Cardiometabolismo Diabetes

Confira os Benefícios da Combinação de Inibidores SGLT-2 e Agonistas GLP-1

Escrito por Humberto Graner

Esta publicação também está disponível em: Português

Os inibidores SGLT2 são importantes na cardiologia moderna, principalmente devido à sua capacidade de reduzir o risco de eventos cardiovasculares adversos maiores e morte em pacientes com diabetes mellitus tipo 2. Além disso, esses medicamentos têm demonstrado benefícios na redução da insuficiência cardíaca e na proteção renal em estudos de grande escala. Na mesma linha, os agonistas do receptor de GLP-1 são reconhecidos por seus efeitos benéficos na redução do peso, controle glicêmico e, mais recentemente, por reduzir eventos cardiovasculares adversos maiores em pacientes com doença cardiovascular e excesso de peso.

Mas, como funcionaria a combinação de iSGLT2 e arGLP-1?

Como ainda não temos um ensaio clínico randomizado para avaliar se a combinação de arGLP1 e iSGLT2 poderia oferecer benefícios adicionais em termos de redução de eventos cardiovasculares e renais graves em comparação com o uso de cada classe de medicamento isoladamente.

Enquanto isso ainda não acontece, foi realizado um estudo de coorte de base populacional utilizando um design de prevalência de novos usuários, emulando um ensaio clínico. Foram incluídos pacientes que iniciaram agonistas do receptor de GLP-1 e adicionaram iSGLT2, e vice-versa, com seguimento até março de 2021.

O que é design de prevalência de novos usuários (Prevalent new-user design)?

Este é um método específico utilizado dentro de estudos de coorte que foca em participantes que são novos usuários de uma intervenção ou tratamento no início do estudo. Ao contrário de incluir pessoas que já podem estar usando o tratamento por algum tempo, este design seleciona aqueles que começam a terapia durante o período de recrutamento do estudo. Isso permite uma avaliação mais clara da relação temporal entre a introdução do tratamento e os resultados observados. Adicionalmente, ele tenta reduzir a confusão causada por variações na duração do tratamento entre os participantes.

Foram utilizados uma grande rede de dados do Reino Unido, por meio da qual foram montadas duas coortes de novos usuários prevalentes entre janeiro de 2013 e dezembro de 2020, com acompanhamento até o final de março de 2021. A primeira coorte incluiu 6.696 pacientes que iniciaram com agonistas do receptor de GLP-1 e adicionaram inibidores de SGLT-2, e a segunda incluiu 8.942 pacientes que iniciaram com inibidores de SGLT-2 e adicionaram agonistas do receptor de GLP-1. Usuários da combinação foram pareados, em uma proporção de 1:1, com pacientes que foram prescritos o mesmo medicamento inicial, duração do medicamento inicial, e escore de propensão condicional ao tempo.

Quais foram os Principais resultados?

Comparados aos agonistas dos receptores da GLP-1:

  • Eventos Cardiovasculares Adversos Maiores: A combinação de inibidores de SGLT-2 e agonistas do receptor de GLP-1 foi associada a uma redução de 30% no risco desses eventos, com uma taxa de 7,0 versus 10,3 eventos por 1000 pessoas-ano. A razão de risco (HR) foi de 0,70, com IC 95% de 0,49 a 0,99.
  • Eventos Renais Graves: Houve uma redução de 57% no risco, com taxas de 2,0 versus 4,6 eventos por 1000 pessoas-ano. O HR foi de 0,43, com um IC 95% de 0,23 a 0,80.

Por outro lado, comparados aos inibidores da SGLT-2:

  • Eventos Cardiovasculares Adversos Maiores: A combinação foi associada a uma redução de 29% no risco desses eventos, com uma taxa de 7,6 versus 10,7 eventos por 1000 pessoas-ano. O HR foi de 0,71, com um IC 95% de 0,52 a 0,98.
  • Eventos Renais Graves: Neste caso, a análise mostrou um IC 95% muito amplo, indicando menos certeza nos resultados. As taxas foram de 1,4 versus 2,0 eventos por 1000 pessoas-ano, com um HR de 0,67, mas um IC 95% de 0,32 a 1,41.
Perspectivas

Os resultados sugerem um benefício potencial significativo da combinação dessas duas classes de medicamentos na prevenção de eventos cardiovasculares e renais em pacientes com diabetes tipo 2. Estudos adicionais, incluindo ensaios clínicos randomizados, são necessários para confirmar esses achados e explorar o potencial terapêutico completo da combinação.

São limitações do estudo a natureza observacional do mesmo. Além disso, a exposição às medicações foram baseadas em informações de banco de dados de prescrição e dispensação, que podem não refletir a adesão.

Take home messages:
  • A combinação de arGLP1 e iSGLT2 pode oferecer proteção adicional contra eventos cardiovasculares e renais em pacientes com diabetes tipo 2, e pode vir a ser uma estratégia eficaz na redução da morbidade e mortalidade associada ao diabetes tipo 2.
  • São necessários mais estudos para validar esses resultados e potencialmente recomendar mudanças nas diretrizes de tratamento.
Referência

Simms-Williams N, Treves N, Yin H, Lu S, Yu O, Pradhan R, Renoux C, Suissa S, Azoulay L. Effect of combination treatment with glucagon-like peptide-1 receptor agonists and sodium-glucose cotransporter-2 inhibitors on incidence of cardiovascular and serious renal events: population based cohort study. BMJ. 2024 Apr 25;385:e078242. doi: 10.1136/bmj-2023-078242.

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Sobre o autor

Humberto Graner

Co-Editor do site Cardiopapers
Especialista em Cardiologia e Medicina Intensiva
Professor das Faculdades de Medicina da UFG e UniEvangélica (Goiás)
Doutor em Ciências pelo InCor-HCFMUSP
Fellowship em Coronariopatias Agudas pelo InCor-HCFMUSP
Coordenador do Pronto Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein - Unidade Goiânia (GO)
Pesquisador da ARO (Academic Research Organization) - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo (SP)

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