Arritmia

Emagrecer, De Fato, Ajuda a Prevenir Fibrilação Atrial?

Escrito por Pedro Veronese

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Há inúmeras arritmias cardíacas que são alterações exclusivamente elétricas. Nesses casos, a ablação por cateter,  representa cura em uma alta porcentagem dos pacientes. Porém, quando se avalia fibrilação atrial (FA), a maioria dos autores aceitam que o procedimento invasivo tem importante papel no controle da arritmia e NÃO na sua cura (veja este post nosso). Por que essa diferença? Porque a FA não se trata, exclusivamente, de um problema elétrico cardíaco. Há uma nítida interface entre esta arritmia e o estilo de vida do paciente. Indivíduos obesos, hipertensos mal controlados, alcoólatras, com síndrome da apneia obstrutiva do sono etc. evoluem pior, com mais recorrências de FA, mesmo após uma ablação por cateter bem-sucedida.

Dentro deste racional, um importante trabalho foi publicado recentemente, Europace (2019) 0, 1–8. doi:10.1093/europace/euz183, que mostrou que em pacientes obesos mórbidos submetidos à cirurgia bariátrica (CB) antes da ablação de FA, a recorrência desta arritmia foi menor.

Neste estudo retrospectivo e observacional, 239 pacientes obesos mórbidos (IMC ≥ 40 Kg/m2 ou IMC ≥ 35 Kg/m2 com complicações) foram seguidos por um tempo médio de 22 meses antes da ablação por cateter. Desses, 51 pacientes tinham sido submetidos, previamente ao procedimento por cateter, à CB. Foram incluídos pacientes com FA paroxística e persistente, várias técnicas de CB foram utilizadas: sleeve gastrectomy (cirurgia da manga gástrica), banda gástrica videolaparoscópica e o bypass gástrico com Y Roux.  

Análises multivariadas para ajustes das variáveis de confusão foram feitas utilizando-se modelos de Cox e propensity-score. Durante um seguimento médio de 36 meses pós-ablação, 10/51 pacientes (20%) do grupo CB tiveram recorrência de FA comparados com 114/188 (61%) do grupo não operado (P < 0,0001). No grupo CB 6/51 pacientes (12%) necessitaram de mais de uma ablação comparados com 77/188 (41%) do grupo não operado (P < 0,0001). A associação entre CB e redução na recorrência de FA permaneceu após as análises multivariadas com os ajustes pertinentes.

A conclusão dos autores foi que a CB foi associada com menor recorrência de FA. Obesos mórbidos devem ser considerados para CB antes da ablação por cateter, embora estudos prospectivos e multicêntricos devam ser realizados para confirmar os dados encontrados.

A conclusão do Cardiopapers: cada vez acreditamos mais que os pacientes com FA, exceto os com componente genético bem determinado, devem rever ampla e irrestritamente o seu estilo de vida, abordando cada ponto que possa contribuir para a recorrência da sua arritmia.

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Sobre o autor

Pedro Veronese

Médico Especialista em Clínica Médica pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
Cardiologista, Arritmologista e Eletrofisiologista pelo InCor-HCFMUSP.
Médico Especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia - SBC.
Médico Especialista em Arritmia Clínica e Eletrofisiologia pela Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas - SOBRAC.
Médico do Centro de Arritmias Cardíacas do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Doutor em Cardiologia pelo InCor - HCFMUSP.
Preceptor da Residência de Clínica Médica do Hospital Estadual de Sapopemba e Hospital Estadual Vila Alpina.
Médico Chefe de Plantão do Pronto Socorro Central da Santa Casa de São Paulo.
Professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Professor da Faculdade de Medicina UNINOVE.

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