Arritmia Síncope

Já ouviu falar da síndrome da taquicardia pós-COVID-19?

Escrito por Pedro Veronese

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Síndrome pós-infecção aguda de COVID-19 (PACS) é uma nova síndrome clínica definida como sinais e/ou sintomas que persistem por 4 a 12 semanas (ou mais) após a infecção por SARS-CoV2. Os sintomas incluem fadiga, dor torácica, redução na tolerância ao exercício, déficit cognitivo, dispneia, febre, cefaleia, perda de olfato e paladar, palpitações etc. Taquicardia é um sintoma frequentemente relatado por pacientes com PACS. Em um recente artigo publicado no The American Journal of Medicine, https://doi.org/10.1016/j.amjmed.2021.07.004, pesquisadores destacam que a síndrome da taquicardia pós-COVID-19 deve ser reconhecida como uma apresentação distinta de PACS.

Os cientistas começaram a notar um grande número de pacientes com síndrome da taquicardia postural ortostática (SPOT) e outras formas de taquicardia relacionadas à COVID-19 no ambulatório de clínica pós-alta do Hospital da Universidade de Karolinska. SPOT é um quadro de disautonomia cardiovascular associada à taquicardia sinusal e intolerância ortostática, caracterizada pela presença náusea, vertigem, dispneia, cansaço e pré-síncope. Para uma breve revisão de SPOT, veja o vídeo abaixo:

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=4mdb0IhJgBE]

Entretanto, é importante destacar que SPOT não é a única causa de taquicardia em pacientes com PACS, sendo taquicardia sinusal inapropriada, descondicionamento físico, hipóxia, ansiedade, disfunção do nó sinusal, miocardite, insuficiência cardíaca e febre persistente outros diagnósticos relevantes.

Não é novidade que SPOT possa ser causada por infecções virais, mas a descrição pós-infecção por SARS-CoV2 é recente. Portanto, a sua evolução e tratamento ainda estão em debate na comunidade médica. Apesar de ser uma doença cuja fisiopatologia não é totalmente conhecida, acredita-se que haja um componente de autoimunidade. A infecção pelo SARS-CoV2 poderia levar a uma resposta autoimune com formação de anticorpos que atuam agredindo o sistema nervoso autonômico.

Esses pacientes devem ser avaliados de forma global para se afastar todas as causas de taquicardia citadas acima. Havendo suspeita de SPOT, um tilt test e Holter de 24h devem ser solicitados. Uma vez fechado o diagnóstico de SPOT, pode ser necessário a prescrição de propranolol ou ivabradina, uso de meias elásticas entre outros acessórios de compressão, aumento da hidratação e reabilitação ortostática. Os autores destacam que esses achados são mais frequentes em pacientes que experimentam a forma grave da doença.

Exemplo de tilt test em paciente com SPOT:

Nota-se que quando é feito a inclinação da mesa (tilt), a frequência cardíaca sobe mais do que 30 bpm (linha vermelha na parte superior do gráfico)

Comentário do Cardiopapers

Destaco que a síndrome pós-infecção aguda de COVID-19 (PACS) é uma síndrome com definições imprecisas e que apresenta vários vieses. Os estudos que a descreve têm metodologias variadas e ausência de grupo controle. Vários são os fatores confundidores produzidos pela pandemia como por exemplo sedentarismo, ganho ponderal, ansiedade etc., que em maior ou menor proporção podem justificar as queixas dos pacientes.

Outro ponto fundamental é que a maior parte dessas evidências vêm de ambulatórios pós-alta, ou seja, de pacientes que tiveram formas graves da doença com necessidade de internação. A maioria dos pacientes com forma leve não experimentarão sintomas de PACS.

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Sobre o autor

Pedro Veronese

Médico Especialista em Clínica Médica pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
Cardiologista, Arritmologista e Eletrofisiologista pelo InCor-HCFMUSP.
Médico Especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia - SBC.
Médico Especialista em Arritmia Clínica e Eletrofisiologia pela Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas - SOBRAC.
Médico do Centro de Arritmias Cardíacas do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Doutor em Cardiologia pelo InCor - HCFMUSP.
Preceptor da Residência de Clínica Médica do Hospital Estadual de Sapopemba e Hospital Estadual Vila Alpina.
Médico Chefe de Plantão do Pronto Socorro Central da Santa Casa de São Paulo.
Professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Professor da Faculdade de Medicina UNINOVE.

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