Métodos complementares

Podemos diagnosticar miocardite através da ressonância magnética cardíaca?

Escrito por Renata Ávila

Esta publicação também está disponível em: Português

A miocardite é caracterizada por alterações teciduais regionais do miocárdio provocadas por um processo inflamatório com graus variáveis de necrose miocitária, Por ser capaz de demonstrar este processo, a ressonância magnética cardíaca (RMC) é considerada um dos melhores exames para seu diagnóstico e determinação prognóstica.

A RMC apresenta ótimo desempenho para análise dos parâmetros morfológicos e funcionais do coração, amplamente validada na quantificação dos volumes, massa e função dos ventrículos, sendo considerada por muitos como padrão-ouro para estas análises. No entanto, o maior valor da RMC na avaliação de pacientes com suspeita ou diagnóstico confirmado de miocardite consiste em sua capacidade de proporcionar adequada caracterização tecidual, identificando tanto a lesão inflamatória nas fases aguda e subaguda, quanto as lesões cicatriciais da fase crônica.

As três principais técnicas da RMC utilizadas na caracterização da lesão miocárdica em pacientes com miocardite são:

– as sequências ponderadas em T2

– o realce miocárdico global precoce (T1 pós contraste)

– o realce tardio

Captura de Tela 2016-04-27 às 01.00.35As imagens ponderadas em T2 identificam o edema secundário ao processo inflamatório. Quanto maior for o conteúdo líquido de determinado tecido, maior será sua intensidade de sinal (figura 1). Dessa forma, essa técnica é utilizada para dar o diagnóstico das miocardites na fase aguda. Um outro achado que pode ser encontrado também na fase aguda secundário ao edema, é o espessamento da parede miocárdica, que regride após a resolução do processo inflamatório.

A avaliação do realce miocárdico global precoce é realizada nos primeiros minutos após a injeção do contraste a base de gadolínio (Gd). Na fase aguda da doença ocorre uma hiperemia do tecido miocárdico e extravasamento capilar. Essa alteração fisiopatológica altera a cinética do Gd, tornando sua saída mais lenta nessas regiões acometidas e ocasionando uma maior intensidade de sinal nas sequências ponderadas em T1. Para essa análise é comparada a intensidade de sinal pré e pós contraste da região miocárdica acometida com um músculo esquelético que se encontra dentro do campo de visão da aquisição da imagem (ex: músculo peitoral). Se essa relação (miocárdio/músculo esquelético) for maior que 4x, indica hiperemia e extravasamento capilar causado pela inflamação.

Captura de Tela 2016-04-27 às 01.40.26Por fim, a sequência do realce tardio é adquirida 10 minutos após a injeção do contraste endovenoso com Gd que apresenta distribuição no espaço extracelular miocárdico. Na miocardite pode ocorrer um aumento do espaço extracelular pela combinação de edema, processo inflamatório e morte celular. Dessa forma, ocorre uma maior deposição do Gd nessas áreas, explicando assim o hipersinal (imagem branca) identificado na técnica de realce tardio. Nesta fase do exame o miocárdio normal aparece preto, a cavidade ventricular cinza e a necrose/fibrose branca (figura 2). Na miocardite as áreas de necrose/fibrose podem apresentar um padrão de distribuição multifocal, sem correlação com o território coronário, acometendo o epicárdio e/ou o mesocárdio e preservando, em geral, o subendocárdio (região acometida nas miocardiopatias de etilogia isquêmica). Essas alterações podem aparecer tanto na fase aguda como na fase crônica da doença.

Para definição diagnóstica de miocardite pela RMC são utilizados os critérios de Lake Louise (listados abaixo). A presença de 2 dos 3 critérios resulta numa acurácia de 78%, sensibilidade 67%, especificidade 91%, valor preditivo positivo de 91% e valor preditivo negativo de 69% para o diagnóstico de miocardite pela RMC comprovada por biópsia, tais critérios são:

– presença de edema miocárdico nas imagens ponderadas em T2

– aumento significativo da intensidade de sinal nas imagens com a técnica de realce global precoce

– presença de áreas de necrose e/ou fibrose na sequência de realce tardio

Dessa forma, nos dias atuais, a RMC é recomendada por diretrizes internacionais e pela diretriz de miocardites e pericardites da SBC na avaliação da miocardite.

Referências:

1. Friedrich MG, Sechtem U, Liu P, et al; International Consensus Group on Cardiovascular Magnetic Resonance in Myocarditis.Cardiovascular magnetic resonance in myocarditis: A JACC White Paper. J Am Coll Cardiol. 2009;53(17):1475-87

2. Montera MW, Mesquita ET, Colafranceschi AS, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. I Brazilian guidelines on myocarditis and pericarditis. Arq Bras Cardiol.2013;100(4 Suppl 1):1-36

3. William Dec; How Should We Diagnose Myocarditis, and Is its Recognition Really Clinically Relevant?. J Am Coll Cardiol. 2016;67(15):1812-1814. doi:10.1016/j.jacc.2016.02.036

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Sobre o autor

Renata Ávila

Residência em Cardiologia pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia Título de Especialista em Cardiologia pela SBC
Especialista em Tomografia e Ressonância cardiovascular pelo InCor/FMUSP
Médica do setor de Tomografia e Ressonância Cardíaca da Rede D'Or São Luiz:
- Hospital Esperança
- Hospital Esperança Olinda

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