Arritmia

Manutenção do Ritmo Sinusal na FA, Sim ou Não? Eis a Questão!

Escrito por Pedro Veronese

Esta publicação também está disponível em: Português

A manutenção do ritmo sinusal (RSN) em pacientes com fibrilação atrial (FA) ainda é um tema em debate na literatura médica. A permanência do paciente em FA, principalmente com alta resposta ventricular, pode levar a remodelamento cardíaco do ventrículo esquerdo (VE) por taquicardiomiopatia. Tentando trazer novos elementos para esta discussão, um recente estudo publicado no JACC avaliou parâmetros ecocardiográficos nesta população.

Foram avaliados 117 pacientes consecutivos, hospitalizados por FA. Estes foram submetidos a ecocardiograma transtorácico (ECOTT) na admissão, 6 meses e 12 meses após. Durante o follow-up de 12 meses se definiu 3 grupos: Grupo FA (ausência de restauração do RSN, n = 39), Grupo RSN ativo (RSN mantido ativamente por meio de cardioversão elétrica e/ou ablação e/ou antiarrítmicos, n = 47) e o Grupo RSN espontâneo (RSN restaurado espontaneamente < 24h após a admissão, n = 31).

O Grupo RSN ativo apresentou diminuição do volume indexado (VI) atrial, Volume sistólico final do ventrículo direito (VD), um aumento do Volume diastólico final do VE e melhora da função das 4 câmaras cardíacas. O Grupo FA teve um aumento do Volume diastólico final do AE e do Volume diastólico e sistólico final do VD, sem modificação da função das 4 câmaras. O Grupo RSN espontâneo não apresentou alterações nos Volumes ou função das câmaras. Os autores encontraram uma melhora em relação aos valores basais na gravidade da regurgitação funcional em pacientes com restauração ativa do RSN (tricúspide e mitral) e restauração espontânea do RSN (tricúspide). Na análise multivariada, o remodelamento reverso do AE e AD se correlacionou exclusivamente com intervenção (cardioversão e/ou ablação) durante o follow-up de 12 meses.

Os pesquisadores concluem que o manuseio da FA deve objetivar a restauração do RSN para se induzir remodelamento reverso anatômico e/ou funcional (das 4 câmaras) e reduzir a gravidade da regurgitação funcional das valvas atrioventriculares.

Comentário Cardiopapers:

Esses dados devem ser analisados com cautela, pois o estudo apresenta uma série de limitações. O cegamento para a realização do ecocardiograma é impossível, pois o operador consegue saber se o paciente se encontra em FA ou não. Este fator por si só já representa uma limitação, além do fato de que realizar todas as medidas pertinentes pode ser muito mais desafiador na vigência de FA do que na sua ausência.

Foram avaliados apenas pacientes internados por FA, possivelmente mais graves do que os ambulatoriais. Podemos expandir esses achados para os pacientes ambulatoriais? O tempo de follow-up é pequeno, apenas 12 meses. A densidade da arritmia e a sua recorrência não foi avaliada de forma mais detalhada por meio de Holter de 24h e loop recorder. E por último, destacaria não haver desfechos clínicos avaliados, apenas substitutos.

Bibliografia:

  1. https://doi.org/10.1016/j.jacc.2021.12.029

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Sobre o autor

Pedro Veronese

Médico Especialista em Clínica Médica pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
Cardiologista, Arritmologista e Eletrofisiologista pelo InCor-HCFMUSP.
Médico Especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia - SBC.
Médico Especialista em Arritmia Clínica e Eletrofisiologia pela Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas - SOBRAC.
Médico do Centro de Arritmias Cardíacas do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Doutor em Cardiologia pelo InCor - HCFMUSP.
Preceptor da Residência de Clínica Médica do Hospital Estadual de Sapopemba e Hospital Estadual Vila Alpina.
Médico Chefe de Plantão do Pronto Socorro Central da Santa Casa de São Paulo.
Professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Professor da Faculdade de Medicina UNINOVE.

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