Dicas Pericardiopatias

O que você não pode esquecer sobre como investigar pericardite

Escrito por Giovanna Menin

Esta publicação também está disponível em: Português

A pericardite aguda é caracterizada por uma inflamação do pericárdio de duração de até 6 semanas. Sua etiologia é viral em 85-90% dos casos. Hoje vamos discutir sobre como investigar pericardite, incluindo os principais exames complementares que devem ser solicitados. Lembrando que a principal suspeita para o diagnóstico é o quadro clínico: dor precordial pleurítica, que melhora quando o paciente se inclina para frente e atrito pericárdico na ausculta.

Eletrocardiograma

Considerando que o principal sintoma da pericardite é a dor torácica, o ECG é o primeiro exame a ser feito. As alterações eletrocardiográficas aparecem conforme o estágio em que a pericardite se encontra:

No estágio 1, é frequente a apresentação de um supra “feliz” (concavidade voltada para cima), com infra do segmento PR e ondas T concordantes. No estágio 2, o segmento ST volta ao normal e a onda T pode aparecer achatada. No estágio 3, o segmento ST permanece normal, mas pode ocorrer inversão difusa da onda T. No estágio 4, o ECG tende a não apresentar alterações.

Exames laboratoriais:

Os exames laboratoriais raramente evidenciam leucocitose. Aumento de PCR e VHS estão presentes em 75% dos pacientes e são úteis para diagnóstico e avaliação de resposta de tratamento – mas é importante lembrar que valores baixos não excluem o diagnóstico (especialmente em pacientes que fizeram uso prévio de AINEs e/ou imunocomprometidos).

Em casos de miopericardite, pode haver aumento de marcadores de necrose miocárdica, com aumento de troponina ocorrendo em 27% dos casos.

Atenção: não é necessário solicitar painel viral e BNP/Pró-BNP de rotina (no caso do BNP ou Pró-BNP, solicitar apenas em caso de suspeita de doença restritiva).

Além destes, podem ser solicitados PCR para diagnóstico e seguimento, além de exames para investigação etiológica quando houver sinais sugestivos de etiologia não viral (hormônios tireoidianos, hemoculturas, provas reumatológicas, etc). Em casos de derrame pericárdico volumoso, pode-se também solicitar análise histopatológica e imuno-histoquímica, pesquisa de células oncóticas, avaliação para tuberculose com ADA (especialmente em casos de pacientes imunocomprometidos) e pesquisa viral.

Exames de Imagem:

Radiografia de tórax: É normal na maioria dos casos. Caso haja derrame pericárdico superior a 200ml e/ou miopericardite, pode haver aumento da silhueta cardíaca. Em 25% dos casos de pericardite constritiva está presente calcificação no pericárdio.

Ecocardiograma: É fundamental para quantificar o tamanho do derrame pericárdico e avaliar a presença de sinais de tamponamento. Entretanto, é importante lembrar que a presença de sinais de tamponamento deve ser avaliada em conjunto com a clínica para fechar o diagnóstico. Além disso, através do ecocardiograma é possível avaliar a presença de alterações de contratilidade segmentar que sugiram síndrome coronariana como diagnóstico diferencial e sugerir a natureza do líquido (transudato/exsudato), presença de fibrina (comum quando a etiologia é tuberculosa), cálcio, coágulos, massas, etc.

Em casos em que seja possível e viável realizar um Eco Transesofágico, a presença de espessura > 3mm sugere pericardite constritiva com alta sensibilidade e especificidade.

Ressonância magnética (RM) Cardíaca: É o padrão-ouro como exame de imagem para investigar pericardite aguda. Tem boa sensibilidade para derrame pericárdico e é capaz de avaliar a espessura pericárdica e a presença de comprometimento miocárdico. O realce tardio pericárdico é sugestivo de inflamação. A RM é recomendação IIa para pericardite aguda com apresentação tipo infarto ou associada à quadro viral agudo ou subagudo, pericardite crônica por período superior a 3 meses e pericardite constritiva com ou sem suspeita de calcificação associada.

Tomografia computadorizada : Pode ser solicitada para avaliar, além do espessamento pericárdico, a densidade do derrame pericárdico, caracterizando-o em transudato quando for de baixa densidade e exsudato quando for de alta densidade. Além disso, pode auxiliar no diagnóstico diferencial da etiologia da pericardite quando necessário.

Medicina Nuclear: Auxilia no diagnóstico diferencial de síndrome coronariana aguda e em casos de pericardite associada à doenças sistêmicas (como meningite, artrite reumatoide, etc). Ainda, é utilizada no acompanhamento de pacientes com pericardite induzida por quimio ou radioterapia e em casos em que há suspeita de pericardite mas sem definição de diagnóstico mesmo após Eco e RM.

Com estas dicas, espero que você se sinta seguro em como investigar pericardite aguda. Para mais detalhes, confira também nosso post https://d3gjbiomfzjjxw.cloudfront.net/qual-o-exame-complementar-padrao-ouro-para-o-diagnostico-de-pericardite-aguda/, além do nosso podcast https://d3gjbiomfzjjxw.cloudfront.net/podcast-cardiopapers-como-diferenciar-iam-com-supra-de-pericardite-aguda-e-outras-duvidas-de-ecg/)

Não perca também nosso vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=0tvQxnu9PDo

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