Hipertensão arterial sistêmica

Hidroclorotiazida aumenta o risco de câncer? O que dizer ao meu paciente?

Escrito por Thiago Midlej

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A incidência do câncer mais comum na população, o câncer de pele não melanoma, está aumentando. A hidroclorotiazida (HCTZ), um dos anti-hipertensivos mais prescritos, é fotossensível e há na literatura alguns trabalhos que relacionam o uso dessa medicação com câncer epidermoide em lábios. A Agência Americana de Pesquisa em Câncer classificou a HCTZ como possível agente causador de câncer em humanos. Com objetivo de estudar a associação entre o uso de HCTZ e o risco de câncer de pele não melanoma, foi publicado recentemente um estudo envolvendo mais de 100.000 pacientes diagnosticados com câncer de pele não melanoma (CPNM) entre os anos 2004 a 2012. No total, foram avaliados 71533 portadores de carninoma basocelular (CBC) e 8629 com carninoma epidermóide (CEC).

Nesse estudo foi evidenciado aumento significativo de câncer de pele não melanoma, particularmente, CEC, associado ao uso de HCTZ. Não houve esse resultado quando outros anti-hipertensivos foram avaliados. Foi observado também, um padrão de dose-resposta tanto para CBC quanto CEC sendo o risco de CEC 7 vezes maior com a dose cumulativa de 200.000mg  ou mais do tiazídico.  Esse resultados sugerem que 1 em cada 11 casos de CEC do estudo pode ser atribuído ao uso do HCTZ.

Os autores concluem que há forte relação dose-reposta entre uso de HCTZ e câncer de pele não melanoma, principalmente, CEC.  Devido ao elevado uso dessa medicação como agente anti-hipertensivo e a morbidade associada ao câncer de pele, a associação casual entre HCTZ e o risco de câncer de pele terá significativa implicação na saúde pública.

Trata-se um estudo caso-controle, com mais de 10000 pacientes. Há limitações importantes do estudo como não avaliação da exposição ultravioleta e o fenótipo de pele, mas é um estudo que chama a atenção ao analisar um dos anti-hipertensivos mais utilizados na prática clínica. A Anvisa divulgou nota que não se deve interromper o uso do diurético sem antes conversar com seu médico. Além disso, os usuários de HCTZ devem ter maior atenção à pele, evitando exposição ao sol e procurando dermatologista quando necessário.

Nota do editor (Eduardo Lapa): este tipo de estudo costuma ganhar bastante atenção da mídia em geral e nestes casos provavelmente o mais importante é ratificar o que NÃO deve ser feito:

  • Nenhum paciente deve suspender o uso da hidroclorotiazida por conta própria sem antes falar com seu médico.

Acidente vascular cerebral isquêmico está entre as principais causas de morte no mundo e hipertensão arterial mal controlada é o seu principal fator de risco. Assim, a suspensão abrupta de hidroclorotiazida sem a substituição por outro agente pode ter riscos ao causar descontrole pressórico. Além disso, como já dito, trata-se de estudo de caso-controle o qual é gerador de hipóteses mas não dá uma resposta científica definitiva à questão levantada.

Hipertensão arterial é um assunto de extrema importância na saúde pública. Por ser uma doença assintomática, as taxas de adesão ao tratamento são baixas o que traz consequências sérias como já dito. É importante que o médico explique isso ao paciente e ratifique a necessidade de tratamento contínuo adequado. Há vários anti-hipertensivos com comprovado benefício na redução do risco cardiovascular. O médico deve individualizar o esquema terapêutico ao seu paciente. O importante é que a pressão esteja controlada usando algum dos medicamentos com benefício cardiovascular comprovado.

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Sobre o autor

Thiago Midlej

Especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia​ e pelo Instituto do Coração da Faculdade de Medicina de São Paulo - I​NCOR​​.
Pós graduando da Unidade de Hipertensão do​​ I​NCOR​
Médico plantonista da Unidade Clínica de Emergência do INCOR
​​Cardiologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

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