Hipertensão arterial sistêmica

Devemos tratar a hipertensão diastólica isolada?

Escrito por Thiago Midlej

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A hipertensão arterial sistêmica (HAS)  é diagnosticada com base na PAS elevada e/ ou PAD elevada.  A diretriz Americana de 2017 alterou a definição de HAS, passando a ser diagnosticado como hipertenso, aqueles pacientes com PA ≥ 130/80 mmHg.  Essa mudança trouxe implicações para a conhecida Hipertensão Diastólica Isolada (HDI), definida como uma PAS < 130 mmHg e PAD  ≥  80mmHg (pelo critério da diretriz da ACC/AHA 2017) mas com PAS < 140 mmHg e PAD ≥ 90 mmHg (pelo critério do 7 JNC). Por esta diretriz, a hipertensão diastólica isolada é mais comum em jovens, está associado à HAS futura mas não associado com doença cardiovascular aterosclerótica. 

Foi publicada no JAMA, um trabalho que revisou  três grande estudos e teve dois objetivos: estimar a prevalência de HDI pelas duas últimas diretrizes americanas  na população dos Estados Unidos e verificar a associação com doença cardiovascular aterosclerótica, IC e doença renal crônica. Para interpretação no estudo, os critérios utilizado foram os das duas diretrizes citadas acima. 

Pelo registo do  NHANES III, a prevalência de HDI  foi de 1,3% pelos critérios do 7 JNC e 6,5% pela diretriz de 2017. Desses pacientes, poucos estavam em uso de anti-hipertensivo (1,6% e 2,2% respectivamente)

No estudo ARIC pela diretriz de 2017,  prevalência foi de 11% e pelo 7 JNC foi de 2%.  Em um follow up de 25 anos, quando comparada com normotensos, não houve diferença estatística para incidência de doença cardiovascular aterosclerótica, assim como não houve aumento na incidência de IC ou DRC. Em outra análise, também não houve elevação de Tropo ultrasensível ou NT-proBNP.  

Em uma análise de mortalidade combinando NHANES III, NHANES 1999-2014 e CLUE II, HDI (usando critérios da diretriz de 2017) não foi associada a aumento de morte por todas as causas ou  de mortalidade cardiovascular. 

Os autores acreditam ser a HDI um fenótipo distinto de pressão arterial que não possui significativa associação com doença cardiovascular aterosclerótica clínica ou subclínica.  

Os autores concluem que a prevalência de HDI é mais elevada quando se considera a diretriz  de 2017 se comparada com o 7 JNC e que a HDI não está associada a aumento significativo do risco cardiovascular. 

Impressões:

trabalho bem interessante mas precisamos avaliá-lo com cautela. A diretriz americana de  2017 levou os níveis de pressão para valores mais baixos, fazendo com que aumentasse  o número  de pacientes diagnosticados como hipertensos. Estima-se que, com essa diretriz, quase metade da população adulta dos Estados Unidos possa ser considerada hipertensa. Consequentemente, o número de pacientes portadores de  HDI também aumentou. A questão que se discute é se esses pacientes com HDI possuem risco cardiovascular elevado e se é necessário tratamento, já que a recomendação de reduzir a PAD de 90 mmHg para 80 mmHg foi baseada em opinião de especialista. Assim, acreditamos  que seja necessário trabalhos mais específicos para uma melhor conclusão. Por ora, a recomendação ainda é tratar e controlar a PA desses pacientes, baseado na classificação de risco e meta propostas pelas diretrizes. 

Referência: Association of Isolated Diastolic Hypertension as Defined by the 2017 ACC/AHA Blood Pressure Guideline With Incident Cardiovascular Outcomes John W. McEvoy, MBBCh, MEd, MHS; Natalie Daya, MPH; Faisal Rahman, MD; Ron C. Hoogeveen, PhD; Roger S. Blumenthal, MD; Amil M. Shah, MD; Christie M. Ballantyne, MD; Josef Coresh, MD, PhD; Elizabeth Selvin, PhD, MPH,  JAMA January 28, 2020 Volume 323

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Sobre o autor

Thiago Midlej

Especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia​ e pelo Instituto do Coração da Faculdade de Medicina de São Paulo - I​NCOR​​.
Pós graduando da Unidade de Hipertensão do​​ I​NCOR​
Médico plantonista da Unidade Clínica de Emergência do INCOR
​​Cardiologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

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