Arritmia Emergências

Você Conhece a Estratégia “Pill in the Pocket” ou da “Pílula no Bolso” para Fibrilação Atrial?

Escrito por Pedro Veronese

Esta publicação também está disponível em: Português

Em 2004 foi publicado no NEJM a estratégia conhecida como “Pill-in-the-Pocket”para a reversão de fibrilação atrial (FA) de início recente, no ambiente domiciliar, em pacientes com coração estruturalmente normal. Neste artigo foi demonstrado que esses pacientes podiam usar de forma segura uma dose única de propafenona ou flecainida, em seu próprio domicílio, para reversão de FA com uma taxa de sucesso de 94% em até 2h. Porém, a primeira reversão era sempre realizada no ambiente hospitalar para se testar a segurança do método. A conclusão dos autores foi que a estratégia da “Pílula no Bolso” para pacientes com FA recorrente e coração estruturalmente normal era segura, eficaz e reduzia de forma significativa a ida dos pacientes ao hospital.

Na Diretriz Brasileira de FA, o uso da propafenona dose única, no ambiente domiciliar, para reversão de FA também é estimulado para pacientes com FA solitária e sem cardiopatia estrutural.

Atenção: Recomenda-se que a estratégia da “Pílula no Bolso” tenha sido testada previamente no ambiente hospitalar e que seja feita a administração de beta-bloqueador (BB) ou bloqueador de canal de cálcio não–dihidropiridínico (Bloq. Ca) 30 minutos antes da propafenona para a prevenção de flutter atrial de resposta rápida, complicação que pode ocorrer em menos de 1% dos pacientes.

Na Diretriz Europeia recentemente publicada, a estratégia “Pill in the Pocket” é mais uma vez ratificada para pacientes selecionados, com poucos episódios de FA paroxística, através da ingestão de dose única via oral de flecainida (200-300mg) ou propafenona (450-600mg) no ambiente domiciliar para reversão química da FA, após a segurança da estratégia ter sido estabelecida no ambiente hospitalar (classe de recomendação IIa – nível de evidência B).

Concluímos que, para se optar pela estratégia da “Pílula no Bolso” os seguintes passos devem ser cumpridos:

a)      Pacientes sem cardiopatia estrutural ou isquemia devem ser selecionados. Devem sentir o início da arritmia.

b)      Poucos episódios de FA no ano. Até 12 episódios de FA/ano.

c)       A estratégia de dose única de propafenona via oral (450mg para pacientes com < 70Kg ou 600mg para pacientes com 70Kg) deve ser testada pela primeira vez no ambiente hospitalar.

d)      Recomenda-se que o paciente use um comprimido de BB ou Bloq. Ca 30 minutos antes da dose da propafenona para se evitar flutter atrial com alta resposta ventricular.

e)      Se após 2h da ingestão da propafenona não houver a reversão da arritmia o paciente deverá entrar em contato com o seu médico ou dirigir-se ao pronto-socorro. Deverá fazer o mesmo caso perceba piora dos sintomas.

f)       A anticoagulação nesses pacientes deve ser feita de acordo com o CHADSVASC.

Referências:

1.       Paolo Alboni, M.D., Giovanni L. Botto, M.D., Nicola Baldi, M.D., et all. N Engl J Med 2004;351:2384-91.

2.       Zimerman LI, Fenelon G, Martinelli Filho M, Grupi C, Atié J, Lorga Filho A, e cols. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretrizes Brasileiras de Fibrilação Atrial. Arq Bras Cardiol 2009;92(6 supl.1):1-39.

3.       Paulus Kirchhof et all. European Heart Journal (2016) 37, 2893–2962.

 

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Sobre o autor

Pedro Veronese

Médico Especialista em Clínica Médica pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
Cardiologista, Arritmologista e Eletrofisiologista pelo InCor-HCFMUSP.
Médico Especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia - SBC.
Médico Especialista em Arritmia Clínica e Eletrofisiologia pela Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas - SOBRAC.
Médico do Centro de Arritmias Cardíacas do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Doutor em Cardiologia pelo InCor - HCFMUSP.
Preceptor da Residência de Clínica Médica do Hospital Estadual de Sapopemba e Hospital Estadual Vila Alpina.
Médico Chefe de Plantão do Pronto Socorro Central da Santa Casa de São Paulo.
Professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Professor da Faculdade de Medicina UNINOVE.

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