Arritmia Marcapasso

Morte súbita: dispositivos cardíacos podem ajudar na investigação?

Escrito por Pedro Veronese

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Um número cada vez maior de indivíduos tem recebido durante a vida o implante de dispositivos cardíacos, tais como: marca-passos, cardiodesfibriladores implantáveis (CDI) e loop recorder. Quando essas pessoas morrem, esses dispositivos ou são sepultados junto com o falecido ou são retirados caso haja cremação. Desta forma, uma série de informações relevantes sobre a morte desta pessoa se perde.

Tentando modificar este cenário, um recente estudo publicado no JACC foi atrás destas importantes informações. Os pesquisadores interrogaram todos os dispositivos cardíacos (DC) de indivíduos falecidos que foram submetidos à necropsia médico-legal para investigação de morte súbita (MS) ou morte inexplicada no Victorian Institute of Forensic Medicine entre os anos de 2005 a 2020. E o que os pesquisadores descobriram?

Um total de 260 pacientes (68,8% homens e com mediana de idade de 72,8 anos) foram submetidos à interrogação do DC (202 marca-passos, 56 CDI e 2 loop recorders) para investigação de MS (n = 162) ou morte inexplicada (n = 98). A mediana do implante foi de 2 anos, com 19 dispositivos recomendando troca eletiva e 5 com esgotamento da bateria. A interrogação do DC foi bem-sucedida em 256 casos (98,5%). Um potencial mau funcionamento do DC foi identificado em 20 casos (7,7%), incluindo o não tratamento de arritmias ventriculares (n = 13). A causa da morte foi definida em 131 pacientes (50,4%). Um total de 72 indivíduos (27,7%) tinham alterações gravadas 30 dias antes da morte, como: taquicardia ventricular não sustentada (n = 26), fibrilação atrial de alta resposta (n = 17), indicação de troca eletiva do gerador ou esgotamento da bateria (n = 22), alarmes de impedância intratorácica, entre outros. Em 6 casos nos quais os pacientes foram encontrados mortos após um longo período, o DC foi capaz de determinar o momento da morte. Em 1 caso o DC foi capaz de ajudar na identificação do paciente.

Os autores concluíram que a interrogação dos DC frequentemente contribuiu com informações relevantes em relação ao seu mau funcionamento, anormalidades pré-morte, mecanismo do óbito, momento da morte ou identificação do paciente. O interrogatório desses DC deveria ser considerado para pacientes selecionados submetidos à autópsia.

Conclusão do Cardiopapers

A MS cardíaca é um evento extremamente dramático e que não tem todos os seus mecanismos, gatilhos etc. compreendidos. A avaliação de forma rotineira desses DC poderia contribuir, e muito, para o melhor entendimento deste fenômeno.

Bibliografia:

  1. https://www.jacc.org/doi/pdf/10.1016/j.jacep.2021.10.011

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Sobre o autor

Pedro Veronese

Médico Especialista em Clínica Médica pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
Cardiologista, Arritmologista e Eletrofisiologista pelo InCor-HCFMUSP.
Médico Especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia - SBC.
Médico Especialista em Arritmia Clínica e Eletrofisiologia pela Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas - SOBRAC.
Médico do Centro de Arritmias Cardíacas do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Doutor em Cardiologia pelo InCor - HCFMUSP.
Preceptor da Residência de Clínica Médica do Hospital Estadual de Sapopemba e Hospital Estadual Vila Alpina.
Médico Chefe de Plantão do Pronto Socorro Central da Santa Casa de São Paulo.
Professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Professor da Faculdade de Medicina UNINOVE.

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