Métodos complementares Semiologia

Qual achado semiológico não deve ser encontrado neste paciente com valvopatia aórtica?

Escrito por Ricardo Rocha

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Observe a Ressonância Magnética do paciente com valvopatia aórtica:

Resposta abaixo

Resposta: não espera se encontrar neste caso estalido de abertura de mitral e B1 hiperfonética.

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Na imagem de ressonância da questão podemos observar um jato ejetivo de estenose aórtica e um jato regurgitativo de insuficiência aórtica, configurando uma dupla lesão aórtica.

A estenose aórtica apresenta como achado semiológico típico um sopro ejetivo mesossistólico crescendo-decrescendo (em diamante), de maior intensidade no foco aórtico, com irradiação para a fúrcula esternal e carótidas.

A insuficiência aórtica produz um sopro protodiastólico aspirativo de alta frequência, melhor audível com o diafragma do estetoscópio no terceiro espaço intercostal esquerdo (foco aórtico acessório), com o paciente inclinado para frente e em expiração forçada. Inicia-se logo após o componente aórtico da segunda bulha e tende a ser decrescente, refletindo a diminuição progressiva do fluxo regurgitante.

O jato regurgitante aórtico pode ficar direcionado para o folheto anterior da valva mitral, impedindo-o de abrir adequadamente durante a diástole ventricular. Isto pode causar um padrão similar ao da estenose mitral, inclusive com sopro diastólico em ruflar. Esse sopro é chamado de  Austin Flint. A vibração do aparelho mitral normal durante a regurgitação aórtica (seta) causa uma estenose mitral funcional. Um dica para diferenciar o sopro de Austin Flint do sopro da estenose mitral orgânica (geralmente por acometimento reumático) é a ausência de estalido de abertura da mitral e de B1 hiperfonética. Por quê? Basta entender a origem destes 2 achados na estenose mitral reumática. O estalido de abertura ocorre pelo impacto do sangue que se desloca do Ae para o VE ao bater na valva mitral com as cúspides fusionadas. A analogia seria igual à vela de um barco que ao ser atingida por uma forte rajada de vento se “abre” para o lado oposto ao do vento gerando um som característico. Já o estalido de abertura ocorre na estenose mitral reumática porque valva espessada tende a ficar maximamente aberta até o final da diástole uma vez que o sangue tem resistência ao passar por ela. Quando o VE contrai ele encontra a valva bastante aberta e isso causa uma B1 (som resultante do fechamento da mitral + tricúspide) com som aumentado. Seria a analogia de se bater uma porta com força. Quanto mais aberta ela estiver, maior será o som resultante do seu fechamento.

Quando passamos para o sopro de Austin Flint, a mitral é estruturalmente normal. Ela apenas não consegue abrir adequadamente porque o relfuxo aórtico não permite. Desta forma, não ocorre o estalido de abertura da mitral uma vez que a extremidade de suas cúspides não estão fusionadas. também não ocorre B1 hiperfonética uma vez que ao final da diástole a mitral tende a estar pouco aberta devido ao refluxo aórtico. Na analogia, seria como se a porta estivesse semi fechada antes de ser empurrada. O som do fechamento da porta então não será alto como na estenose mitral reumática.

 

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Sobre o autor

Ricardo Rocha

Residência em Cardiologia pela USP - Ribeirao Preto
Título de Especialista em Cardiologia pela SBC
Especialista em Tomografia e Ressonância Cardiovascular pelo InCor/FMUSP
Médico do setor de Imagem Cardiovascular das Clinicas Boghos Boyadjian e Mário Marcio - Fortaleza - CE
Médico do setor de Cardiologia e Imagem Cardiovascular do Hospital Monte Klinikum - Fortaleza - CE

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