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Estatinas na gestação: novos dados sobre o assunto

Escrito por Alexandre Lucena

Esta publicação também está disponível em: Português

As estatinas são drogas contraindicadas durante a gestação, classificadas como risco x (risco de malformação congênita) por muitos anos. Ano passado, o FDA fez uma sinalização de liberação para uso em situações especiais como pacientes de alto risco cardiovascular (principalmente para AVC), com DAC prévia e portadoras de dislipidemia familiar.

Agora, na virada do ano de 2021 para 2022 foi publicado um estudo retrospectivo de Taiwan (JAMA Network Open. 2021;4(12):e2141321. doi:10.1001/jamanetworkopen.2021.41321) que trouxe novos dados sobre o assunto. Os dados prévios falando contra o uso de estatinas na gestação possuíam limitações metodológicas.  Os melhores estudos sobre o tema são um artigo de Bateman at all (Bateman BT, Hernandez-Diaz S, Fischer MA, et al. Statins and congenital malformations: cohort study. BMJ. 2015;350:h1035. doi:10.1136/bmj.h1035) e uma revisão sistemática de 2016 (Karalis DG, Hill AN, Clifton S, Wild RA. The risks of statin use in pregnancy: a systematic review. J Clin Lipidol. 2016;10(5):1081-1090. doi:10.1016/j.jacl.2016.07.002). Ambos os estudos não mostram associação estatística do uso de estatina com malformação congênita.

Vamos ao estudo atual:

Foram 469 mulheres que usaram pelo menos 7 dias de estatina durante a gestação e um controle de 4.690 mulheres (1:10) pareadas por idade e comorbidades. O endpoint primário foi associação do uso de estatina com malformação congênita e o secundário avaliou associação com prematuridade, fetos pequenos (PIG), sofrimento fetal, baixo peso ao nascer (< 2.500g) e escala de Apgar no 1º e 5º minutos (abaixo de <7).

– Foram avaliadas tanto as estatinas lipofílicas (lovastatina, sinvastatina, fluvastatina, atorvastatina e pitavastatina) quanto hidrofílicas (pravastatina e rosuvastatina);

– O grupo de mulheres usando estatina tinha 41,8% de diabéticas (pré-gestacional) x 0,4% do grupo que não usou vastatina, do mesmo modo para HAS (25,8% estatina x 1,1% não-estatina);

– O grupo que usou estatina teve mais risco de desenvolver Pré-eclâmpsia/eclampsia que o grupo que não usou (RR, 2.78 [95% CI, 1.66-4.65]);

– Recém-nascidos de mães expostas às estatinas tiveram mais prematuridade (RR, 1.99 [95%CI, 1.46-2.71) baixo peso (RR, 1.51 [95%CI, 1.05-2.16]) e escala de Apgar <7 no 1º minuto (RR, 1.83 [95%CI, 1.04-3.20]);

Não houve associação entre a exposição a estatinas durante a gestação e a presença de malformação congênita nos récem-nascidos.

– A malformação congênita se associou com a presença do diabetes pré-gestacional (RR, 2.29 [95%CI, 1.38-3.80]);

– Gestantes que foram expostas a estatinas, sem DM ou HAS, tiveram mais parto prematuro (RR, 1.88 [95%CI, 1.28-2.75]) tanto para hidrofílicas quanto para lipofílicas. As estatinas lipofílicas foram associadas com mais baixo peso (< 2.500g) e as hidrofílicas com escala de Apgar < no 1º minuto.

Vamos à discussão:

A associação de malformação congênita por interferência na síntese de colesterol intraútero parece cada vez mais distante. Ainda não temos um bom estudo prospectivo com acompanhamento no pós-parto longo para termos a liberação ao uso, mas esse estudo corroborou a recomendação do FDA para uso em gestantes de alto risco.

O uso de estatina já foi estudado para prevenção de pré-eclâmpsia. Nesse estudo, o grupo das mulheres expostas ao uso tiveram mais PE do que quem não usou, mas era um grupo de alto risco com mais diabéticas e hipertensas crônicas, e o estudo não foi desenhado para isso.

Chama nossa atenção a associação da exposição intraútero de estatina e a prematuridade e baixo peso, mesmo em gestantes sem DM ou HAS, sugerindo efeito da droga no crescimento fetal. Mais uma vez carecemos de outros estudos para resolvermos essa hipótese.

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Alexandre Lucena

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