Lípides Prevenção

Aspirina pode ajudar pacientes com Lipoproteína(a) aumentada?

Escrito por Humberto Graner

Esta publicação também está disponível em: Português

Um novo estudo mostrou que a aspirina pode ter um papel importante na proteção cardiovascular de indivíduos com lipoproteína(a) [ou Lp(a)] muito elevada. Continue para saber mais detalhes!

Lp(a) é o novo alvo terapêutico?

Aproximadamente 20% a 25% da população possui níveis de lipoproteína(a) superiores a 50 mg/dL, um fator crítico para inflamação vascular e formação de placas ateroscleróticas. A capacidade da lipoproteína(a) de contribuir para a trombose, através dos efeitos antifibrinolíticos da apolipoproteína(a) e sua interação com as plaquetas, destaca seu papel complexo no sistema cardiovascular. A presença de lipoproteína(a) aumentada eleva significativamente o risco de doenças cardiovasculares (DCV), um desafio ainda não superado por terapias de prevenção primária, mesmo naqueles sob tratamento com estatinas. Diante da prevalência de níveis elevados de lipoproteína(a) e do consequente risco aumentado de DCV, torna-se imperativo o desenvolvimento de estratégias terapêuticas eficazes para mitigar esse risco, especialmente na prevenção primária.

E o papel da Aspirina?

Embora a aspirina seja reconhecida como fundamental na prevenção secundária de DCV, estudos de prevenção primária têm demonstrado benefícios limitados. Uma meta-análise abrangendo ensaios recentes indica um benefício modesto da aspirina na redução do risco de DCV, o que levou a diretrizes mais restritivas para sua prescrição na prevenção primária.

No entanto, discute-se muito sobre encontrar o “paciente certo” para a aspirina. Ou seja, aqueles que realmente possam se beneficiar nesse cenário. Recentemente, comentamos sobre alguns insights como a aspirina poderia oferecer benefícios para pacientes com Lp(a) elevada.

Qual foi a boa notícia desse novo estudo?

Um novo estudo analisou dados do MESA, um estudo prospectivo, incluindo indivíduos sem DCV no início do acompanhamento. Usuários de aspirina foram pareados a não usuários com base em fatores de risco de DCV, examinando a associação entre uso de aspirina e eventos de doença arterial coronariana (DAC), estratificados por níveis de Lp(a) >50 mg/dL.

Entre os 2183 participantes, aqueles com lipoproteína(a) >50 mg/dL apresentaram maior carga de fatores de risco para DCV, uso mais frequente de aspirina (61,7% versus 55,3%, P = 0,02) e maior taxa de incidência de eventos coronarianos (13,7% versus 8,9%, P<0,01).

A aspirina foi associada a uma redução significativa nos eventos de doença coronariana entre aqueles com lipoproteína(a) elevada (taxa de risco 0,54; IC95% 0,32-0,94; P = 0,03). Aqueles com lipoproteína(a) >50 mg/dL e uso de aspirina tiveram risco de doença coronariana semelhante àqueles com lipoproteína(a) ≤50 mg/dL, independentemente do uso de aspirina.

Na Prática!

Os resultados, baseados em estudo observacional e pareamento por escore de propensão, necessitam confirmação através de estudos com randomização do uso de aspirina ou placebo nesses pacientes. No entanto, essas evidência somam-se a outras que também indicam que o uso de aspirina pode ser associado a menor risco de eventos de DAC em indivíduos com níveis elevados de lipoproteína(a). Esta poderia ser uma nova estratégia terapêutica para esses pacientes.

Contudo, devemos lembrar que a dosagem de Lp(a) não está bem estabelecida como rotineira na nossa prática. Saiba mais aqui!

Referência

Aspirin and Cardiovascular Risk in Individuals With Elevated Lipoprotein(a): The Multi-Ethnic Study of Atherosclerosis. J Am Heart Assoc. 2024 Feb 6;13(3):e033562. doi: 10.1161/JAHA.123.033562. Epub 2024 Jan 31.

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Sobre o autor

Humberto Graner

Co-Editor do site Cardiopapers
Especialista em Cardiologia e Medicina Intensiva
Professor das Faculdades de Medicina da UFG e UniEvangélica (Goiás)
Doutor em Ciências pelo InCor-HCFMUSP
Fellowship em Coronariopatias Agudas pelo InCor-HCFMUSP
Coordenador do Pronto Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein - Unidade Goiânia (GO)
Pesquisador da ARO (Academic Research Organization) - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo (SP)

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