Miscelânia

Uso abusivo dos Benzodiazepínicos: como reduzir?

Escrito por Eduardo Lapa

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O aumento do tratamento de distúrbios de ansiedade e insônia está associado ao uso abusivo de benzodiazepínicos (BZP). São medicamentos utilizados devido suas propriedades ansiolíticas, sedativas e hipnóticas e apesar do comprovado benefício para o manejo de desordens convulsivas e transtornos de ansiedade, o uso dos BZP por mais de 06 semanas não apresenta benefícios, e aumenta o risco de efeitos adversos e dependência.

Os eventos adversos comuns associados aos BZP são: sonolência, letargia, fadiga e efeitos de ressaca. Tais medicamentos podem comprometer a habilidade de dirigir, aumentando o risco de acidentes de trânsito, além de quedas e fraturas. A associação do uso crônico dos BZP com atrofia cerebral e demência permanece controversa.

Atualmente vem se reconhecendo o benefício na retirada dos BZP, principalmente na saúde dos idosos. Porém a dificuldade na retirada desses medicamentos em usuários crônicos é um desafio.

As evidencias atuais, apesar de resultados conflitantes, mostram que o uso combinado de técnicas de prescrição (aos profissionais de saúde), esquemas de redução gradual de dose e terapias cognitivos comportamentais podem ter benefício no tratamento a dependência dessa classe de medicamentos.

A retirada em usuários crônicos deve ser gradual, mesmo se baixa dose, em um período de 4 a 8 semanas, recomendando-se redução de 50% da dose a cada semana. A retirada abrupta pode se associar com sintomas de abstinência, crises de ansiedade, pânico, psicose e convulsões.

Concomitante ao desmame dos BZP, desordens psiquiátricas como ansiedade ou depressão devem ser reconhecidas e tratadas, podendo-se utilizar antidepressivos inibidores da recaptação da serotonina.

Nos casos de desordens crônicas do sono recomenda-se medidas de higiene do sono como dormir e acordar nos mesmos horários, evitar agentes estimulantes e alimentos antes de dormir. Em casos refratário, pode-se utilizar antidepressivos como trazodona, dopexina ou mirtazapina, que devido ação anti-histamínica/anticolinérgica, possuem menor potencial de abuso.

Diferentes medicamentos têm sido testados como intervenção farmacológica para retirada/substituição dos BZP, porém não existe tratamento específico. Relatos de bons resultados com melatonina e trazodona são descritos na população de idosos.

O uso da terapia cognitivo-comportamental parecer ser positivo, trabalhos são pouco conclusivos, mas a psicoterapia associada à abstinência supervisionada mostrou benefício no seguimento de 03 meses.

Torna-se importante manter o paciente bem informado dos possíveis prejuízos do uso crônico, oferecer medidas de suporte e reavaliação constante da real necessidade de prescrição dos BZP.

Texto enviado pelo Dr Valkércio Feitosa, especialista em Medicina Interna pelo HC-UFPE; residente de nefrologia pelo HC-FMUSP.

Referencias.
 
1- Soyka, Michael. “Treatment of benzodiazepine dependence.” New England Journal of Medicine 376.12 (2017): 1147-1157.

2-Aguiluz, J., et al. “How to face a patient with benzodiazepine dependence in primary health care? Strategies for withdrawal.” Medwave 18.1 (2018): e7159-e7159.

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Sobre o autor

Eduardo Lapa

Editor-chefe do site Cardiopapers
Especialista em Cardiologia e Ecocardiografia pela SBC

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