Coronariopatia Lípides

Inibidores da PCSK9 também são úteis pós-Infarto

Escrito por Humberto Graner

Esta publicação também está disponível em: Português

Após um infarto do miocárdio (IM), pacientes enfrentam altas taxas de complicações, principalmente pela progressão da doença em vasos não associados ao infarto inicial.  Pesquisas anteriores já indicaram que o tratamento para reduzir o colesterol pode parar ou até reverter a progressão da doença aterosclerótica nestas artérias, dependendo dos níveis de LDL atingidos.

Falamos recentemente sobre o poder dos inibidores de PCSK9 em reduzir placa aterosclerótica quando associados ao tratamento com estatinas. Muitos perguntaram se esse efeito era exclusivo de pacientes com hipercolesterolemia familiar. Parece que não!

O estudo controlado e randomizado PACMAN-AMI revelou que adicionar alirocumabe, um inibidor de PCSK9, à terapia intensiva com estatinas diminui significativamente o volume da placa aterosclerótica, reduz o conteúdo lipídico das placas e aumenta a espessura da capa fibrosa destas placas. Agora, uma nova análise mostra como pode ser o impacto disso.

Como foi o estudo?

Recentemente publicado no JACC e apresentado no Congresso ESC 2023, uma nova análise secundária do estudo PACMAN-AMI investigou as características e os resultados clínicos de pacientes que tiveram simultaneamente redução do volume na placa aterosclerótica, diminuição do componente lipídico e aumento da espessura da capa fibrosa (chamada de “regressão tripla” no estudo) após 1 ano de tratamento intensivo com alirocumabe + estatina. Dos 265 pacientes (totalizando 537  artérias não relacionadas ao infarto) que passaram por imagens intracoronárias multimodais sequenciais, no início e após 52 semanas, os pesquisadores descobriram que:

1) a regressão tripla ocorreu em um terço dos pacientes com IM tratados com terapia intensiva para baixar o colesterol,

2) o tratamento com alirocumabe foi o principal preditor independente de regressão tripla, juntamente com maior acúmulo lipídico inicial, e

3) pacientes com regressão tripla tiveram menor risco de eventos cardiovasculares adversos – principalmente revascularização induzida por isquemia – no acompanhamento de 1 ano. A regressão tripla aconteceu em 41% dos pacientes tratados com alirocumabe/estatina e 23% com placebo/estatina.

Comentários

Este estudo preenche uma lacuna sobre as características dos pacientes com IM que têm uma “resposta completa” à terapia intensiva com estatinas e iPCSK9, mostrando benefícios claros para a saúde vascular. Isso ficou evidente em taxas menores de futuros eventos cardiovasculares.

Tais resultados não foram determinados pelas características clínicas iniciais, mas pela presença de placas ricas em lipídios e tratamento com terapia intensiva para baixar o colesterol (incluindo iPCSK9). É notável que pacientes com regressão tripla atingiram níveis muito baixos de LDL no acompanhamento em comparação aos sem regressão tripla (nível médio de LDL =  38 vs 55 mg/dL). A principal lição é que a regressão tripla em pacientes com infarto do miocárdio é viável ao alcançar níveis extremamente baixos de LDL, e pacientes com aterosclerose e alta carga lipídica podem se beneficiar mais desta terapia combinada.

Contudo, mais estudos são necessários para testar esta hipótese em um ensaio clínico randomizado dedicado.

Referência

Biccirè FG, Häner J, Losdat S, et al. Concomitant Coronary Atheroma Regression and Stabilization in Response to Lipid-Lowering Therapy. J Am Coll Cardiol. 2023 Oct 31;82(18):1737-1747. doi: 10.1016/j.jacc.2023.08.019. 

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Sobre o autor

Humberto Graner

Co-Editor do site Cardiopapers
Especialista em Cardiologia e Medicina Intensiva
Professor das Faculdades de Medicina da UFG e UniEvangélica (Goiás)
Doutor em Ciências pelo InCor-HCFMUSP
Fellowship em Coronariopatias Agudas pelo InCor-HCFMUSP
Coordenador do Pronto Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein - Unidade Goiânia (GO)
Pesquisador da ARO (Academic Research Organization) - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo (SP)

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