Atividade Física Emergências

Parada Cardiorrespiratória na NFL: você já ouviu falar em commotio cordis?

Escrito por Silvio Póvoa

Esta publicação também está disponível em: Português

Na noite de 02/01/2023 o mundo foi assustado com um caso de parada cardiorrespiratória na NFL, Liga americana de Futebol Americano. O atleta Damar Hamlin, após trauma torácico, evoluiu para parada cardiorrespiratória, com necessidade de 9min de reanimação. Um DEA (desfibrilador externo automático) foi utilizado. O atleta no momento recebe cuidados intensivos em ambiente hospitalar. Mas o que será que aconteceu ? Com a visualização da imagem notamos que houve trauma em região precordial e evolução para parada cardiorrespiratória, isso torna muito provável a ocorrência de uma entidade chamada Commotio Cordis.

 O que é isso ?

O termo Commotio Cordis vem do latim, significando agitação do coração. Define-se como morte súbita secundária a trauma não penetrante com impacto precordial. Trata-se de um evento arrítmico, sem causar , a priori, dano tecidual cardíaco. Pacientes que evoluem pra essa condição na maioria dos casos não são previamente cardiopatas.

Os casos acontecem na maioria dos casos em

  • Jovens
  • Sexo masculino
  • Durante atividade física

A maioria dos casos se associa a traumas por estruturas como bolas, discos ou até mesmo trauma físico contra outro atleta , como no caso do atleta da NFL.

Mas como isso acontece1,2?

Durante a elevação da onda T, no eletrocardiograma, há um momento de maior susceptibilidade arrítmica, com duração de 15-30ms (20-40ms em algumas literaturas). Traumas mecânicos em região precordial, nesse momento, podem causar degeneração para fibrilação ventricular . Acredita-se que isso se dê por ativação de canais de potássio ATP-sensíveis. Aparentemente objetos mais duros se associam com maior risco de commotio cordis.

Como manejar3 ?

Inicialmente o manejo é de uma parada cardiorrespiratória, conforme protocolo do ACLS. Uma vez restabelecida a circulação espontânea, a ideia é excluir a presença de cardiopatia estrutural. Doenças como Miocardiopatia Hipertrófica, Displasia arritmogênica do Ventrículo Direito, Doença coronariana, Síndrome do QT Longo, Síndrome de Brugada e Taquicardia Ventricular Catecolaminérgica devem ser excluídas. (Confira também em https://d3gjbiomfzjjxw.cloudfront.net/morte-subita-em-atletas-mais-um-estudo-avaliando-a-etiologia/https://d3gjbiomfzjjxw.cloudfront.net/eletrocardiograma-no-atleta-o-que-voce-precisa-saber/).

Um diagnóstico diferencial importante é o Contusion Cordis, que se trata se lesão cardíaca traumática. Nesse caso, ruptura de parede ventricular ou valvopatias agudas podem acontecer.

Como prevenir ?

A melhor forma de prevenção seria evitar traumas torácicos. Entretanto, por vezes, em esportes como beisebol, futebol americano e boxe isso seria difícil. Então, a melhor estratégica se resume a

  1. Reconhecimento precoce de uma parada cardiorrespiratória
  2. Convocar ajuda quando reconhecida
  3. Ter um DEA de fácil acesso
  4. Treinamento das pessoas que se envolvem em ambientes esportivos no Basic Life Support (BLS)

REFERÊNCIAS 

  1. Maron BJ, Gohman TE, Kyle SB, et al. Clinical profile and spectrum of commotio cordis. JAMA 2002; 287:1142.
  2. Maron BJ, Estes NA 3rd. Commotio cordis. N Engl J Med. 2010 Mar 11;362(10):917-27.  https://www.nejm.org/doi/10.1056/NEJMra0910111?url_ver=Z39.88-2003&rfr_id=ori:rid:crossref.org&rfr_dat=cr_pub%20%200pubmed
  3. Maron BJ, Doerer JJ, Haas TS, et al. Historical observation on commotio cordis. Heart Rhythm 2006; 3:605

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Silvio Póvoa

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