Prevenção

Será que a vacina para COVID-19 reduz risco de eventos cardiovasculares?

Escrito por Remo Holanda

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A doença pelo coronavírus 2019 (Coronavirus Disease 2019, COVID-19) é um infecção pulmonar com manifestações sistêmicas, incluindo uma propensão a trombose. Com isso, sabe-se que pacientes acometidos por COVID-19 podem sofrer complicações diversas como TVP, embolia pulmonar, infarto e AVC. A vacina para COVID-19 é eficaz em prevenir infecções e também formas graves da doença. Mas será que a vacina para COVID-19 também poderia reduzir o risco de eventos cardiovasculares? (quer saber mais sobre vacina para COVID e miocardite, checa este post: https://d3gjbiomfzjjxw.cloudfront.net/vacina-para-covid-e-miocardite-o-que-voce-precisa-saber/)

Esta pergunta motivou um estudo feito por Kim e cols, publicado no periódico JAMA (Journal of the American Medical Association)1Neste estudo feito na Coréia do Sul, 168 mil pacientes completamente vacinados para COVID-19 foram comparados com 62 mil pacientes não vacinados. A seguir, foram comparadas as taxas de eventos cardiovasculares (infarto ou AVC) relacionados à infecção por COVID-19 em ambos os grupos. Um ajuste por escore de propensão foi utilizado a fim de equilibrar os grupos em relação às características basais (Quer saber mais sobre como interpretar este tipo de artigo e muitos outros? Checa nosso curso Cardiopapers de Medicina Baseada em Evidência: https://lp2.cardiopapers.com.br/mbe-matriculas-perpetuo-vitrine/ ). Foram capturados dados de infecções por COVID-19 ocorridas entre julho de 2020 e dezembro de 2021.

Ao final do seguimento, após os ajustes, o uso da vacina para COVID-19 se associou a uma redução de 58% na ocorrência de eventos cardiovasculares (hazard ratio ajustado [HR] 0,42; IC 95% 0,29-0,62; P < 0,001). Tal redução ocorreu às custas tanto de infarto (HR ajustado 0,48; IC 95% 0,25-0,94) como de AVC (HR ajustado 0,40; IC 95% 0,26-0,63). Além disso, as menores taxas de eventos cardiovasculares com a vacina para COVID-19 foram observadas independente do sexo, idade, e presença de fatores de risco cardiovascular como diabetes e hipertensão.

O que estes resultados então sugerem e como aplicá-los na prática clínica? Em primeiro lugar, algumas limitações do estudo devem ser reconhecidas, como o fato de ser um estudo de coorte retrospectivo, portanto, como limitada capacidade de inferir causalidade. Uma vez que existem diversos fatores que levam o indivíduo a ser vacinado ou não, os dois grupos de pacientes têm características diferentes entre si, de modo que não é possível se afirmar se este efeito é de fato devido à vacina, ou simplesmente devido a outros fatores confundidores devido às diferenças entre os dois grupos. Ainda que tenham sido utilizados métodos estatísticos de ajuste, a inferência causal de efeito de um tratamento precisaria da evidência de um ensaio clínico randomizado, em que os dois grupos (vacinado e não vacinado) tendem a ser mais equilibrados e, portanto, comparáveis. Apesar disso, o estudo traz importantes lições. A mais importante de todas é reforçar que indivíduos com risco de doença cardiovascular devem ser uma população de atenção especial nos programas de imunização contra a COVID-19. Estes indivíduos estão suscetíveis não somente ao risco direto da infecção como também ao risco de eventos cardiovasculares, sendo a vacina para COVID-19 uma possível ferramenta eficaz a fim de mitigar este risco. Vale lembrar que, em se tratando de vacina, existem evidências de que a vacina anti-influenza reduza o risco de eventos cardiovasculares, sendo também amplamente indicada em indivíduos com risco para doença cardiovascular2. Assim, as ferramentas utilizadas para prevenção cardiovascular devem provavelmente envolver a ampla cobertura de imunização contras as doenças respiratórias virais agudas.

 

REFERÊNCIAS

  1. Kim YE, Huh K, Park YJ, Peck KR, Jung J. Association Between Vaccination and Acute Myocardial Infarction and Ischemic Stroke After COVID-19 Infection. JAMA. 2022 Jul 22. doi: 10.1001/jama.2022.12992. Epub ahead of print. (https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2794753)
  2. Udell JA, Zawi R, Bhatt DL, Keshtkar-Jahromi M, Gaughran F, Phrommintikul A,
    Ciszewski A, Vakili H, Hoffman EB, Farkouh ME, et al. Association Between Influenza
    Vaccination and Cardiovascular Outcomes in High-Risk Patients: A Meta-analysis.
    JAMA. 2013;310:1711.

 

 

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