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SYNTAX TRIAL
Continuando a discussão sobre as perspectivas terapêuticas para a doença aterosclerótica coronariana (DAC), optamos por abordar mais um estudo clássico: o SYNTAX TRIAL, com os resultados de 3 anos de seguimento (lembrando que os dados serão publicados até 5 anos de seguimento) e o Syntax Score que ajudam na tomada de decisões nesse contexto.
O estudo SYNTAX (The SYNergy between Percutaneous Coronary Intervention and Cardiac Surgery Study) é prospectivo, multicêntrico, randomizado, envolvendo pacientes com DAC triarterial e/ou envolvimento de TCE. Pacientes elegíveis para as duas modalidades de tratamento foram randomizados em razão 1:1 para CABG ou ICP com implante de stent Taxus (n=1800). O objetivo primário do estudo foi avaliar a ocorrência de eventos compostos (morte, IAM, acidente vascular encefálico (AVE) e necessidade de nova revascularização – MACCE), na população geral e entre os subgrupos de pacientes diabéticos (28%), com envolvimento de TCE (34%) e doença triarterial (66%).
Os grupos não diferiram quanto às características demográficas (média de idade de 65 anos, 77% do sexo masculino) ou angiográficas. O número médio de stents utilizados foi de 4,6 ao passo que a média de enxertos cirúrgicos utilizados foi de 2,8 sendo ao menos 1 enxerto arterial utilizado em 97% dos casos e cirurgia sem CEC utilizada em apenas 15%.
O tratamento percutâneo com implante de stent TAXUS não atingiu seu objetivo primário de não inferioridade, principalmente devido a maior taxa de nova revascularização no grupo ICP. É importante ressaltar que se por um lado, a ICP não demonstrou não-inferiodade, por outro, também não aumentou mortalidade e IAM, neste subgrupo de pacientes muito grave. Cabe aqui o questionamento do porquê o desfecho primário ter sido morte + IAM + AVE+ revascularizações, e não somente os 3 primeiros. Por este outro critério, a ICP provavelmente preencheria o critério de não-inferioridade, com todas as ressalvas cabíveis a esta inferência.
Eventos aos 12 meses (%) |
CABG (n=897) |
ICP (n=903) |
P |
Mortalidade | 3,5% | 4,3% | 0,37 |
AVE | 2,2% | 0,6% | 0,003 |
IAM | 3,2% | 4,8% | 0,11 |
Morte/AVE/IAM | 7,7% | 7,6% | 0,98 |
Nova Revascularização | 5,9% | 13,7% | <0,0001 |
MACCE | 12,1% | 17,8% | 0,0015 |
Existem dados favoráveis às duas estratégias: Enquanto a ICP associa-se a menores taxas de AVE, tempo de hospitalização e bons resultados no tratamento isolado de TCE e TCE + lesão de 1 vaso e com SYNTAX Score baixo(0-22), a cirurgia reduz a necessidade de reintervenção, promove revascularização mais completa e mostra-se especialmente benéfica quanto maior o número de vasos envolvidos ou com SYNTAX Score intermediário(23-32) ou alto (> 32). As maiores contribuições deste estudo são: 1- a reintervenção ainda é um fator limitante à ICP; 2- o tratamento percutâneo do TCE não protegido é factível de ser realizado 3- a participação e escolha do clínico são cruciais.
Em 12 de setembro de 2010, no “European Association for Cardio-Thoracic Surgery Meeting” em Genebra, foram apresentados os resultados de 3 anos de seguimento do SYNTAX Trial:
– A taxa de eventos combinados(MACCE) permanece maior no grupo ICP principalmente às custas de nova revascularização.
– O escore MACCE após 3 anos não difere significativamente em pacientes com um baixo SYNTAX Score (0-22); para pacientes com escore intermediário(23-32) ou alto (>32), a taxa de eventos combinados após 3 anos continua aumentada em pacientes tratados por ICP.
– Os resultados após 3 anos sugerem que a CRM permanece o tratamento padrão para pacientes com DAC complexa(intermediário à alto SYNTAX Score); no entanto, ICP pode ser uma alternativa aceitável em pacientes com doença menos complexa .
Syntax Score será discutido nos próximos artigos.
Autor:
Dr. Cristiano Guedes Bezerra
Médico Residente da Cardiologia do Instituto do Coração (InCor) da Faculdade de Medicina da USP.
Residência em Clínica Médica pela Escola Paulista de Medicina – UNIFESP – EPM.