Coronariopatia

Inteligência artificial e coronariopatia: o futuro chegou?

Escrito por Dirceu Melo

Esta publicação também está disponível em: Português Español

Estudo recente publicado no European Heart Journal avaliou uso de ferramentas de inteligência artificial para o diagnóstico de coronariopatia.  Trata-se de um estudo prova de conceito, que tinha com principal objetivo demonstrar a viabilidade de um algoritmo de deep learning para identificar dac obstrutiva através de reconhecimento facial.

A ideia de que algumas características faciais podem ser preditoras de doença coronária  não é recente. E já se sabe que calvície, xantelasmas,  arco corneano e sulco no lóbulo da orelha são marcadores de risco cardiovascular.  No entanto, essa correlação é difícil de quantificar e de reproduzir em grandes estudos. Nesse sentido, o uso da inteligência artificial surge como ferramenta interessante, já que os algoritmos são capazes de identificar e quantificar padrões que fogem à percepção humana.

Esse é um estudo transversal em que foram selecionados pacientes de 9 centros da China em programação de realizar cateterismo ou angiotomografia de coronárias (idade média 59 anos). Na primeira fase,  cerca de 5.800 pacientes foram recrutados  para a etapa de “treinamento” da plataforma. Todos os pacientes foram submetidos a um protocolo de coleta de dados clínicos e de fotos faciais que foram correlacionadas com os respectivos resultados das coronariografias. O exames de imagem foram laudados por pelo menos dois radiologistas independentes e cegos para os outros dados. Em seguida, foram construídos algoritmos com redes neurais de deep learning para identificar, com base em características das fotos faciais, pacientes com obstrução coronária ≥ 50%. Na segunda fase, foi realizado o teste da ferramenta em uma amostra de 1013 pacientes. O método foi comparado com método tradicionais de predição de DAC (ex: Diammond-Forrester e CAD consortium)

Alguns pontos de destaque:

  1. O algoritmo apresentou sensibilidade de 80% e especificidade de 54% para a presença de dac ≥ 50%. Na curva ROC, a área sob a curva foi 0,73 e superior à de escores clínicos como Diammond-Forrester e CAD Consortium
  2. A criação de um modelo misto, incluindo dados clínicos e dados das fotos faciais não foi superior ao algoritmo isoladamente
  3. O algoritmo teve melhor desempenho em pacientes com maior probabilidade pré-teste de dac: angina típica e maior número de fatores de risco para dac

Mas, afinal, qual o racional utilizado pelo algoritmo?

Além de avaliar características faciais como idade, sexo, presença de calvície, rugas, xantelasmas e formato do lóbulo da orelha, o algoritmo também foi capaz de identificar (com moderada acurácia) fatores de risco cardiovasculares como hipertensão, dislipidemia, diabetes, tabagismo e IMC.  Outro dado intrigante, é que características relacionadas ao contorno da testa, nariz e queixo foram as que mais tiveram peso no algoritmo. E para comprovar esse achado, os pesquisadores realizaram testes de “oclusão” de algumas regiões, o que causou impacto no desempenho da ferramenta.

Esse estudo nos trás uma amostra das contribuições que a inteligência artificial pode trazer para a cardiologia. Não é difícil imaginarmos um futuro breve em que ferramentas como essa estejam disponíveis em nossos celulares, auxiliando na estratificação de risco para dac dos pacientes. Para tanto, ainda há um caminho a seguir, com a validação dos algoritmos em estudos maiores e em diferentes países e etnias.

 Lin S et al. Feasibility of using deep learning to detect coronary artery disease based on facial photo. European Heart Journal (2020) 41, 4400–4411

Banner Atheneu

Banner Atheneu

Banner Atheneu

Banner ECG

Deixe um comentário

Sobre o autor

Dirceu Melo

Deixe um comentário

Seja parceiro do Cardiopapers. Conheça os pacotes de anúncios e divulgações em nosso MídiaKit.

Anunciar no site