Lípides

Qual o melhor método para dosar Lipoproteína(a)?

Escrito por Humberto Graner

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Lipoproteína(a), uma partícula de lipoproteína de baixa densidade cujas concentrações circulantes são predominantemente geneticamente determinadas, é um fator de risco para eventos cardiovasculares. Uma declaração de consenso recente da Sociedade Europeia de Aterosclerose (EAS) compilou todas as evidências que demonstram uma associação causal contínua entre a concentração de lipoproteína(a) e eventos cardiovasculares, confirmando recomendações de diretrizes clínicas e a inclusão da concentração de lipoproteína(a) nas medidas de risco cardiovascular. Um desafio na implementação clínica deste biomarcador para identificar indivíduos de alto risco é que ele pode ser medido tanto com imunoensaios que relatam massa ou concentração molar, quanto por um sistema de medição de referência que emprega espectrometria de massa. Era desconhecido se as relações entre as concentrações de lipoproteína(a) e eventos cardiovasculares diferem entre os métodos de teste quando medidos em uma única coorte de indivíduos de alto risco.

O ensaio clínico ODYSSEY OUTCOMES comparou o inibidor de PCSK9 alirocumabe com placebo em pacientes com síndrome coronariana aguda recente (SCA). Agora, os autores compararam o risco de eventos cardiovasculares maiores (MACE) no grupo placebo e a redução do risco com alirocumabe de acordo com a concentração de lipoproteína(a) medida por

  • imunoensaio nefelométrico Siemens n-latex (ie-massa, mg/dl),
  • imunoensaio turbidimétrico Roche Tina-quant® (ie-molar, nmol/l), e
  • um teste não comercial baseado em espectrometria de massa (ms, nmol/l).

Os valores de lipoproteína(a) foram transformados em percentis para modelagem comparativa. As taxas de eventos também foram determinadas em quartis de lipoproteína(a) definidos por cada ensaio.

E quais foram os resultados?

Entre 11.970 participantes do ensaio com resultados de todos os 3 testes, as concentrações medianas de lipoproteína(a) foram 21,8 (6,9, 60,0) mg/dl, 45,0 (13,2, 153,8) nmol/l e 42,2 (14,3, 143,1) nmol/l para ie-massa, ie-molar e ms, respectivamente.

A correlação mais forte foi entre ie-molar e ms (r=0,990), com correlações nominalmente mais fracas entre ie-massa e ms (r=0,967) e ie-massa e ie-molar (r=0,972).

As relações da lipoproteína(a) com o risco de MACE no grupo placebo foram quase idênticas com cada teste, com incidências cumulativas estimadas diferindo por ≤0,4% nos percentis de lipoproteína(a), e todas tiveram correlação prognóstica mesmo após ajuste para LDL-C. Os efeitos do tratamento com alirocumabe previstos também foram quase idênticos para cada um dos três testes. Ou seja, a redução absoluta do risco com alirocumabe aumentou com o aumento da lipoproteína(a) medida por cada teste, com tendências lineares significativas entre os quartis.

Conclusão

Na análise atual do estudo ODYSSEY OUTCOMES, os resultados indicaram que, além de serem estreitamente correlacionados, as três técnicas de medição tinham a mesma capacidade prognóstica para eventos cardiovasculares, com concentrações mais altas conferindo maior risco. Importante, essas relações não foram modificadas pelos níveis de LDL-C. Dada a sua relação similar com eventos cardiovasculares, os três testes têm aplicabilidade comparável em termos de estimativa de risco cardiovascular em nível de coorte. Além disso, em termos de escolha de um imunoensaio de concentração de lipoproteína(a) comercialmente disponível para o prognóstico do paciente individual, testes que relatam concentrações em unidades de massa ou molar podem fornecer utilidade clínica similar.

Referências
  1. Kronenberg F, Mora S, Stroes ESG, et al. Lipoprotein(a) in Atherosclerotic Cardiovascular Disease and Aortic Stenosis: A European Atherosclerosis Society Consensus Statement. Eur Heart J. 2022;43(39):3925-3946. https://academic.oup.com/eurheartj/article/43/39/3925/6670882
  2. Szarek M, Reijnders E, Jukema JW, Bhatt DL, Bittner VA, Diaz R, Fazio S, Garon G, Goodman SG, Harrington RA, Ruhaak LR, Schwertfeger M, Tsimikas S, White HD, Steg PG, Cobbaert C, Schwartz GG; ODYSSEY OUTCOMES Investigators. Relating Lipoprotein(a) Concentrations to Cardiovascular Event Risk After Acute Coronary Syndrome: A Comparison of Three Tests. Circulation. 2023 Aug 26. doi: 10.1161/CIRCULATIONAHA.123.066398.

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Sobre o autor

Humberto Graner

Co-Editor do site Cardiopapers
Especialista em Cardiologia e Medicina Intensiva
Professor das Faculdades de Medicina da UFG e UniEvangélica (Goiás)
Doutor em Ciências pelo InCor-HCFMUSP
Fellowship em Coronariopatias Agudas pelo InCor-HCFMUSP
Coordenador do Pronto Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein - Unidade Goiânia (GO)
Pesquisador da ARO (Academic Research Organization) - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo (SP)

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