Arritmia ECG Métodos complementares Prevenção

Inversão de onda T em V1 e V2: normal ou patológico?

ecg com inversão de onda t
Escrito por Eduardo Castro

Esta publicação também está disponível em: Português

Já vimos em outro post que a onda T invertida em V1 é considerada achado normal. Mas, e se virmos inversão de onda T de V1 a V4? Isso pode ser normal? Há estudos mostrando que tal padrão pode ser encontrado em pacientes afrodescendentes sem indicar anormalidade cardíaca. Contudo, em pacientes de raça branca havia uma carência de dados sobre isto. Com este objetivo, foi publicado um estudo no JACC. Vejamos os detalhes.

Entre 2007 e 2013, 14.646 indivíduos de raça branca (32% mulheres) no Reino Unido, com idade entre 16-35 anos, foram avaliados com um questionário de saúde, exame físico e electrocardiograma de 12 derivações. A seleção incluiu 2.958 (20,2%) atletas que exerceram ≥8 horas por semana, e 11.688 (79,8%) não-atletas (≤2 horas de atividade física organizada por semana).

A inversão da onda T anterior foi definida como: inversão da onda T em ≥2 derivações anteriores contíguas (V1-V4). Um ECO TT  foi realizado entre todos os indivíduos com inversão de onda T anterior e entre alguns atletas sem inversão de onda T. Além disso, alguns testes adicionais foram realizados incluindo eletrocardiograma alta resolução (93%), ressonância magnética cardíaca (74%), teste ergométrico (81%) e HOLTER(87%).

Resultados:      A inversão da onda T anterior foi detectada em 338 indivíduos (2,3%);  foi mais comum em mulheres do que em homens (4,3% vs 1,4%, p <0,0001) e entre atletas em comparação com não-atletas (3,5% versus 2,0% p <0,0001). A inversão da onda T foi predominantemente confinada às derivações V1-V2 (77%). Apenas 1,2% das mulheres e 0,2% dos homens apresentaram inversão da onda T além de V2. Ninguém com inversão de onda T anterior preenchia critérios diagnósticos para cardiomiopatia ventricular direita arritmogênica (ARVC) após uma avaliação posterior. Durante um seguimento médio de 23,1 ± 12,2 meses, nenhum dos indivíduos com inversão de onda T anterior apresentou um evento adverso.

Conclusões Os autores concluíram que a inversão da onda T anterior confinada a V1-V2 é uma variante normal ou um fenômeno fisiológico em indivíduos brancos assintomáticos sem história familiar relevante.  A inversão da onda T anterior além da V2 é rara, particularmente nos homens, e pode justificar investigação adicional.

Perspectiva:

O artigo faz uma reafirmação para os critérios de Seattle2 que já reconhecia a inversão de onda T nas derivações precordiais como variante normal, em detrimento da diretriz europeia que recomendava avaliação adicional de todos estes indivíduos. De forma prática considero valioso o dado de se estabelecer que atletas brancos, sem bloqueio de ramo direito completo e possuem inversão de onda T em V1 e V2 são variantes do normal e não necessita realizar eco ou qualquer exame adicional. Chama atenção ainda o fato que a maior ocorrência de inversão em mulheres ocorre principalmente na era pós púbere, o que nos leva à possibilidade de que a mama pode ter interferido em parte nesta maior ocorrência de alteração em atletas do sexo feminino.

  1. Malhotra, A. et al., 2017. Anterior T-Wave Inversion in Young White Athletes and Nonathletes Prevalence and Significance. J Am Coll Cardiol, 69(1), pp.1–9.
  1. Brosnan, M. et al., 2014. The Seattle Criteria increase the specificity of preparticipation ECG screening among elite athletes. British journal of sports medicine, 48(15), pp.1144–50..

 

Banner Atheneu

Banner Atheneu

Banner ECG

Deixe um comentário

Sobre o autor

Eduardo Castro

Eduardo A Castro
Médico da Cardiologia Metropolitano - METROCOR
Especialista em Cardiologia pela SBC, Pos graduação pelo INCOR- FMUSP,
Coordenador da Residência Médica em Cardiologia do Hospital Metropolitano,
Professor de Cardiologia na Multivix.

3 comentários

  • Ola doutor
    Eu sou um jovem de 20 anos africano e atleta
    Nunca tinha feito um eletrocardiograma antes no entanto quando fiz pela primeira vez tive que repetir porque as ondas T tavam invertidas tanto no primeiro como eletrocardiograma. Eu prático futebol desde de criança nunca senti num problema pelo contrário sempre tive disponibilidade física pra isso. Fiz um ecoecocardiograma que nao constatou nenhum problema com o coração.
    Podia explicar um pouco mais sfv?

    • Prezado Henrique!

      A explicação para a maior prevalência de ondas T invertidas na população negra tem origem no desenvolvimento fetal. O normal do coração nesse estágio de vida é ter ondas T invertidas mesmo. Daí, logo após o nascimento, ocorre uma mudança que deixa as ondas T no padrão normal para adultos.

      Porém, na população negra é mais comum que esse padrão pré-nascimento não mude completamente, mantendo ondas T invertidas, principalmente de V1-V3 no ECG. Isso não representa problemas cardíacos nem risco maior à saúde, é uma variação normal.

      Considerando sua idade e hábitos saudáveis, além do ECO sem alterações, não é necessário se preocupar com esse achado ao ECG. Mas na dúvida, procure um profissional pra ter informações específicas da sua saúde!

      Lucas, estudante de medicina

  • Dr bom dia, Fiz um ecocardiograma e saiu normal, porém fui fazer teste ergometrico e deu “onda t invertida em diii e avf”. tenho dores no peito, porém nada de mais. Seria alguma hipertrofia? algo ? lembrando que minha CPK >>> 2500. Porém ECG saiu normal.

Deixe um comentário

Seja parceiro do Cardiopapers. Conheça os pacotes de anúncios e divulgações em nosso MídiaKit.

Anunciar no site