Coronariopatia Métodos complementares

Escore cálcio pode estar aumentado em atletas?

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Atividade física regular tem efeito protetor para doença coronária. Geralmente, exercícios regulares de moderada intensidade exercem um efeito anti-inflamatório endotelial através da liberação do óxido nítrico e pela angiogênese.  As diretrizes atuais recomendam atividade física moderada, no mínimo de 30 minutos, 5 dias por semana ou 25 minutos de atividade física vigorosa, 3 dias por semana. Entretanto, esportes considerados de alto rendimento estão muito além desta recomendação e ainda não se sabe o real impacto das atividades de alta intensidade nas coronárias.

A aterosclerose é a principal causa de morte cardíaca súbita em atletas de alta performance, representando mais do que 80% das mortes nesse grupo. O efeito agudo do exercício aumenta a chance de ruptura da placa, resultando em infarto do miocárdio em mais de 10 vezes, e esse risco é inversamente relacionado à quantidade de exercícios habituais realizados. Outras possibilidades de morte súbita em atletas incluem demanda isquêmica de uma coronária obstruída, vasoespasmo coronariano pelo aumento da atividade simpática, cardiomiopatias, miocardite, doenças valvares e ruptura da aorta.  Além disso, esportes de resistência estão associados com aumento transitório de biomarcadores como troponina e BNP.

Há evidência que atletas masters masculinos têm elevados escores de cálcio e maior prevalência de aterosclerose coronária evidenciado pela angiotomografia de coronárias quando comparados com controle.  O estudo MaARC avaliou 284 atletas de alta performance, do sexo masculino, de meia idade (+- 54,7 anos), e demonstrou que 94% tinham baixo ESC- score-10 anos, mas 16% tinham escore de cálcio > 100 AU.

O estudo MARC ainda estudou a relação entre DAC e taxa de exercício (MET-min/semana) em 284 atletas do sexo masculino. Os pacientes foram divididos em: atividades < 1000, 1000 a 2000 e > 2000 (MET-min/semana). Aqueles atletas que realizavam mais atividades físicas tinham escore de cálcio significativamente mais elevados e mais placas ateroscleróticas. Os mecanismos propostos são:  prolongado e repetido stress mecânico na coronária durante vigorosas contrações cardíacas, excessivo aumento da pressão arterial durante o exercício, aumento do hormônio paratireoide secundário a exercício e status pró inflamatório agudo, associado com repetidas sessões prolongadas de exercícios intensos.

Outro estudo avaliou 152 atletas master de alto rendimento com baixo escore de risco de Framingham e 92 controles. Cerca de um em cada 5 atletas tinham escore de cálcio >100 AU e 11.3% tinham >300 AU comparado com nenhum dos controles. Atletas do sexo masculino tinham significativamente maior proporção de placas calcificadas, consideradas estáveis, comparada com controles (72% vs. 31%; P= 0.0002) que tinham significativamente mais placas mistas, mas instáveis e com maior probabilidade de levar a SCA.

É possível que exercícios de alta performance, cronicamente, acelerem calcificação e estabilizem placas imitando o efeito protetor de altas doses de estatinas.  Estudos recentes sugerem que a presença de cálcio não confere o mesmo nível de risco entre atletas que realizam exercício intensivo como na população geral. Isso pode explicar resultados do estudo citado que, apesar de terem mais cálcio, aqueles atletas que faziam exercícios mais que 3000 MET-min/ semana não tinham um aumento na mortalidade comparado com indivíduos que realizavam 1500 a 3000 e < 1500 MET-min/semana.

Os autores chamam a atenção que há evidência de que uma proporção de atletas apresenta alto escore de cálcio coronário e maior carga de placa comparado com controles da mesma idade e com mesmo escore de Framingham e que, talvez, o uso do escore de cálcio como marcador para quantificar aterosclerose coronária e assim predizer morbimortalidade cardiovascular pode não ser válido em atletas como na população geral.

Referência: The heart of the ageing endurance athlete: the role of chronic coronary stress Gemma Parry-Williams 1 , Sabiha Gati 2 , and Sanjay Sharma. European Heart Journal (2021) 00, 1–8

 

 

 

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Sobre o autor

Thiago Midlej

Especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia​ e pelo Instituto do Coração da Faculdade de Medicina de São Paulo - I​NCOR​​.
Pós graduando da Unidade de Hipertensão do​​ I​NCOR​
Médico plantonista da Unidade Clínica de Emergência do INCOR
​​Cardiologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

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