Prevenção

Cigarros Eletrônicos Ajudam a Parar de Fumar?

Escrito por Humberto Graner

Esta publicação também está disponível em: Português

Os cigarros eletrônicos ou vaporizadores (vaping ou “vape”), também conhecidos como sistemas eletrônicos de entrega de nicotina (ENDS), cresceram exponencialmente na última década.  Eles são operados por bateria que aquecem e aerossolizam uma solução líquida, que é inalada pelo usuário. Defensores destes dispositivos afirma que eles poderiam ajudar na cessação do tabagismo. Mas as evidências nesse sentido são bem escassas.

Estudo publicado no NEJM esta semana trouxe esse debate à tona.

O estudo de Auer e colegas foi um ensaio clínico randomizado e controlado realizado na Suíça.

Um total de 1.246 participantes tabagistas de cigarros convencionais foram randomizados para utilizarem ENDS ou não, no processo de cessação de tabagismo. Todos recebiam tratamento padrão para parar de fumar, que incluía aconselhamento comportamental e a opção de terapia de reposição de nicotina.

A principal conclusão do estudo foi que ENDS + tratamento convencional resultaram em maior sucesso na cessação do tabagismo convencional, caracterizado por abstinência confirmada bioquimicamente aos 6 meses, quando comparada apenas com a estratégia padrão isoladamente (28,9% vs 16,3%; RR 1,77; IC 95%, 1,43–2,20).

Houve mais eventos adversos menores no grupo ENDS, embora os eventos adversos graves tenham sido semelhantes entre os dois grupos.

Por outro lado, houve uma taxa mais alta de abstinência completa de nicotina (ou seja, sem cigarros convencionais ou eletrônico, nem adesivos de nicotina) no grupo controle (33,7% vs 20,1%).

Trocando um mal pelo outro?

O estudo é um acréscimo importante ao campo, pois fornece evidências adicionais de que os cigarros eletrônicos ou ENDS podem ser eficazes na cessação do tabagismo convencional.

Por outro lado, pode ainda manter o indivíduo adicto em nicotina, tendo em vista as menores taxas de sucesso de abstinência desta substância.

Restam questões importantes: estaríamos realmente atuando em benefício da saúde do indivíduo, ou apenas substituindo um mal pelo outro. Um posicionamento recente da AHA recomendou que os profissionais de saúde identifiquem o uso destes dispositivos e aconselhem a cessação destes.  Como ainda não temos informações suficientes sobre seus efeitos na saúde a longo prazo, eles apóiam em estudos de curto prazo, muitos dos quais sinalizam para efeitos deletérios agudos cardiovasculares, pulmonares e cerebrovasculares.

Além disso, em fevereiro de 2024, a Sociedade Brasileira de Cardiologia também recomendou a favor da proibição desses dispositivos no Brasil, com base na literatura atual e no impacto a longo prazo – você pode ver o documento na íntegra aqui.

Por isso, a evidência científica deste artigo é importante. Mas deve ser levada em consideração num contexto de risco x benefício.

Referência

Auer R, Schoeni A, Humair JP, Jacot-Sadowski I, Berlin I, Stuber MJ, Haller ML, Tango RC, Frei A, Strassmann A, Bruggmann P, Baty F, Brutsche M, Tal K, Baggio S, Jakob J, Sambiagio N, Hopf NB, Feller M, Rodondi N, Berthet A. Electronic Nicotine-Delivery Systems for Smoking Cessation. N Engl J Med. 2024 Feb 15;390(7):601-610. 

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Sobre o autor

Humberto Graner

Co-Editor do site Cardiopapers
Especialista em Cardiologia e Medicina Intensiva
Professor das Faculdades de Medicina da UFG e UniEvangélica (Goiás)
Doutor em Ciências pelo InCor-HCFMUSP
Fellowship em Coronariopatias Agudas pelo InCor-HCFMUSP
Coordenador do Pronto Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein - Unidade Goiânia (GO)
Pesquisador da ARO (Academic Research Organization) - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo (SP)

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