Prevenção

Por que você precisa perguntar sobre o sono do seu paciente?

Escrito por Humberto Graner

Esta publicação também está disponível em: Português

Existe uma relação bem estabelecida entre sono de má qualidade e doenças cardiovasculares (DCV). Vários estudos têm demonstrado que padrões de sono anormais, como curta duração do sono, insônia, apneia obstrutiva do sono e distúrbios do ritmo circadiano, estão associados a um aumento no risco de condições como hipertensão, aterosclerose, infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca e acidente vascular cerebral.

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Os mecanismos subjacentes incluem, mas não se limitam a, alterações no sistema nervoso autônomo, aumento da inflamação, disfunção endotelial, desequilíbrio metabólico e alterações hormonais. Todos esses fatores podem contribuir para o desenvolvimento e progressão das DCV.

Quais são os padrões de sono?

Os padrões de sono são comportamentos ou características gerais relacionados ao sono de uma pessoa, que incluem:

  1. Duração do Sono: O número total de horas que uma pessoa dorme durante um período de 24 horas.
  2. Continuidade do Sono: Refere-se a um sono sem interrupções, profundo e restaurador, sem frequentes despertares ou períodos de vigília.
  3. Latência do Sono: O tempo que leva para passar da vigília ao sono.
  4. Eficiência do Sono: A proporção de tempo na cama realmente gasto dormindo. Uma eficiência maior que 85% é considerada boa.
  5. Cronotipo: Preferências individuais para dormir em certos horários, categorizadas como “matutino” (prefere acordar e ir para a cama cedo), “vespertino” (prefere acordar e ir para a cama tarde) ou “intermediário” (entre matutino e vespertino).
  6. Apneia do Sono: Interrupções na respiração durante o sono, comumente associadas a roncos e sono de má qualidade.
  7. Insônia: Dificuldade em adormecer ou permanecer dormindo e/ou acordar muito cedo e não conseguir voltar a dormir.
  8. Sonolência Diurna Excessiva: Sentir-se excepcionalmente sonolento durante o dia, o que pode indicar que a qualidade ou a quantidade do sono noturno é insuficiente.
  9. Distúrbios do Ritmo Circadiano: Problemas com o relógio interno do corpo, que pode levar a distúrbios como o jet lag ou o trabalho por turnos.
E o que estes padrões de sono têm a ver com doenças cardiovasculares?

Um estudo robusto, combinando dados de duas pesquisas prospectivas, a Paris Prospective Study III e o estudo CoLaus|PsyCoLaus, analisou o impacto de cinco padrões de sono na incidência de doenças cardiovasculares.

Avaliando características como cronotipo precoce, duração do sono de 7-8 horas por dia, ausência de insônia e apneia do sono, e falta de sonolência diurna excessiva, os pesquisadores desenvolveram um índice de qualidade de sono (Healthy Sleep Score – HSS) para quantificar os hábitos de sono dos participantes em dois momentos distintos: no início do estudo e em um acompanhamento posterior.

Os resultados, extraídos de uma amostra de 11.347 participantes sem DCV, com idades entre 53 e 64 anos (44,6% mulheres), revelaram que, ao longo de uma mediana de seguimento de quase 9 anos, ocorreram 499 primeiros eventos cardiovasculares adversos, incluindo 339 casos de doença coronariana (CHD) e 175 episódios de AVC.

A análise multivariada de Cox indicou que o risco de DCV diminuiu 18% por cada ponto adicional no HSS. Posteriormente, após uma mediana de acompanhamento de 6 anos a partir do segundo seguimento, 262 primeiros eventos de DCV foram registrados. Ajustando-se para o HSS inicial e outros fatores, a pesquisa encontrou uma redução de 16% no risco de DCV por cada unidade adicional no HSS de seguimento ao longo de 2 a 5 anos.

Implicações Clínicas

Estes achados ressaltam a relevância de incorporar avaliações de padrões de sono como parte dos esforços de estratificação de risco compreensivo. O HSS demonstra ser uma ferramenta clínica promissora para medir o risco de doenças cardiovasculares associadas ao sono. Assim, um HSS mais alto e sua melhoria ao longo do tempo estão ligados a um menor risco de doença arterial coronária e AVC, sustentando a ideia de que estratégias de prevenção em cardiologia devem incluir considerações relacionadas ao sono.

Diante desses dados, muitos profissionais de saúde, incluindo cardiologistas, agora consideram avaliações de sono como parte integrante da avaliação do risco de seus pacientes e recomendam estratégias para melhorar a qualidade do sono como parte da gestão global de prevenção de doenças cardiovasculares.

Referência

Nambiema et al. Healthy sleep score changes and incident cardiovascular disease in European prospective community-based cohorts, European Heart Journal, 2023;, ehad657, https://doi.org/10.1093/eurheartj/ehad657

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Sobre o autor

Humberto Graner

Co-Editor do site Cardiopapers
Especialista em Cardiologia e Medicina Intensiva
Professor das Faculdades de Medicina da UFG e UniEvangélica (Goiás)
Doutor em Ciências pelo InCor-HCFMUSP
Fellowship em Coronariopatias Agudas pelo InCor-HCFMUSP
Coordenador do Pronto Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein - Unidade Goiânia (GO)
Pesquisador da ARO (Academic Research Organization) - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo (SP)

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