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Insuficiência venosa periférica: como tratar?

Escrito por Eduardo Sansolo

Esta publicação também está disponível em: Português

A insuficiência venosa crônica (IVC) é uma síndrome causada pela hipertensão venosa de longa data ocasionando alterações nas veias propriamente ditas e nos tecidos que as cercam. Pode ser de etiologia primária por lesões das paredes das veias e suas válvulas ou secundária como após um episódio de trombose venosa profunda ou uma fístula arteriovenosa (FAV). Esta síndrome abrange desde condições mais simples como as telangiectasias e veias reticulares até graus mais avançados com lesões tróficas e úlceras nas pernas.

O êxito do tratamento clínico depende da observação de que a IVC é uma doença crônica, de caráter evolutivo, sujeita a recidivas e que, portanto, necessita de revisões periódicas. A base é composta pelo tripé: medidas gerais, terapia compressiva, terapia medicamentosa.

Medidas gerais 

            O paciente varicoso deve ser conscientizado da importância das seguintes medidas:

  1. Evitar a imobilidade dos membros inferiores. Tanto o ortostatismo como a posição sentada prolongada são prejudiciais;
  2. Não usar roupas que garroteiem os membros e dificultem o retorno venoso;
  3. Sapatos sem saltos ou com saltos muito altos são desaconselháveis por prejudicarem a ação da bomba muscular da panturrilha;
  4. Combater a obesidade;
  5. Diminuir ou descontinuar uso de medicações à base de hormônios femininos (anticoncepcionais orais).

Terapia compressiva

A compressão é o pilar fundamental no tratamento da IVC e o único método terapêutico que, empregado isoladamente, é capaz de se opor às altas pressões patológicas alterando o desenvolvimento das doenças venosas. A terapia compressiva se divide em inelástica ( realizada através de bandagens para cicatrização de úlceras) e elástica. Vamos nos ater a esta última por sua maior relevância para os médicos não angiologistas.

A elastocompressão ou compressão elástica é feita em 90% dos casos através do uso das meias elásticas. Estas foram inventadas em 1839 por Charles Goodyear que, realizando a vulcanização da borracha e misturando-a aos tecidos obteve a propriedade elástica tal qual conhecemos hoje.

As meias funcionam para o sistema venoso superficial fazendo o papel da aponeurose para o sistema profundo: fornecendo um compartimento de maior pressão e otimizando o bombeamento muscular. A compressão pelas meias possui alguns benefícios fundamentais para o alívio da IVC, quais sejam:

-graduada: maior ao nível do tornozelo e decrescendo proximalmente;

– aumenta a resistência instersticial reduzindo o extravasamento nos capilares;

-decresce em direção aos planos profundos tendo máxima eficácia nos superficiais.

Classificação das meias elásticas

  • Preventivas – compressão abaixo de 15 mmHg. Dispensam receita médica.
  • Terapêuticas – compressão acima de 15 mmHg. Indispensável orientação médica.

As meias classificam-se conforme o quadro abaixo:  

Dentre as meias medicinais ou terapêuticas temos a classificação quanto ao grau de compressão:

  • Leve –       15 a 20 mmHg
  • Moderada- 20 a 30 mmHg
  • Alta-         30 a 40 mmHg
  • Altíssima- 40 a 50 mmHg

Indicações

Segundo o International Compression Club as meias elásticas possuem as seguintes indicações de uso:

15-20 mmHg

-Tratamento de telangiectasias e veias reticulares;

-Alívio da sensação de fadiga nas pernas;

-Viagens de longa distância.

20-30 mmHg

Varizes dos membros inferiores;

-Edemas leves;

-Tratamento de varizes gravídicas;

-Após escleroterapia.

30-40 mmHg

-Varizes com edema e fibrose intersticial;

-Angiodisplasias;

-Tratamento do linfedema

Comprimentos

Quanto ao comprimento, as meias podem ser: ¾, 7/8 e meia-calça. Seu comprimento deve cobrir todo segmento acometido por doença.

As meias preventivas ou de 15-20 mmHg são suficientes as ¾, uma vez que sua função é apenas prevenir ou tratar doença extremamente inicial.

As meias 30-40 mmHg são empregadas para IVC’s em estágio mais avançado e que frequentemente possuem comprometimento de coxa, necessitando comprimento 7/8 ou meia-calça.

Quanto às meias de 20-30 mmHg (média compressão), se houver evidência de varizes em coxas ou fossa poplítea, estas devem ser maiores que as ¾ (7/8 ou meia-calça).

Contra-indicações

  • Doença arterial obstrutiva periférica – ITB <0,9
  • Linfangites e erisipelas
  • Eczemas de pele
  • ICC descompensada
  • Alergias de contato
  • Desproporção membro x meia.

Orientações de uso

  • Vestir a meia logo após levantar da cama
  • Não dormir com a meia
  • Não deixar pregas e rugas
  • Não usar anéis ou acessórios para calçá-la
  • Trocar a cada 6 meses.

Terapia medicamentosa

Apesar do avanço do uso de medicamentos em diversos setores da medicina, no campo da doença venosa a farmacologia tem proporcionado pouco resultado. Até agora, nenhum medicamento mostrou resultado na resolução das veias varicosas. As medicações flebotônicas possuem efeito na melhora sintomática da IVC (dor em queimação, sensação de peso, edema, câimbras). Em regiões de clima quente, como no Brasil, é baixa a adesão à terapia compressiva. Assim, as medicações venotônicas são bastante utilizadas.

Essas substâncias atuam reduzindo a quantidade de proteínas que são extravasadas pelos capilares e favorecem a degradação delas pelos macrófagos, diminuindo a pressão oncótica deste compartimento. São destinados a reduzir o extravasamento de líquidos pelos capilares e aumentar o tônus da musculatura venosa e da peristalse linfática. Uma das desvantagens é que a melhora sintomática está relacionada com o uso prolongado de maneira que, com sua interrrupção, os sintomas retornam.

Referências bibliográficas:

  • Beebe HG, Bergan JJ, Bergqvist D, Eklof B, Ericksson I, Goldman MP, et al. Classification and grading of chronic venous disease in the lower limbs. A consensus statement: February 22-26
  • Agus GB, Allegra C, Antignani PL et al. Guidelines for the Diagnoses and Therapy of the Vein and Lymphatic Disorders. Int Angiol 2007; 24: 107-168.
  • Labropoulos N, Leon M, Volteas N et al. Acute and Long term effect of elastic stockings in patients with varicose veins. Int Angiol 1997; 13: 119-23.
  • Van Geest AJ, Veraart JCJM, Nelemans P et al. The effect of medical elastic compression stockings with different slope value on edema. Measurement underneath three different type of stockings. Dermatol Surg 2005; 26:244-7
  • Hladovec J. Vasotropic drugs: a survey based on a unifying concept of their mechanism of action. Drus Res 1977; 27:1073
  • Tsouderos Y. Are the phlebotonic properties shown in clinical pharmacology predictive of a therapeutic benefit in chronic venous insufficiency? Int Angiol 1998; 8:53

 

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