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Fragilidade e doença cardiovascular: o que você precisa saber?

Escrito por Remo Holanda

Esta publicação também está disponível em: Português

A fragilidade pode ser definida como uma síndrome clínica de aumento da vulnerabilidade resultante do envelhecimento e associada com declínio da reserva funcional em múltiplos sistemas fisiológicos, comprometendo a habilidade de lidar com as adversidades do dia a dia1. Tal característica tende a ser marcante à medida que o indivíduo envelhece, sendo a prevalência de fragilidade em pacientes idosos entre 4,0% a 59,1%, a depender da população estudada e dos critérios utilizados2. Uma revisão recente publicada no periódico Journal of the American College of Cardiology por Ijaz e cols. traz alguns aspectos importantes abordando este tema. Eis um resumo dos principais pontos:

Diversos escores já foram desenvolvidos a fim de se avaliar fragilidade, embora não haja um consenso de qual deles seja o melhor. Alguns levam em conta somente o domínio físico, como velocidade da marcha ou força do aperto de mão, enquanto outros ainda incluem questões cognitivas e psicossociais. Um escore útil e de fácil à beira leito é o escore FRAIL, um mnemônico para as 5 perguntas : fatigue (o paciente se sente fadigado ou com pouca energia a maior parte do tempo?), resistance  (o paciente é incapaz de subir um ou mais lances de escadas?), ambulation (o paciente é incapaz de caminhar um ou mais quarteirões?), llness (o paciente tem mais de 5 doenças crônicas?), e loss of weight (o paciente perdeu mais de 5% de seus peso nos últimos 6 meses?). A resposta SIM a três ou mais destas perguntas sugere  que o paciente tem fragilidade4.

A relação entre fragilidade e doença cardiovascular é bidirecional, ou seja, pacientes mais frágeis tentem a ter maior mortalidade e taxas de complicações durante internação por doenças ou procedimentos cardiovasculares. Além disso, a própria doença cardiovascular ou a hospitalização podem resultar em aumento da fragilidade.

– A fragilidade é um processo dinâmico, em que um mesmo paciente pode a depender de intervenções e recuperação da doença de base mudar do status de frágil a não frágil ao longo do tempo. Estima-se que ao longo de 4 anos cerca de metade dos pacientes mudam o seu status, incluindo casos em que a fragilidade pode ser revertida5.

Poucas intervenções são comprovadamente eficazes no sentido de reduzir a fragilidade. Talvez a mais estudada seja o treinamento físico ou reabilitação cardíaca. Por exemplo, no estudo REHAB-HF, que randomizou 349 pacientes hospitalizados por insuficiência cardíaca descompensada, a reabilitação cardíaca resultou em melhoria na funcionalidade física, qualidade de vida e nos escores de fragilidade6. Alguns ensaios clínicos randomizados em andamento estão testando intervenções farmacológicas, entre elas suplementos alimentares, metformina e injeções de testosterona.

Embora este seja um campo ainda com muitas lacunas do conhecimento, reconhecer e considerar a intervenção sobre a fragilidade é essencial no cuidado cardiovascular. Além disso, muitas terapias comumente utilizadas em cardiologia (como anti-trombóticos, hipolipemiantes e anti-hipertensivos) precisam ser mais bem estudadas de acordo com o índice de fragilidade dos pacientes, no sentido de se evitar potenciais efeitos deletérios e ao mesmo tempo preservar o benefício comprovado de tais terapias na redução de eventos cardiovasculares.

Quer saber mais sobre fragilidade? temos um podcast sobre o assunto. Segue o vídeo:

REFERÊNCIAS

  1. Fried LP, Tangen CM, Walston J, et al. Frailty in older adults: evidence for a phenotype. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2001;56 :M146–M156.
  2. Collard RM, Boter H, Schoevers RA, Oude Voshaar RC. Prevalence of frailty in community dwelling older persons: a systematic review. J Am Geriatr Soc. 2012; 60: 1487–1492.
  3.  Ijaz, N, Buta B, Xue QL et al. J Am Coll Cardiol. 2022; 79: 482–503.
  4. Morley JE, Malmstrom TK, Miller DK. A simple frailty questionnaire (FRAIL) predicts outcomes in middle aged African Americans. J Nutr Health Aging. 2012; 16: 601–608.
  5. Gill TM, Gahbauer EA, Allore HG, Han L. Transitions between frailty states among community-living older persons. Arch Intern Med. 2006; 166: 418–423.
  6. Kitzman DW, Whellan DJ, Duncan P, et al. Physical rehabilitation for older patients hospitalized for heart failure. N Engl J Med. 2021; 385: 203–216.

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