Métodos complementares Valvopatias

Qual a diferença entre valvopatia orgânica e funcional?

Escrito por Eduardo Lapa

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A diferença entre uma valvopatia orgânica (ou primária) e funcional (ou secundária) é o mecanismo causador da alteração valvar. O termo é particularmente útil nos casos de regurgitações valvares já que na grande maioria dos casos de estenose valvar o mecanismo é primário.

Na valvopatia orgânica há acometimento direto das cúspides das valvas. Exemplos: prolapso da valva mitral, valvopatia mitral reumática, destruição valvar secundária à endocardite. Já na valvopatia funcional as cúspides das valvas são normais. O problema que leva ao refluxo valvar é decorrente de alterações das câmaras cardíacas. Exemplo: dilatação importante do ventrículo esquerdo faz com que os músculos papilares sejam deslocados para longe da mitral e isto “repuxa” em última instância as cúspides mitrais não deixando que elas se toquem adequadamente durante a contração ventricular.

Resumindo:

  • valvopatia orgânica – as cúspides estão diretamente acometidas.
  • valvopatia funcional – as cúspides estão normais. O A valvopatia é gerada por alterações outras, como a dilatação de câmaras cardíacas.

E como eu faço para saber se uma valvopatia é primária ou secundária? Há dados de história clínica e de exame físico que direcionam para a suspeita de um dos dois tipos de valvopatia mas, em última instância, quem irá lhe dizer isso de forma clara é o ecocardiografista. O ideal é que este sempre deixe definido em seu laudo o mecanismo causador da valvopatia. Ou seja, descrever na parte da valva mitral apenas insuficiência mitral moderada e pronto definitivamente é pouco informativo. Já colocar presença de cúspides mitrais espessadas e redundantes; observa-se prolapso do segmento P2 com presença de refluxo mitral excêntrico direcionado para o septo interatrial, por exemplo, informa nitidamente ao médico assistente que o problema do paciente é um prolapso da cúspide posterior da valva mitral. Neste caso, a valvopatia mitral é orgânica e a etiologia fica claramente definida.

E por que é importante eu, como clínico, saber isso? Simples. Geralmente valvopatias orgânicas importantes que causam sintomas ao paciente são tratadas de forma invasiva através de cirurgia ou de cateterismo. Já as valvopatias funcionais são geralmente tratadas de forma clínica, a não ser que o paciente já vá ser submetido a alguma cirurgia cardíaca. Exemplo: paciente tem insuficiência mitral orgânica que vai ser operada e possui também insuficiência tricúspide funcional devido à dilatação do ventrículo direito. Neste caso, já que o paciente será submetido à cirurgia de troca valvar ou de reparo da valva mitral, aproveita-se para realizar também a plástica tricúspide uma vez que isto melhora o prognóstico do paciente e acrescenta pouca morbidade à cirurgia.

Referência: Zoghbi WA. Recommendations for Noninvasive Evaluation of Native Valvular Regurgitation. JASE. 2017. 

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Sobre o autor

Eduardo Lapa

Editor-chefe do site Cardiopapers
Especialista em Cardiologia e Ecocardiografia pela SBC

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