Cardio-oncologia

Vale a pena prescrever reabilitação cardíaca para pacientes com câncer?

Escrito por Eduardo Lapa

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Texto escrito pela Dra Mônica Samuel Ávila. A sobrevida dos pacientes com câncer tem aumentado muito nos últimos anos devido a detecção precoce e sucesso todo tratamento. A sobrevida e qualidade de vida desses pacientes ficam limitadas a outras condições, principalmente de doenças cardiovasculares (DCV). O aumento do risco de DCV nesses pacientes é resultado de fatores diretos relacionados ao tratamento do câncer, como cardiotoxidade relacionada a quimioterapia/radiação, ou fatores indiretos, como descondicionamento e ganho de peso.

Estratégias para diminuir o risco CV nos pacientes com câncer ou sobreviventes ao câncer têm emergido nos últimos anos. A adoção a reabilitação cardíaca (RC) é uma dessas estratégias e foi publicado recentemente um posicionamento da American Heart Association propondo um modelo de reabilitação cardíaca em cardio-oncologia, com objetivo de guiar e incluir a reabilitação como tratamento padrão nos pacientes com câncer e risco cardiovascular aumentado.

Alguns estudos randomizados examinaram a eficácia do exercício físico na população com câncer durante e após a terapia adjuvante. A evidência indica que o exercício físico pode atenuar o declínio da função cardiorrespiratória causada pelo tratamento do câncer. Já é conhecido que uma baixa função cardiorrespiratória está ligada a doenças cardiovasculares, fadiga e mortalidade.

O posicionamento propõe um algoritmo para definir quem são os pacientes que deveriam ser avaliados para RC, descrito abaixo.

O protocolo utilizado da reabilitação deve considerar idade, atividade física habitual e a capacidade funcional do paciente. O posicionamento publicado combinou os componentes tradicionais da RC com as necessidades específicas dos pacientes com câncer e sugeriu os componentes da reabilitação em cardio-oncolgia listados a seguir:

Reabilitação Cardíaca Reabilitação em cardio-oncologia
Avaliação do paciente Revisão das terapias contra o câncer e possíveis efeitos colaterais

Avaliar as condições de saúde que prejudicam o exercício

Avaliar linfedema, ostomia e risco de infecção

Revisão para doença metastática, presença / estágio e prontidão para o exercício vs reabilitação do câncer se metástase óssea

Rever a contagem completa de células sanguíneas

Rastreio de depressão, fadiga e qualidade de vida

Realizar avaliação cardiopulmonar

Aconselhamento nutricional

 

Recomendações nutricionais específicas do câncer

Envolvimento de nutricionistas especializados em câncer

Manejo do peso

 

 

Avaliar problemas do peso – perda de peso, perda de massa muscular magra e ganho de massa gorda- que são específicos do câncer

Adaptar o treinamento aeróbico e de resistência

Administração da Pressão Arterial Revise os agentes quimioterápicos que causam hipertensão

Reavaliar pressão antes de cada treino

Manejo de dislipidemia Definição de prevenção primária de DCV: seguir as diretrizes atuais

Se a terapia com estatina for recomendada, uma nova revisão dos medicamentos é necessária para evitar possíveis interações medicamentosas.

Manejo do Diabetes Mellitus

 

Reconhecer agentes quimioterápicos que pioram controle glicêmico

Encaminhar para centro médico para controle glicêmico

Cessação do tabaco

 

Encaminhamento para o programa de cessação do tabagismo
Psicossocial

 

Desenvolver uma rede de referência de serviço social e profissionais da saúde mental que apóiam o cuidado e tratamento de pacientes com câncer

 

Aconselhamento de atividade física Enfatizar os riscos para a saúde de períodos prolongados de sentar

O objetivo é um aumento da atividade física no estilo de vida habitual e diminuição do tempo sedentário

Exercício físico Treinamento aeróbico e de resistência. Prescrição baseada nas diretrizes da cardiologia do esporte específicas para pacientes com câncer

Treinamento de exercício supervisionado

Incorporação de estratégias de mudança comportamental demonstrado eficaz para pacientes com câncer e sobreviventes

O exercício físico de resistência devem basear-se tanto em 1 repetição máxima (60% –70% 1 repetição máxima de braço e perna) em conjunto com a carga apropriada para manter a forma ideal de 8 a 10 repetições até fadiga muscular para os principais grupos musculares. O exercício aeróbico moderado é recomendado para pacientes com câncer, embora determinando intensidade moderada possa ser um desafio nessa população, dado o uso de β-bloqueadores, a prevalência de disfunção autonômica e o uso de terapias atuais que afetam frequência cardíaca em repouso. Portanto, a formalização do teste cardiopulmonar permite orientação para determinar a intensidade apropriada de exercício aeróbico. Uma determinação de intensidade moderada com base no esforço percebido (classificação da percepção esforço de 4-6 na escala de Borg [variação, 0–10]) e frequência cardíaca máxima (50% –70% da frequência cardíaca máxima) alcançada durante o teste de exercício cardiopulmonar pode orientar recomendações de intensidade moderada.

Mais pesquisas são necessárias para demonstrar uma redução da disfunção cardíaca em pacientes com câncer inscritos nos programas de reabilitação em cardio-oncologia, aumentando assim os encaminhamentos e a probabilidade de cobertura de seguro para pacientes com câncer. Se realizado, a reabilitação em cardio-oncologia tem o potencial de crescer exponencialmente dentro de uma infraestrutura da reabilitação cardíaca existente, fornecendo um programa multimodal amplamente acessível para pacientes com câncer nos que é atualmente não disponível.

Referência

Susan C. Gilchrist, MD, MS, Chair, Ana Barac, MD, PhD, Vice Chair, Philip A. Ades, MD, Catherine M. Alfano, PhD, Barry A. Franklin, PhD, FAHA, Lee W. Jones, PhD, Andre La Gerche, MBBS, PhD, Jennifer A. Ligibel, MD, Gabriel Lopez, MD, Kushal Madan, PhD, FAHA, Kevin C. Oeffinger, MD, Jeannine Salamone, BA, Jessica M. Scott, PhD, Ray W. Squires, PhD, FAHA, Randal J. Thomas, MD, MS, FAHA, Diane J. Treat-Jacobson, PhD, RN, FAHA, Janet S. Wright, MD, On behalf of the American Heart Association Exercise, Cardiac Rehabilitation, and Secondary Prevention Committee of the Council on Clinical Cardiology; Council on Cardiovascular and Stroke Nursing; and Council on Peripheral Vascular Disease Cardio-Oncology Rehabilitation to Manage Cardiovascular Outcomes in Cancer Patients and Survivors: A Scientific Statement From the American Heart Association. Circulation. 2019 Apr 8:CIR0000000000000679.

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Sobre o autor

Eduardo Lapa

Editor-chefe do site Cardiopapers
Especialista em Cardiologia e Ecocardiografia pela SBC

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