Atividade Física

Exercício físico em ambientes com poluição – Existe algum risco cardiovascular ?

Escrito por Silvio Póvoa

Esta publicação também está disponível em: Português

Hoje entende-se a poluição como um possível fator de risco cardiovascular. Mas seria seguro o exercício físico em ambientes com altos índices de poluição?

Em 2008, nas Olimpíadas de Pequim, muito se debateu sobre a poluição nessa cidade e se isso não poderia comprometer a saúde dos atletas ou até mesmo piorar a sua performance. Na Coreia de Sul, de forma muito interessante, 97% da população tem acesso ao sistema de saúde. A cada 2 anos, indivíduos com mais de 20 anos são avaliados clinicamente e com exames de rastreio1.  Uma das formas de avaliar a poluição de um local é dosando a quantidade de partículas com menos de 10 µm no ar (PM10) e as com menos de 2.5  µm (PM2.5)

Kim et Al em 2020 avaliaram o grau de atividade física em indivíduos com mais de 40 anos e sua exposição a partículas PM10 e PM2.5 . Notou-se o exercício físico moderado ou intenso, independentemente de baixas ou altas taxas de poluição, se associou à redução de doenças cardiovasculares.

 

O mesmo autor, em 2021, publicou no periódico European Heart Journal um interessante trabalho2   no qual buscou avaliar como se comportaria a mudança da prática de exercício físico de acordo com os níveis de poluição:

– locais de baixa e moderada poluição

– locais de alta poluição.

Indivíduos entre 20-39 anos de idade sem doenças cardiovasculares foram avaliados quanto a evolução da prática de atividade física semanal na primeira visita ao médico (anos de 2009 e 2010) e na segunda visita (2011 e 2012).

 

A atividade física era avaliada através de questionários autoadministrados, com o recordatório dos últimos 7 dias.

A subdivisão de intensidade foi feita de forma que:

 

Baixa intensidade: >30min / dia . Entre 2.9 e 4.0 METS

Moderada intensidade: >30 min/dia .  Entre 4.0 e 7.0 METS

Alta intensidade: > 20 min/dia  . Mais de 7 METS: A dose semanal foi calculada em MET-min/semana , de forma que se subdividiu o estudo em 4 grupos: 0 MET-min/semana 1-499 MET-min/semana 500-999 MET-min/semana > 1000 MET-min/semana

 

A exposição a poluição foi calculada de acordo com a exposição a poluição( PM10 e PM2.5 ) dos locais de residência dos indivíduos nos últimos 4 anos.

 

    Resultados do estudo

  1. Como esperado, na população de quem tinha pouca exposição á poluição, reduzir o nível de atividade física se associou a aumento de risco cardiovascular , assim como aumentar a atividade física se associou a diminuição do risco.
  2. Na população exposta a altas taxas de poluição o aumento de atividade física se associou com aumento dos desfechos cardiovasculares, inferindo um provável efeito deletério da poluição sobrepujante ao benefício da atividade física.

 

Potenciais vieses e fatores confundidores

  1. O trabalho avaliou a prática de atividades físicas apenas por questionário, não tendo checado a real adesão á prática
  2. Não se avaliou se a prática de atividade física era indoor ou outdoor, algo que poderia ser importante dentro de um contexto de poluição
  3. Não necessariamente as pessoas se exercitam próximo do lugar onde vivem. Dessa forma, utilizar o endereço residencial para avaliar a exposição à poluição no esporte pode não demonstrar a real exposição

 

Como a poluição pode causar doenças cardiovasculares3-7 ?

 

Partículas de PM2.5 diretamente entram na Corrente Sanguínea e depositam-se em órgãos alvo causando

Vasoconstrição

Disfunção endotelial

Aumento de Pressão Arterial

Aumento agregação plaquetária

 

Além disso, há ativação Sistema nervoso autônomo através de receptores pulmonares . O desbalanço autonômico pode ser um dos fatores promotores ou que corroboram arritmias.

 

Como a Atividade física reduz o risco de Doenças cardiovasculares8-11?

Melhora função cardiopulmonar

Melhora de capacidade aeróbica

Reforça condicionamento cardiorrespiratório

Melhora a complacência e reatividade de vasos sanguíneos

Melhora o sistema imunológico

Melhora o débito cardíaco

Melhora perfil de Lípides, HBA1c, Glicemia, resistência insulínica

 

Opinião do autor: O que podemos tirar como informações pra prática clínica desse estudo e como orientar nossos pacientes sobre exercício físico em ambientes com poluição ?

1) é importante reforçar a manutenção e/ou aumento da prática de atividade física em adultos jovens saudáveis

2) é importante que medidas de controle de poluição ocorram de forma a minimizar a exposição das pessoas a fatores poluentes (PM2.5 e PM10). No estudo, aumento de atividade física em locais de alta de poluição se associou com aumento de eventos cardiovasculares.

3) No momento de orientar seu paciente converse sobre o local que ele tem se exercitado.  Se possível, estimule-o a praticar em locais arborizados e com menor poluição.

4) a Medicina deve buscar junto às entidades públicas medidas para redução da poluição

 

(Quer saber mais sobre exercício e eventos cardiovasculares? Checa este post: https://d3gjbiomfzjjxw.cloudfront.net/exercicio-fisico-diminui-mortalidade-em-paciente-com-doenca-arterial-coronaria/)

Referências

 

  1. Kim SR, Choi S, Keum N, Park SM. Combined Effects of Physical Activity and Air Pollution on Cardiovascular Disease: A Population-Based Study. J Am Heart Assoc. 2020 Jun 2;9(11):e013611. doi: 10.1161/JAHA.119.013611. Epub 2020 May 23. Erratum in: J Am Heart Assoc. 2020 Aug 18;9(16):e014563. PMID: 32448042; PMCID: PMC7429004.
  2. Kim SR, Choi S, Kim K, Chang J, Kim SM, Cho Y, Oh YH, Lee G, Son JS, Kim KH, Park SM. Association of the combined effects of air pollution and changes in physical activity with cardiovascular disease in young adults. Eur Heart J. 2021 Jul 1;42(25):2487-2497. doi: 10.1093/eurheartj/ehab139. PMID: 33780974. (https://academic.oup.com/eurheartj/article/42/25/2487/6189959?login=false)
  3. Strak M, Boogaard H, Meliefste K, Oldenwening M, Zuurbier M, Brunekreef B, Hoek G. Respiratory health effects of ultrafine and fine particle exposure in cyclists. Occup Environ Med 2010;67:118–124.
  4. Giles LV, Koehle MS. The health effects of exercising in air pollution. Sports Med 2014;44:223–249.
  5. Brook RD, Rajagopalan S, Pope CA, 3rd, Brook JR, Bhatnagar A, Diez-Roux AV, Holguin F, Hong Y, Luepker RV, Mittleman MA, Peters A, Siscovick D, Smith SC, Jr., Whitsel L, Kaufman JD; American Heart Association Council on Epidemiology and Prevention, Council on the Kidney in Cardiovascular Disease, and Council on Nutrition, Physical Activity and Metabolism. Particulate matter air pollution and cardiovascular disease: an update to the scientific statement from the American Heart Association. Circulation 2010;121:2331–2378.
  6. Dockery DW, Stone PH. Cardiovascular risks from fine particulate air pollution. N Engl J Med 2007;356:511–513.
  7. Shrey K, Suchit A, Deepika D, Shruti K, Vibha R. Air pollutants: the key stages in the pathway towards the development of cardiovascular disorders. Environ Toxicol Pharmacol 2011;31:1–9.
  8. Williams MA, Haskell WL, Ades PA, Amsterdam EA, Bittner V, Franklin BA, Gulanick M, Laing ST, Stewart KJ; American Heart Association Council on Clinical Cardiology; American Heart Association Council on Nutrition, Physical Activity, and Metabolism. Resistance exercise in individuals with and without car- diovascular disease: 2007 update: a scientific statement from the American Heart Association Council on Clinical Cardiology and Council on Nutrition, Physical Activity, and Metabolism. Circulation 2007;116:572–584.
  9. Garber CE, Blissmer B, Deschenes MR, Franklin BA, Lamonte MJ, Lee IM, Nieman DC, Swain DP; American College of Sports Medicine. American College of Sports Medicine position stand. Quantity and quality of exercise for develop- ing and maintaining cardiorespiratory, musculoskeletal, and neuromotor fitness in apparently healthy adults: guidance for prescribing exercise. Med Sci Sports Exerc 2011;43:1334–1359.
  10. Bassuk SS, Manson JE. Epidemiological evidence for the role of physical activity in reducing risk of type 2 diabetes and cardiovascular disease. J Appl Physiol (1985) 2005;99:1193–1204.
  11. Alvarez-Guardia D, Palomer X, Coll T, Serrano L, Rodr ́ıguez-Calvo R, Davidson MM, Merlos M, El Kochairi I, Michalik L, Wahli W, Va Vazquez-Carrera M. PPARbeta/delta activation blocks lipid-induced inflammatory pathways in mouse heart and human cardiac cells. Biochim Biophys Acta 2011;1811:59–67.

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