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Todo dia chegam nos pronto-socorros da vida pacientes com infarto e que desenvolvem novas ondas Q. Isso é particularmente comum nos casos de IAM com supra de ST. Mas, será que uma vez que estas ondas Q surgem, não tem mais caminho de volta? Elas sempre continuarão no ECG? Na verdade, não.
Desde a década de 80 sabe-se que boa parte dos casos de infarto que cursam com o surgimento de ondas Q evoluirá com regressão deste padrão eletrocardiográfico. Em artigo de 1989, Marcus et al mostraram que mais da metade dos pacientes com IAM que desenvolveram ondas Q na fase aguda do evento tiveram regressão parcial ou total. Deste achado no seguimento de médio/longo prazo. Os números foram:
- 42% apresentaram regressão total das ondas Q
- 13% tiveram regressão parcial das ondas Q
- 45% dos pacientes continuaram com o mesmo padrão da fase aguda
Quais lições podemos tirar disso?
Primeira DICA: sabe aquele caso de supra que você consegue fazer uma reperfusão precoce mas mesmo assim ainda aparece ondas Q pronunciadas no ECG? Fica tranquilo que isso pode muito bem reverter com o tempo.
Segunda DICA: ondas Q são um marcador muito limitado para dizer se um paciente teve infarto em algum momento da vida. Mesmo infartos mais relevantes que evoluíram com a este achado na fase aguda podem não apresentar mais nenhuma evidência de área inativa no ECG de anos mais tarde.
OBS: lembrar também que assim como pode ter havido infarto prévio e não haver onda Q no ECG, nem toda onda Q significa infarto prévio. Veja este post para saber mais detalhes.
Referência: Bloom et al. REGRESSION OF Q WAVES FOLLOWING ACUTE MYOCARDIAL INFARCTION. American Journal of Epidemiology 1989.