Cardiometabolismo Diabetes

Impacto dos Tratamentos para Diabetes nas Complicações Cardiovasculares

Escrito por Humberto Graner

Esta publicação também está disponível em: Português

As complicações a longo prazo da diabetes mellitus tipo 2, sejam microvasculares ou cardiovasculares, são responsáveis ​​pela maioria das doenças, mortes e custos associados a esta condição. Os ensaios clínicos demonstraram um benefício da diminuição da hiperglicemia nas complicações microvasculares específicas da diabetes. Além disso, outros estudos demonstraram que algumas novas classes de medicamentos hipoglicemiantes podem ter efeitos benéficos em relação à proteção cardiovascular e renal, principalmente naqueles com doenças pré-existentes.

O estudo GRADE, publicado em 2022, incluiu 5.047 participantes com diabetes tipo 2 mal controlado apenas com metformina. Estes foram randomizados para associar à metformina uma das seguintes opções: insulina glargina, glimepirida, liraglutida, ou sitagliptina. Os participantes foram acompanhados para avaliar desfechos microvasculares (como nefropatia e retinopatia) e macrovasculares (eventos cardiovasculares), além de mortalidade. O estudo concluiu que não houve diferenças significativas nos desfechos microvasculares ou na mortalidade entre os grupos, mas destacou diferenças nos resultados cardiovasculares, sugerindo benefícios potenciais de algumas combinações de hipoglicemiantes sobre outras.

Agora uma sub-análise deste estudo explora um pouco mais os efeitos cardiovasculares específicos das combinações de hipoglicemiantes utilizados.

Qual a novidade deste novo estudo?

Os pesquisadores acompanharam 5.047 indivíduos com idade média de 57,2 ± 10,0 anos, duração do diabetes tipo 2 de 4,0 ± 2,7 anos e baixa prevalência basal de doença cardiovascular. O tempo de seguimento foi de aproximadamente 5 anos (mediana). Os resultados pré-especificados incluíram análises do tempo até o primeiro evento para o seguintes desfechos compostos

  • MACE-3: morte CV, infarto do miocárdio e AVC,
  • MACE-4: os mesmos componentes acima + angina instável que requer hospitalização ou revascularização,
  • MACE-5 : os mesmos componentes do MACE-4 + revascularização coronária,
  • MACE-6: os mesmos componentes do MACE-5 + hospitalização por insuficiência cardíaca, além de seus componentes individuais.
Quais foram os resultados?

Não houve diferenças estatisticamente significativas na incidência cumulativa do primeiro MACE-3, MACE-4, MACE-5 ou MACE-6, ou dos seus componentes individuais, por grupo de tratamento.

No entanto, quando comparado com os outros grupos de tratamento combinados, o grupo tratado com liraglutida apresentou um risco significativamente menor de

  • MACE-5 (HR ajustada = 0,70; IC95% 0,54-0,91; p=0,021),
  • MACE-6 (HR = 0,70; IC95% 0,55-0,90; p=0,021), e
  • hospitalização por insuficiência cardíaca (HR = 0,49; IC95% 0,28-0,86; p=0,022).

Em comparação com o grupo da liraglutida, taxas significativamente mais altas de eventos MACE-6 ocorreram nos grupos tratados com glimepirida (HR = 1,61; IC95% 1,13-2,29) ou sitagliptina (HR = 1,75; IC95% 1,24-2,48).

Os autores concluem que o tratamento com liraglutida (um agonista da GLP-1) pode reduzir o risco de eventos cardiovasculares em pacientes com risco relativamente baixo em comparação com outros medicamentos hipoglicemiantes comumente usados.

Perspectivas

Este estudo comparou a eficácia de quatro medicamentos (sitagliptina, glimepirida, insulina glargina e liraglutida) adicionados à metformina em pacientes com diabetes tipo 2, em grande parte sem doença cardiovascular. Embora as taxas de eventos cardiovasculares não tenham diferido por grupo de tratamento individual; quando comparado com os outros grupos combinados, o grupo tratado com liraglutida apresentou um risco significativamente menor de um desfecho CV composto. Globalmente, estes dados sugerem que a liraglutida pode reduzir o risco de eventos cardiovasculares em pacientes com diabetes considerados de risco relativamente baixo, em comparação com o tratamento com outros medicamentos hipoglicemiantes habitualmente utilizados.

Referências

GRADE Study Research Group; Nathan DM, Lachin JM, Bebu I, et al. Glycemia Reduction in Type 2 Diabetes – Microvascular and Cardiovascular Outcomes. N Engl J Med. 2022 Sep 22;387(12):1075-1088. doi: 10.1056/NEJMoa2200436.

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Sobre o autor

Humberto Graner

Co-Editor do site Cardiopapers
Especialista em Cardiologia e Medicina Intensiva
Professor das Faculdades de Medicina da UFG e UniEvangélica (Goiás)
Doutor em Ciências pelo InCor-HCFMUSP
Fellowship em Coronariopatias Agudas pelo InCor-HCFMUSP
Coordenador do Pronto Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein - Unidade Goiânia (GO)
Pesquisador da ARO (Academic Research Organization) - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo (SP)

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