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Não Descuide! Guia Completo sobre os Efeitos Oculares da Amiodarona

Escrito por Humberto Graner

Esta publicação também está disponível em: Português

Amiodarona é uma das medicações mais utilizadas na prática cardiovascular. Apesar de sua eficiência, também é marcada por uma ampla gama de efeitos colaterais. Um de seus efeitos mais negligenciados diz respeito à saúde ocular.

Quais são os efeitos oculares da amiodarona?

A amiodarona pode causar:

  1. Depósito corneano é o mais comum, também conhecida como ceratopatia verticilada. Esses depósitos são geralmente assintomáticos, mas podem causar visão turva ou halos ao redor das luzes. Esses depósitos são reversíveis e tendem a desaparecer após a descontinuação da droga.
  1. Neuropatia óptica: Embora seja raro, o uso de amiodarona pode estar associado a uma forma específica de neuropatia óptica, conhecida como neuropatia óptica isquêmica anterior não arterítica (NOIA-NA). Esse efeito colateral é grave e pode levar à perda de visão, sendo potencialmente irreversível. Os sintomas incluem uma perda súbita de visão em um ou ambos os olhos.
  2. Uveíte: Casos raros de inflamação intraocular, conhecida como uveíte, foram relatados com o uso de amiodarona.
  3. Alterações da retina: Existem relatos raros de alterações retinianas associadas ao uso prolongado de amiodarona.
Qual a frequência desses efeitos colaterais?

A incidência de efeitos colaterais oculares associados ao uso de amiodarona pode variar, mas alguns estudos sugerem que os depósitos corneanos podem ocorrer em até 90% dos pacientes tratados com amiodarona a longo prazo. No entanto, a maioria desses casos é assintomática e só é detectada durante exames oculares de rotina. A neuropatia óptica, um efeito colateral muito mais sério, é consideravelmente menos comum, ocorrendo em aproximadamente 0,5 a 1% dos pacientes.

O risco se relaciona a dose, tempo de uso ou ambos?

A relação entre os efeitos colaterais oculares da amiodarona e a dose ou tempo de uso é complexa:

Existe uma correlação entre a dose cumulativa de amiodarona e o risco de desenvolver efeitos colaterais oculares. Pacientes que recebem doses mais altas da medicação têm maior risco de desenvolver efeitos adversos, incluindo depósitos corneanos e, potencialmente, neuropatia óptica. E como tratamos de “dose cumulativa”, obviamente o risco também aumenta com o tempo de uso da amiodarona.

Por outro lado, fatores individuais, incluindo predisposições genéticas ou condições de saúde preexistentes, podem fazer com que pacientes que utilizam a medicação há pouco tempo e baixas doses, também apresentem alterações oculares.

Quais os principais sintomas visuais que não podemos negligenciar?

Durante uma consulta de um paciente em uso de amiodarona, esteja sempre atento a:

  • Alterações na visão: Isso inclui diminuição da acuidade visual, visão turva ou neblina visual. Estas podem ser manifestações iniciais de depósitos corneanos ou de neuropatia óptica induzida por amiodarona.
  • Perda súbita de visão: Uma perda súbita de visão em um ou ambos os olhos pode ser um sinal de neuropatia óptica isquêmica anterior não arterítica (NOIA-NA), uma condição séria que pode estar associada ao uso de amiodarona.
  • Defeitos no campo visual: Pacientes podem notar áreas de visão perdidas ou escotomas, que são particularmente indicativos de problemas no nervo óptico, como a neuropatia óptica.
  • Fotofobia: Sensibilidade aumentada à luz pode ser um sinal de inflamação ocular, como uveíte, embora seja uma ocorrência rara com amiodarona.
  • Halos ou anéis ao redor das luzes: Esse sintoma pode estar relacionado aos depósitos corneanos, que, embora geralmente assintomáticos, podem afetar a qualidade visual em alguns casos.
Na Prática!

É crucial para médicos que prescrevem amiodarona ter uma comunicação aberta com seus pacientes sobre a importância de relatar qualquer mudança na visão ou outros sintomas oculares imediatamente. Por causa desses riscos, recomenda-se que pacientes em tratamento com amiodarona sejam submetidos a exames oftalmológicos regulares para detecção precoce de possíveis efeitos colaterais oculares. Isso inclui exames de acuidade visual, exame de fundo de olho e, em alguns casos, avaliações mais especializadas para monitorar a saúde ocular durante o tratamento. Alterações na medicação podem ser necessárias se efeitos colaterais graves forem detectados.

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Sobre o autor

Humberto Graner

Co-Editor do site Cardiopapers
Especialista em Cardiologia e Medicina Intensiva
Professor das Faculdades de Medicina da UFG e UniEvangélica (Goiás)
Doutor em Ciências pelo InCor-HCFMUSP
Fellowship em Coronariopatias Agudas pelo InCor-HCFMUSP
Coordenador do Pronto Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein - Unidade Goiânia (GO)
Pesquisador da ARO (Academic Research Organization) - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo (SP)

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