Prevenção

Como Distúrbios do Sono Predizem Risco Cardiovascular em Mulheres

Escrito por Humberto Graner

Esta publicação também está disponível em: Português

As mulheres que atravessam a meia-idade são altamente vulneráveis ​​a distúrbios do sono, ao mesmo tempo em que o risco cardiovascular aumenta nessa fase da vida. Quase uma em cada duas mulheres pode sofrer de apneia do sono, insônia e/ou curta duração do sono. Como os distúrbios do sono são agora reconhecidos como um importantes determinantes de doença cardiovascular (DCV), a deterioração do sono manifestada pelas mulheres de meia-idade pode estar implicada no aumento do risco de surgimento de DCV nesta fase da vida, sobretudo pós-menopausa. No entanto, há escassez de evidências sobre esse assunto.

Thurston e colaboradores investigaram a associação entre alterações de sono e incidência de doença cardiovascular em mulheres de meia-idade a partir do estudo SWAN (Study of Women’s Health Across the Nation). O estudo envolveu uma amostra grande e diversificada de mulheres na pré e perimenopausa que tinham entre 42 e 52 anos de idade e estavam livres de doença cardiovascular no início do seguimento (N = 2.964). Foram analisados dados de até 16 consultas médicas ao longo de mais de duas décadas de acompanhamento, incluindo avaliações repetidas da duração do sono autorrelatada, sintomas de insônia e novos eventos cardiovasculares (por exemplo, infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca, procedimentos de revascularização, AVC, ou morte).

Ao rastrear mudanças nos padrões de sono ao longo do tempo, os autores puderam derivar trajetórias longitudinais do sono, o que possibilitou um modelo preditivo de risco. Os resultados da análise multivariada mostraram que mulheres que relataram sintomas de insônia persistentemente altos tiveram um risco 1,71 vezes maior de doença cardiovascular (IC95% 1,19-2,46) do que aquelas com poucos sintomas relacionados ao sono. Essa associação se manteve mesmo após múltiplos ajustes para variáveis de confusão, incluindo ronco, depressão e sintomas vasomotores.

Por outro lado, as trajetórias de mudança dos sintomas de insônia ao longo do período de acompanhamento de 22 anos, independentemente da direção da mudança, não foram preditivas de ocorrência de DCV. As taxas de risco para doença cardiovascular de início recente naqueles com durações de sono persistentemente curtas também foram significativamente maiores do que as taxas de risco naqueles com duração de sono moderada. No entanto, ajustes adicionais para outros fatores de risco atenuaram a força da relação (HR 1,51; IC95% 0,98–2,33). Vale ressaltar que as mulheres que relataram sintomas de insônia persistentemente elevados e curtas durações de sono apresentaram o maior risco de desenvolver doença cardiovascular (HR 1,75; IC95% 1,03–2,98). Isto é consistente com um crescente corpo de literatura que indica que a insónia com curta duração do sono é o fenótipo de insónia mais prejudicial.

Perspectivas

Este texto destaca uma conexão significativa entre distúrbios do sono, como insônia e curta duração do sono, e o risco cardiovascular aumentado em mulheres de meia-idade. Através de uma análise longitudinal, envolvendo uma amostra ampla e diversificada de mulheres, os autores ilustram como sintomas persistentemente elevados de insônia correlacionam-se com um risco substancialmente maior de eventos cardiovasculares futuros. Este achado é particularmente relevante para a prática clínica e a saúde pública, enfatizando a necessidade de reconhecer e tratar distúrbios do sono não apenas como questões de qualidade de vida, mas também como fatores de risco modificáveis para DCV.

(Veja mais aqui: Por que você precisa perguntar sobre o sono do seu paciente?)

Além disso, o estudo sugere que intervenções focadas na melhoria da qualidade do sono podem oferecer uma nova perspectiva para reduzir o risco de DCV em mulheres de meia-idade, especialmente aquelas passando pela transição menopausal. Este aspecto abre caminhos para futuras pesquisas que investiguem não apenas os mecanismos subjacentes ligando distúrbios do sono à DCV, mas também o potencial impacto terapêutico de intervenções no sono como estratégias de prevenção de DCV, considerando o papel das flutuações hormonais durante a menopausa.

Referências

Thurston RC, Chang Y, Kline CE, Swanson LM, El Khoudary SR, Jackson EA, Derby CA. Trajectories of Sleep Over Midlife and Incident Cardiovascular Disease Events in the Study of Women’s Health Across the Nation. Circulation. 2024 Feb 13;149(7):545-555. doi: 10.1161/CIRCULATIONAHA.123.066491. Epub 2024

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Sobre o autor

Humberto Graner

Co-Editor do site Cardiopapers
Especialista em Cardiologia e Medicina Intensiva
Professor das Faculdades de Medicina da UFG e UniEvangélica (Goiás)
Doutor em Ciências pelo InCor-HCFMUSP
Fellowship em Coronariopatias Agudas pelo InCor-HCFMUSP
Coordenador do Pronto Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein - Unidade Goiânia (GO)
Pesquisador da ARO (Academic Research Organization) - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo (SP)

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