Miscelânia

Como a Poluição do Ar Aumenta o Risco Cardiovascular?

Escrito por Humberto Graner

Esta publicação também está disponível em: Português

Há muitos estudos avaliando a poluição e problemas de saúde; no entanto, é sempre difícil aferir exatamente a exposição à poluição.

Para buscar respostas nesse sentido, um novo estudo usou o banco de dados do Medicare, que possui todos os eventos de saúde para indivíduos com mais de 65 anos nos EUA. Os autores usaram registros de mais de 59 milhões de pessoas, entre 2000 e 2016. Eles também tinham dados sobre matéria particulada fina (PM2,5) no ar em todo o país. Essas são partículas no ar com tamanho de 2,5 micrômetros, pequenas o suficiente para penetrar profundamente nos pulmões e também atravessarem para a corrente sanguínea.

Efetivamente, os autores tinham todas as peças do quebra-cabeça: onde as pessoas viviam, os níveis de PM2,5, e os eventos cardiovasculares que essas pessoas tiveram durante esse período.

Os resultados mostraram um aumento nas taxas de hospitalizações por doenças cardiovasculares com o aumento da exposição ao PM2,5. A quantidade média de exposição nos EUA foi de 9,7 µg/m³ durante o período do estudo. Quando os autores compararam as taxas de hospitalização por DCV com essa exposição média entre 9,0 a 10,0 µg/m³ versus aquelas com exposição proposta pela OMS de < 5 µg/m³, eles descobriram que houve um aumento de 29,0% nas taxas de hospitalização com a exposição mais alta (RR 1,29; IC95% 1,28–1,30). Assim, os autores sugerem que reduzir a exposição ao PM2,5 ao nível estabelecido pela OMS pode ajudar a reduzir as taxas de hospitalização.

Eles também examinaram o efeito retardado. A exposição ao PM2,5 pode causar um aumento agudo na taxa de hospitalização por DCV. No entanto, os autores observaram que os efeitos também duraram pelo menos 3 anos após a exposição ao PM2.5.

Uma possível explicação de por que o PM2,5 pode causar esses problemas é que nosso sistema imunológico vê essas partículas como invasores vivos, como bactérias. Portanto, as células imunes liberam citocinas e outras moléculas para tentar “eliminar” essas partículas. O detalhe é que essas partículas não estão vivas, logo, nada acontece. Como resposta, nossas células imunes liberam ainda mais citocinas. O ciclo vicioso você já entendeu: o sistema imunológico não consegue “eliminar” essas partículas de PM2,5, mas ativam uma resposta inflamatória sustentada. 

Se o PM2,5 estiver no pulmão, haverá inflamação e dano no pulmão. O processo de reparo cria cicatrizes, e isso leva ao desenvolvimento de doença pulmonar obstrutiva crônica. Se o PM2,5 atingir a ciculação, então esta resposta inflamatória certamente irá gerar gerar dano arterial e outras cardiopatias.

Logo, problema chave é que nosso corpo não sabe como se livrar de resíduos como o PM2,5. Enquanto medidas efetiva não são aplicadas para redução da liberação dessas partículas, a OMS recomenda evitar sair ao ar livre quando as contagens de PM2,5 estiverem altas e buscar alternativas de proteção (como máscaras com filtro HEPA).

Referência

Wei Y, Feng Y, Danesh Yazdi M, Yin K, Castro E, Shtein A, Qiu X, Peralta AA, Coull BA, Dominici F, Schwartz JD. Exposure-response associations between chronic exposure to fine particulate matter and risks of hospital admission for major cardiovascular diseases: population based cohort study. BMJ. 2024 Feb 21;384:e076939. doi: 10.1136/bmj-2023-076939. 

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Sobre o autor

Humberto Graner

Co-Editor do site Cardiopapers
Especialista em Cardiologia e Medicina Intensiva
Professor das Faculdades de Medicina da UFG e UniEvangélica (Goiás)
Doutor em Ciências pelo InCor-HCFMUSP
Fellowship em Coronariopatias Agudas pelo InCor-HCFMUSP
Coordenador do Pronto Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein - Unidade Goiânia (GO)
Pesquisador da ARO (Academic Research Organization) - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo (SP)

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