Arritmia ECG

Taquicardia Mediada pelo Marca-passo – Como Diagnosticar?

Escrito por Pedro Veronese

Esta publicação também está disponível em: Português

Existem 3 tipos de taquicardias relacionadas ao marca-passo (MP):

  1. Taquicardia conduzida pelo MP.
  2. Taquicardia mediada pelo MP.
  3. Taquicardia induzida pelo MP.

Hoje vamos abordar as taquicardias mediadas pelo MP. Para que isso ocorra são obrigatórias as seguintes condições:

Período refratário atrial pós-ventricular (PVARP) curto

+  (umas das condições abaixo)

  1. Presença de extrassístole ventricular (EV) com condução retrógrada ventrículo-atrial (VA) ou
  2. Presença de perda de captura atrial e condução retrógrada VA ou
  3. Presença de undersensing atrial, perda de captura atrial e condução retrógrada VA.

Primeiro vamos explicar o conceito de PVARP. PVARP é um intervalo de tempo, contado no canal atrial do MP, em que nenhuma atividade elétrica provoca reset do sistema (período de cegueira). Inicia-se após o batimento ventricular, sentido ou estimulado, por isso é denominado pós-ventricular.

Além das condições acima, a taquicardia mediada pelo MP exige a presença de um MP atrioventricular (bicameral), pois o braço retrógrado da arritmia é feito por via anatômica do próprio paciente (nó AV ou via acessória) e o braço anterógrado da taquicardia é feito obrigatoriamente pelo MP. Portanto, as taquicardias mediadas pelo MP tem sempre QRS largo precedido de espícula de estimulação ventricular do MP.

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Figura 1: Taquicardia mediada pelo MP.

No traçado acima, o terceiro batimento é uma EV (estrela), que apresenta uma onda p retrógrada (seta), portanto o paciente apresenta condução retrógrada ventrículo-atrial. Esta onda p retrógrada é sentida pelo cabo atrial do MP, que deflagra uma estimulação ventricular, que produz nova onda p retrógrada, que é novamente sentida pelo cabo atrial do MP, que deflagra novamente o ventrículo e assim o ciclo se perpetua. Desta forma, o braço anterógrado da taquicardia (condução átrio-ventricular) é sempre feito pelo MP e o braço retrógrado (condução ventrículo-atrial) é sempre feito pelo próprio paciente.

Essa é uma arritmia por reentrada eletrônica, cujo tratamento requer apenas reprogramação do MP com prolongamento do PVARP. Desta forma, a onda p retrógrada cairá num período de cegueira do MP e não deflagará o ventrículo.

Em resumo, quando se faz o diagnóstico desta arritmia não são necessários o uso de antiarrítmicos ou procedimentos de ablação. A simples reprogramação do MP resolve o problema.

Referências:

  1. Hélio Lima de BRITO JR e cols. Taquicardias mediadas por marcapasso de dupla câmara: Atualização. Rev. Bras. Marcapasso e Arritmia, 5(1/2); 03-14,1992.
  2. Martino Martinelli Filho e cols. Atlas de Marca-Passo. A Função através do Eletrocardiograma. 2° edição, Editora Atheneu, 2012.

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Sobre o autor

Pedro Veronese

Médico Especialista em Clínica Médica pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
Cardiologista, Arritmologista e Eletrofisiologista pelo InCor-HCFMUSP.
Médico Especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia - SBC.
Médico Especialista em Arritmia Clínica e Eletrofisiologia pela Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas - SOBRAC.
Médico do Centro de Arritmias Cardíacas do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Doutor em Cardiologia pelo InCor - HCFMUSP.
Preceptor da Residência de Clínica Médica do Hospital Estadual de Sapopemba e Hospital Estadual Vila Alpina.
Médico Chefe de Plantão do Pronto Socorro Central da Santa Casa de São Paulo.
Professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Professor da Faculdade de Medicina UNINOVE.

2 comentários

  • Para evitar a taquicardia mediada, existe a função do PMT.
    O marcapasso sente em seus canais a taquicardia atrial na frequência máxima programada. Para verificar se a onda p sentida é p retrograda ou onda p sinusal, ele varia o intervalo AV e mede o intervalo VA. Se a onda p for retrógrada, o intervalo VA permance o mesmo pois a via acessória mantera a velocidade de condução. Se a onda p for sinusal, o intervalo VA sofrerá variação ( ao diminuir o intervalo AV se observa um aumento do intervalo VA – a frequência é fixa). Qdo através desse algoritmo o marcapasso detecta taquicardia mediada, ele automaticamente aumenta o PVARP, evitando que a p retrograda seja o trigger para o estímulo ventricular. E dessa forma tira o paciente da taquicardia.

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