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Meu escore de cálcio (EC) é zero: posso dormir tranquilo? – parte I

Escrito por Alexandre Volney

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Manolo é o um indivíduo boa praça. Tem 55 anos, hipertenso e dislipidêmico. Até toma seus remédios direitinho, mas adora um churrasco e não gosta muito de atividade física (“cansa demais…“). Recentemente teve um desconforto torácico prolongado enquanto assistia o jogo do seu time de futebol. Achou meio estranho, mas como o sintoma melhorou resolveu dar uma passada no pronto socorro no dia seguinte. Foi avaliado clinicamente e fez um eletrocardiograma que estava normal. Por acaso lembrou que estava no carro um exame moderno que o médico tinha indicado, um tal de escore de cálcio e mostrou para o plantonista que olhou o resultado: escore de cálcio zero. Disse então: “Seu Manolo, pode ir pra casa. Não tem nada no coração…. “ Será que a conduta foi correta?

Antes de discutir essa conduta vamos lembra para que serve o escore de cálcio (EC)? (veja aqui). O EC é um marcador de aterosclerose subclínica com o melhor desempenho em predizer eventos cardiovasculares futuros em pacientes ASSINTOMÁTICOS na comparação com as demais metodologias não invasivas (veja aqui).

O fato de ser um exame rápido na execução e análise, sem necessidade de nenhum preparo ou estresse farmacológico, com uso de baixa dose de radiação e sem contraste iodado, o alçaria a condição de um exame de grande valor para a triagem de pacientes sintomáticos com suspeita de sindrome coronária aguda

Assim, sub-análises de grandes estudos como o Core 64 e o CONFIRM testaram o método no contexto de dor torácica aguda, demonstrando que, em pacientes SIMTOMÁTICOS, o EC apresenta alto valor preditivo negativo, porém com valor preditivo positivo baixo, sendo considerado inadequado para excluir com segurança a presença de DAC significativa, particularmente em populações com elevada prevalência de doença coronária.
Ainda que a conclusão desses estudos seja desfavorável, vale a pena considerar que nenhum método diagnóstico não invasivo é isento de erros. Então deve-se analisar quanto uma metodologia pode reduzir a probabilidade de doença, favorecendo o raciocínio clínico. No caso do estudo CONFIRM, o EC apresentou uma razão de probabilidade negativa (RP= 0,19) capaz de promover mudança moderada na probabiliade pré-teste, sendo possível sua utilização em pacientes de baixo risco, por exemplo.

Mesmo assim, no âmbito da avaliação de dor torácica aguda, a ausência de calcificação coronária através do EC pode subestimar a carga aterosclerótica do indivíduo, uma vez que um percentual não desprezível de pacientes que se apresentam com síndrome coronária aguda (SCA) tem EC baixo ou zero, não sendo a melhor metodologia para a exclusão segura de estenose coronária significativa, principalmente considerando-se a probabilidade pré-teste maior que moderada. Dessa forma, a utilização isolada do EC na sala de emergência é bastante limitada e não recomendada de rotina (como no caso apresentado), embora possa ser utilizada em contextos clínicos específicos, dependendo da probabilidade pré-teste de doença coronária.

 

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Sobre o autor

Alexandre Volney

Residência em Clínica Médica pelo Hospital do Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo (HC-FMUSP, 2007)
Residência em Cardiologia pelo Instituto do Coração (InCor-HCFMUSP, 2009),
Especialização em Tomografia e Ressonância Cardiovascular (InCor-FMUSP, 2009-2011)
Especialista em Ecocardiografia (SBC)

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