfecho.

Baseado neste racional, um grupo de pesquisadores do Hospital Presbiteriano de NY sugeriu que a realização de pericardiotomia posterior esquerda (PCT), com a drenagem do líquido pericárdico para a cavidade pleural esquerda, poderia reduzir o risco de FA. O estudo foi apresentado no congresso americano (AHA 2021). Desta forma, 420 pacientes submetidos a cirurgias eletivas de coronária, ou valva aórtica, ou aorta ascendente foram randomizados à PCT vs não PCT. A média de idade foi 61 anos, 24% eram mulheres, e a mediana do CHADSVASc escore era de 2.  Eles foram seguidos por 30 dias após a alta.

O desfecho primário foi a presença de FA no pós-operatório durante a internação. Esse resultado foi avaliado por intention-to-treat (ITT). O desfecho de segurança foi avaliado de acordo com o tratamento que o paciente efetivamente recebeu. Dos 420 pacientes avaliados, 212 foram submetidos à PCT. Destes, 37 apresentaram FA (17%). 208 pacientes não foram submetidos à PCT. Destes, 66 apresentaram FA (32%); [p = 0,0007]. Houve 2 óbitos no grupo que realmente foi submetido à PCT (2/209 – 1%) e 1 óbito no grupo que realmente não foi submetido à PCT (1/211- < 1%). A incidência de derrame pericárdico no grupo PCT foi 26/209 (12%) vs 45/211 (21%) no grupo não PCT, RR 0,58 ([95% IC 0,37 – 0,91].

Conclusão dos autores:

A PCT foi altamente efetiva em reduzir a incidência de FA no pós-operatório de cirurgias cardíacas de coronária, valva aórtica ou aorta ascendente, sem adicionar risco no pós-operatório.

Conclusão do Cardiopapers:

Conforme colocado pelos autores, sabe-se que a fibrilação atrial aumenta tempo de internação e eventos adversos como morte e AVC no pós-operatório de cirurgias cardíacas. Foi demonstrado que essa técnica reduz FA no pós-operatório. O próximo passo, contudo, é que haja a demonstração que essa técnica pode, de fato, reduzir os desfechos clínicos duros com morte e AVC.

Este estudo foi apresentado no congresso da AHA 2021. Para ver um resumão de tudo o que aconteceu de mais importante no congresso, veja nosso vídeo abaixo:

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Sobre o autor

Pedro Veronese

Médico Especialista em Clínica Médica pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
Cardiologista, Arritmologista e Eletrofisiologista pelo InCor-HCFMUSP.
Médico Especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia - SBC.
Médico Especialista em Arritmia Clínica e Eletrofisiologia pela Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas - SOBRAC.
Médico do Centro de Arritmias Cardíacas do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Doutor em Cardiologia pelo InCor - HCFMUSP.
Preceptor da Residência de Clínica Médica do Hospital Estadual de Sapopemba e Hospital Estadual Vila Alpina.
Médico Chefe de Plantão do Pronto Socorro Central da Santa Casa de São Paulo.
Professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Professor da Faculdade de Medicina UNINOVE.

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