Hipertensão arterial sistêmica

Devemos tratar pressão arterial sistólica entre 120 e 140 mmHg?

Escrito por Thiago Midlej

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Após as publicações dos estudos ACCORD e SPRINT, muito  se discute se os níveis de pressão arterial devem mudar nas próximas diretrizes.  No início deste mês de abril, foi publicado no NEJM mais um grande estudo que promete por mais lenha na fogueira e que nos faz esperar com muita ansiedade os próximos guidelines.

Trata-se do estudo HOPE-3. Estudo duplo cego, randomizado, placebo controlado, realizado em 228 centros de 21 países que teve por objetivo avaliar a segurança e eficácia da queda da PA em pacientes sem doenças cardiovasculares (DCV), com risco intermediário (definido como risco anual de eventos cardiovasculares maiores de aproximadamente 1%) e com pressão arterial sistólica < 160mmHg.

Foram incluídos homens com idade ≥ 55 anos e mulheres ≥ 65 anos, com pelo menos um dos seguintes fatores de riscos:

–   Relação cintura-quadril elevada

–   Historia de HDL colesterol baixo

–  Tabagista ou uso recente de tabaco

–  História familiar de doença coronária

–  Disfunção renal de moderada intensidade

–  Disglicemia

Também foram incluídas mulheres com idade ≥ 60 anos com pelo menos dois desses fatores acima listados.  É interessente notar que os participantes não foram selecionados com base na história de hipertensão ou níveis de pressão arterial (PA). Pacientes hipertensos foram incluídos se estivessem com a pressão adequadamente controlada com medidas não farmacológicas ou com medicações que não fossem BRA, IECA ou tiazídicos.

No total, 12705 pacientes  foram randomizados para o grupo com doses diárias de Candesartana 16mg + Hidroclorotiazida 12,5mg (6356 participantes)  ou  grupo placebo (6349).

A média de PA foi 138.1/81.9mmHg. O grupo Candesartana 16mg + Hidroclorotiazida 12,5mg apresentou redução de PA 6.0/3.0mmHg. Aproximadamente ⅓ dos participantes tinha história de hipertensão e 22% estavam tomando algum anti-hipertensivo.

Após 5,6 anos de seguimento, os autores concluíram que não houve diferença entre os grupos para os desfechos primários compostos de morte cardiovascular, IAM não fatal, AVC não fatal, e esses eventos associados a parada cardíaca, insuficiência cardíaca ou revascularização (4,1% para o grupo candesartana + hidroclorotiazida e 4.4% para o grupo placebo). Também não houve diferença entre os grupos em incidência de câncer, hospitalização ou morte por causa não cardiovascular. O grupo que fez uso dos anti-hipertensivos apresentou maior taxa de hipotensão sintomática, tontura e delirium (3,4% x 2,0%), mas não síncope e disfunção renal.

Diante de tanta polêmica com estudos recentes que mostraram redução significativa de eventos com a redução da PA para abaixo de 120 x 80mmHg, os autores afirmam que não podem excluir  totalmente que a queda mais acentuada da PA possa ser mais efetiva, entretanto, foi observado que nos pacientes com pressão arterial sistólica (PAS)> 143,5mmHg houve redução significativa dos eventos se comparado ao placebo (4,8% x 6,5%). A PAS elevada inicial deve ser decisiva em determinar se pequenas reduções na PA reduzem o risco.

Assim, tratar indivíduos sem doença cardiovascular que tenham PAS acima de, aproximadamente, 140mmHg parece ser benéfico, mas o tratamento não tem benefício e pode ainda ser prejudicial em indivíduos com PAS mais baixas.

OBS: o estudo HOPE-3 também analisou o uso de rosuvastatina em baixas doses no mesmo perfil de pacientes. Esse estudo será descrito e analisado por nós brevemente.

Referência: http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1600176

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Sobre o autor

Thiago Midlej

Especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia​ e pelo Instituto do Coração da Faculdade de Medicina de São Paulo - I​NCOR​​.
Pós graduando da Unidade de Hipertensão do​​ I​NCOR​
Médico plantonista da Unidade Clínica de Emergência do INCOR
​​Cardiologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

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