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Morte Súbita durante Triathlon: evento não tão raro como parece

Escrito por Fernando Figuinha

Esta publicação também está disponível em: Português

 

O triathlon é um dos esportes amadores mais vigorosos existentes, pois requer experiência em natação, ciclismo e corrida. Embora o risco de morte súbita já seja conhecido para maratona (aquática e corrida), no triathlon não existia uma investigação sistemática. Em setembro deste ano, foi publicado um estudo correlacionando morte e triathlon no Annals of Internal Medicine, que evidenciou 135 mortes ou paradas cardiorrespiratórias nas provas de triathlon nos Estados Unidos durante período de 30 anos.

A incidência de eventos fatais durante o triathlon foi de 1,74 por 100.000 participantes durante o período de 2006 a 2015, período em que os pesquisadores tinham os dados mais completos. A maioria dos eventos (85%) ocorreu em homens, com o risco aumentando gradualmente a cada década. Taxa de óbitos e parada cardiorrespiratória foram mais de três vezes maiores para homens com 40 anos ou mais, que para os menores de 40 anos (8,25 x 2,49 eventos por 100.000 participantes) e dois terços das mortes ocorreram durante a prova de natação. Dos 135 eventos totais, 120 foram cardíacos (107 mortes súbitas e 13 paradas cardíacas ressuscitadas) e 15 estavam relacionadas a trauma contuso. Todas as mortes relacionadas ao trauma ocorreram durante a prova de ciclismo – 10 envolveram acidentes com veículos a motor e 05 estavam relacionados a quedas ou colisão com objeto estacionário, trilho ou árvore.

Entre os atletas que tiveram eventos cardíacos, dados de autópsia estavam disponíveis para 61 atletas, sendo evidenciado anormalidades cardiovasculares em 27 (44%). Destes, 18 apresentaram doença arterial coronariana (DAC) aterosclerótica significativa, definida como lesão estenótica > 50% no tronco da coronária esquerda ou > 70% em outra artéria coronária maior. Apesar dos achados de DAC na autópsia, ela não assegura que a obstrução coronariana tenha sido a causa imediata do óbito. Fica sempre a dúvida: foi a DAC que causou estas mortes, ou os atletas se afogaram ou tiveram uma arritmia e se afogaram? Outros achados relevantes encontrados incluíram: miocardiopatia hipertrófica, evidenciada em descendentes (3), prolapso da valva mitral (2, sendo um com história de Síndrome de Wolff-Parkinson-White), anomalia coronariana congênita (1), dissecção de aorta ascendente com ruptura (1), dissecção espontânea da artéria renal e miocardiopatia arritmogênica do ventrículo direito (1).

Noventa das 135 mortes e paradas cardíacas ressuscitadas (67%) ocorreram durante a prova de natação, que é a primeira prova do triathlon. Algumas hipóteses foram criadas para explicar este achado, como os altos níveis de adrenalina no início da competição, associados às condições adversas e à proximidade entre os nadadores. Outro problema que pode justificar estes altos números é a logística relacionada à detecção da parada cardiorrespiratória, alcance da vítima, resgate e tratamento de um atleta que tem evento na água. Uma informação interessante é que a distância da prova de natação não pareceu afetar o risco de morte súbita ou parada cardiorrespiratória. Quase metade (49%) dos eventos cardiovasculares ocorreram em provas de curta distância (< 750m), 24% nas intermediárias (750 – 1500m) e 17% nas de longa distância (> 1500m).

Se o screnning nesta população de atletas pode salvar vidas, ainda é uma questão em aberto. Os autores do artigo propõem uma maior educação sobre os sinais e sintomas de doenças cardiovasculares e os possíveis riscos de participar de esportes intensos como o triathlon, sobretudo na população de atletas homens com mais de 40 anos. Por praticar uma atividade física vigorosa, aqueles atletas que não sabem ter doenças cardiovasculares prévias, podem ter a falsa ideia que são saudáveis e não estão sob risco de doenças cardiovasculares e morte súbita durante a prática do triathlon, daí a necessidade de uma avaliação  cardiológica criteriosa antes de estes atletas serem liberados  para esta modalidade esportiva.

Autor: Sérgio Câmara

Médico Residente de Cardiologia do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.

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Sobre o autor

Fernando Figuinha

Especialista em Cardiologia pelo InCor/ FMUSP
Médico cardiologista do Hospital Miguel Soeiro - Unimed Sorocaba.
Presidente - SOCESP Regional Sorocaba.

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