Arritmia Emergências

Vale a pena fazer anticoagulação em idoso com fibrilação atrial?

Escrito por Pedro Veronese

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Todos os profissionais médicos que trabalham em serviços de emergência testemunham diariamente uma verdadeira epidemia de idosos com acidente vascular cerebral isquêmico (AVCi). Sabe-se que 20% de todos os AVCi são devidos à fibrilação atrial (FA) e que 70% dos pacientes com FA têm entre 65 a 85 anos. A incidência de FA em idosos acima de 80 anos chega a 10%. Além de importante causa de AVCi e outros eventos tromboembólicos, estudos observacionais sugerem uma correlação entre FA e decréscimo cognitivo devido a eventos microembólicos subclínicos. O AVCi secundário à FA tende a ser mais grave e matar mais do que os eventos secundários a outras causas.

A anticoagulação oral (ACO) é a medida mais importante em pacientes com FA para se reduzir o risco de AVCi. Por outro lado, a prescrição de ACO nessa população de idosos aumenta o risco de eventos hemorrágicos, tanto de eventos menores, quanto da temível hemorragia intracraniana. Há também, o risco de quedas sempre presente nesta população.

Como decidir sobre a anticoagulação?

A decisão sobre a anticoagulação deve ser feita de maneira honesta, responsável, pró-ativa, com a participação do paciente e familiares, utilizando-se os escores CHA2DS2VASc e HASBLED conforme sugerido pela Diretriz Européia de FA, European Heart Journal (2016) 37, 2893–2962. O medo da ACO deve ser substituído pela prevenção.

O ACO mais utilizado no Brasil, neste cenário, é a varfarina, mas lembre-se que os novos anticoagulantes orais (NACO), quando comparados a varfarina, tiveram uma menor taxa de sangramento intracraniano.  Quando se optar pelos NACO, a função renal deve ser monitorada regularmente e as doses ajustadas pelo clearance de creatinina, peso e idade dos pacientes. Quando se optar pela varfarina, as orientações sobre interações da medicação e controle regular do TP são fundamentais. É muito importante reduzir o risco de quedas fazendo ajustes necessários no apartamento do paciente e nos seus calçados. O fortalecimento muscular e a correção de déficits visuais ajudam muito neste cenário.

Resumo:

Concluímos que a ACO é a medida mais importante no tratamento da FA e a principal estratégia para redução de eventos tromboembólicos.

  • Se o seu paciente idoso tem um CHA2DS2VASc ≥ 2 (ou ≥ 3 em mulheres) e um HASBLED 3 considere fortemente a ACO. 
  • Se o CHA2DS2VASc ≥ 2 (ou ≥ 3 em mulheres) e o HASBLED ≥ 3 individualize a conduta.

Como o risco de fenômenos tromboembólicos é maior no idoso em relação ao jovem, o seu benefício com o uso de ACO também é maior. Já existem boas evidências que corroboram a ACO no idoso,Lancet 2007;370:493–503, Circulation 2015;131:157–164, Lancet 2014;383:55–962. Portanto, um real envolvimento de todos na ACO do idoso é fundamental.

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Sobre o autor

Pedro Veronese

Médico Especialista em Clínica Médica pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
Cardiologista, Arritmologista e Eletrofisiologista pelo InCor-HCFMUSP.
Médico Especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia - SBC.
Médico Especialista em Arritmia Clínica e Eletrofisiologia pela Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas - SOBRAC.
Médico do Centro de Arritmias Cardíacas do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Doutor em Cardiologia pelo InCor - HCFMUSP.
Preceptor da Residência de Clínica Médica do Hospital Estadual de Sapopemba e Hospital Estadual Vila Alpina.
Médico Chefe de Plantão do Pronto Socorro Central da Santa Casa de São Paulo.
Professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Professor da Faculdade de Medicina UNINOVE.

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