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Dormir pouco aumenta inflamação nas artérias? Veja esse novo estudo!

Escrito por Thiago Midlej

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Uma boa noite de sono é, além de gratificante,  essencial para nos recuperamos do stress do dia a dia. Estudos já evidenciaram que dormir mal ou pouco está relacionado a maior prevalência de aterosclerose, mas como isso ocorre ainda não foi elucidado.

Recentemente, pesquisadores de Harvard publicaram na Natureum estudo que associa o “sono insuficiente” com a produção de células leucocitárias  inflamatórias, responsáveis na formação da aterosclerose.

A pesquisa foi realizada com camundongos e o grupo que teve o sono privado desenvolveu placas arteriais e elevado níveis de monócitos e neutrófilos, células inflamatórias que contribuem para aterosclerose, quando comparados ao grupo que não teve o sono privado. Esse animais tiveram também aumento de duas vezes na produção de células troncos na medula.  A Hipocretina, hormônio que regula o sono, parece exercer um papel inesperado no controle da produção de glóbulos brancos.

Segundo os autores, o sono ajuda a regular a produção de células inflamatórias  na medula óssea e a interrupção do sono pode quebrar esse mecanismo de controle, aumentando a  inflamação e consequentemente, a chance de doença cardiovascular.

É importante ressaltar que o trabalho foi realizado em animais e é necessário estudos em humanos para melhor interpretação. 

Nota do editor (Eduardo Lapa) – cada vez mais aparecem estudos ligando pouco tempo de sono a alterações cardiovasculares. Estes são importantes porque não tem como criarmos um estudo randomizado (trial) para provar que sono deficiente aumenta risco cardiovascular. Como assim? Quando fazemos um ensaio clínico randomizado queremos que os dois grupos estudados sejam idênticos em suas características com a exceção de um único fator, justamente o que é estudado no trial. Exemplo: temos pacientes que sofreram infarto recentemente e uma população vai usar uma droga x nova e o resto dos pacientes seguirá com o tratamento padrão. No resto, tudo é igual. Idade, prevalência de diabetes, hipertensão, etc. Quem garante, Eduardo? A randomização adequada e o tamanho amostral bem calculado. No caso do sono, simplesmente não tem como fazer isso. Como você vai separar um grupo que dorme pouco e outro que dorme muito? Obviamente as características clínicas dos pacientes serão diferentes. É frequente indivíduos que dormem pouco terem maior carga de trabalho, por exemplo. Isso pode criar fatores confundidores. Resumindo, este é o tipo de situação em que temos que olhar para outras evidências que não os ensaios clínicos controlados.

Este estudo em ratos ao mostrar que há aumento de inflamação em artérias de ratos submetidos à privacão de sono reforça o link entre sono insuficiente e aterosclerose.

Referência: Sleep modulates haematopoiesis and protects against atherosclerosis. Cameron S. McAlpine, Máté G. Kiss, Sara Rattik, Shun He, Anne Vassalli, Colin Valet, Atsushi Anzai, Christopher T. Chan, John E. Mindur, Florian Kahles, Wolfram C. Poller, Vanessa Frodermann, Ashley M. Fenn, Annemijn F. Gregory, Lennard Halle, Yoshiko Iwamoto, Friedrich F. Hoyer, Christoph J. Binder, Peter Libby, Mehdi Tafti, Thomas E. Scammell, Matthias Nahrendorf & Filip K. Swirski.         Nature volume 566, pages383–387 (2019)

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Sobre o autor

Thiago Midlej

Especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia​ e pelo Instituto do Coração da Faculdade de Medicina de São Paulo - I​NCOR​​.
Pós graduando da Unidade de Hipertensão do​​ I​NCOR​
Médico plantonista da Unidade Clínica de Emergência do INCOR
​​Cardiologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

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